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terça-feira, 4 de maio de 2010

O forrobodó das Jandaíras

Meliponário UrbanoTem gente que estuda e pesquisa, tem gente que escreve com facilidade. Entre os meliponicultores tem alguns que reúnem essas qualidades. Quando isso acontece, é muito gostoso ler os seus artigos. Vou transcrever aqui o último artigo do Kalhil, do Meliponário do Sertão. Um Meliponicultor com M maíusculo, Pesquisador e Estudioso das nossas abelhas nativas, além disso escreve de uma forma que torna a leitura de seus artigos muito agradável. 

Aí está um artigo dele:

O Forrobodó das Jandaíras!!!

Todo ano é assim, chegado o período de inverno algo diferente começa acontecer com as minhas colônias de Jandaíras. Sinceramente, nunca dei muita bola para esse comportamento pois sempre achei que fosse apenas algum destempero provocado pelo excesso de chuvas ou mesmo alguma irritação provocada pelo grande volume de manejo por nós do meliponário em quase todas as caixas, tanto para colher mel como para desdobrar as colônias.



Acontece que todo mês de maio as abelhas simplesmente escolhem algum lugar no meliponário para fazerem aquilo que o Monsenhor Humberto Brumeng passou a chamar de o "Forrobodó das Jandaíras". É uma aglomerado de abelhas em lugares geralmente sombreados onde se pode perceber todo tipo de gente alada nesses encontros.
É realmente uma grande muvuca, chega gente de todo lugar com as mais variadas intenções, fazendo uma comparação com um tradicional festa de forró, podemos dizer que essa festa tem um motivo de  comemoração aparente, estamos diante de uma enxameação.
Na verdade, não é bem uma enxameação, mas sim pontos de fecundação. Já pude constatar que boa parte das abelhas que estão nesses lugares são machos, não é a maioria, mas a presença desses rapazes nessa região denuncia que alguma coisa os atrai para esses lugares. Para descobrir o que realmente os atraía passei esses últimos 12 dias praticamente com olhos vidrados nesse gente farrista. 
Para estimular resolvi posicionar uma pequena caixa no intuito de provocar ainda mais o alvoroço. E parece que deu certo, o que era apenas um pequeno baile de 15 anos se tornou uma grande vaqueijada.
Para explicar o que vi e o que vejo, nada melhor que contar uma paródia a respeito desse povo de asas que tanto gosto.
"Há gente servindo bebida como se fossem as garçonetes da festa, bem como um pessoal que chega carregado com muito pólen, o curioso é que antes da caixa elas simplesmente serviam aos participantes do evento, agora passaram a estocar dentro da caixa, por que será??? Talvez alguém venha a reinhar
naquela casinha...
Os mais invocados são os machos, se posicionam na cabeceira da danceteria e esperam alguma moça velha passar para humildemente solicitarem um copo de vinho, alguma, de bom coroção, acaba cedendo um líquido açucarado ao cavalheiro em sua boca...



Não satisfeito com tal cortesia do beijo doce o cabra se atreve e chamar a moça velha para dançar, a resposta ríspida é quase que imediata - O Dr. não sabe que moça velha não gosta de dançar acompanhada, procure uma moça nova,  procure uma princesa!!!


O cavalheiro baixa a cabeça e recua voltando a posição de espera, acuado, fica a observar todas as outras a dancarem sozinhas...
Mas já dizia o profeta, Deus tarda mais não falha!!! A persistência vale a pena, derrepente chega uma moça solitária, de coloração chamativa acentuada, levemente dourada, sua cor parece denunciar ser de família importante...




Mal pousa na pista de dança e as moças já passam a trata-lá com afeição, parece que todas querem ser amigas daquela jovem moça que atrai muitos olhares, principalmente dos rapazes que passam a se amostrem sem pudor... 
- Olhe princesa, eu sou o mais forte. Outro passa e diz: - Ele é o mais forte mas eu sou o mais bonito. Nesse instante outro mais afoito toma a vez e diz: - Não olhe para eles, eu sou o mais inteligente.



A pobre moça, ainda desconcertada com tantos galanteios, demonstra timidez, mas no fundo já sabe muito bem a quem lhe entregará o seu bem mais precioso, a sua castidade.
Rapidamente, as moças mais velhas conduzem a jovem princesa para um canto reservado, longe de olhares humanos curiosos e sedentos por fotos de uma evento único na vida de uma moça pura. Ora, nada mais lógico, quem já viu intimidades no meio de um salão?
O galã, já afoito para a consumação do ato parece ser preparado pelas irmãs mais velhas... - Olhe, vá devagar viu!!! A moça é pura e nunca fez isso na vida e essa será a única vez, faça de um jeito que lhe traga boas recordações.



O galã, quase não contendo sua anciedade diz: - Não se preocupe minha senhora, essa  também é a minha primeira vez e terei paciência suficiente para aproveitar todos os segundos desse momento. Não demora muito e a princesa, de modo singelo e pacato, chama o rapaz para dentro da caixa e lá, no escurinho do cinema a coisa literalmente acontece.
Algum tempo depois o rapaz, saciado de tanta paixão, sai da caixa e cai no meio do salão. Exausto, ainda dá tempo para falar algumas palavras antes de partir dessa para melhorar: - Gente, a moça agora é senhora!!!
O rapaz falece, mas todas passam a voar de alegria, é a primeira vez que vejo a morte de alguém ser tão comemorada...
Já é tarde, todavia o forrobodó não vai parar tão cedo, pois muitas outras moças novas ainda vão passar por ali e algum outro galã pode ter a sorte de morrer feliz..."
att,
Mossoró-RN, 04 de maio de 2010.

Kalhil Pereira França







Meliponário do Sertão




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