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domingo, 8 de outubro de 2017

CONTRA ATACANDO AS ABELHAS LIMÃO

O conhecimento tradicional é um bem inestimável, mas infelizmente costuma ser passada oralmente, e vai se perdendo. Felizmente inventaram as memórias eletrônicas que são capazes de armazenar muitas informações. Só que ainda temos que desenvolver ferramentas de busca ais poderosas, capazes realmente de mergulhar nesse mar de informações, juntando as tramas de um tecido comum.
A informática é engraçada, muito poder de armazenamento, mas para achar uma informação específica, é como procurar uma agulha no palheiro... aí recaímos ao “Acaso” para dar uma forcinha!!!
Por que estou falando tudo isso? Pois por “Acaso” consegui juntar três informações sobre o mesmo assunto, mas sem que eu tenha realmente como meta chegar a elas. Trata-se de informações do maior inimigo do meliponicultor: a ABELHA LIMÃO !
No meliponário que eu cuido, já tive o dissabor de ter caixas atacadas várias vezes por estas Irmãs Metralhas, cujo ninho pode ser composto por até 150 mil indivíduos. Com este número de indivíduos, e uma postura em ritmo louco,  esqueçam aquela velha estória de enfarinhar de branco alguns indivíduos para que os demais morram de rir quando chegarem ao ninho mãe, não faz nem coceira !!!
A estratégia é geralmente deste modo: Elas chegam de mansinho, apenas uma ou duas e ficam voando pelo meliponário. Chegam a ter o atrevimento de voarem frente a frente com a entrada do ninho estudando a possibilidade de ataque em cada caixa. Depois de escolhida a vítima, as batedoras somem, e em algum momento a caixa fica envolta por uma nuvem negra de abelhas. Como bandidas em um  banco, as “intrusas determinam”: quem tá dentro não sai e quem tá fora não entra! Fincam em forma de cera, sua bandeira de conquista, sobrepondo a entrada do ninho invadido e então fazem a festa! Pilham tudo o que o tempo de invasão permitir: larvas, ovos, cera, pólen, mel ...literalmente tudo.
A primeira informação interessante que resgatei sobre as abelhas Limão foi publicada aqui mesmo na AME-RIO pelo nosso fundador Pedro Paulo Peixoto (PPP), trata-se da abelha trigona "Duckeola ghilianii", apresentada a ele pelo mestre meliponicultor Padre Egídio. PPP nos trouxe a novidade com imagens e depoimento direto da cidade Presidente Figueiredo – AM, quando estava realizando o IV Concurso Nacional de Méis AME-RIO: “_É a predadora natural da iratim e, defendendo-se, as elimina impiedosamente, salvando as colmeias do entorno. É uma abelha mansa, esguia e de tamanho das uruçus, mais fina e esbelta”, diz ele.
Infelizmente é uma abelha de outro bioma e não incentivamos a propagação fora dele. Então “quem poderá nos defender” em nossos biomas?
Então navegando pela rede de internet em busca das possíveis aplicações de um princípio ativo, fora do contexto das abelhas, me surge nos resultados da busca um trabalho sobre as Lestrimelittas publicado pela USP. E lá estava a segunda informação importante sobre estas abelhas. Uma detalhada pesquisa do Biólogo Dr. Lucas Zuben. A pesquisa era tão interessante que convidamos o pesquisador para realizar uma palestra aqui no Rio de Janeiro: “Decifrando o Inimigo: a Comunicação Química da Abelha Limão”
Ele nos revelou a estratégia de ataque descrita acima, e também o composto que dá origem ao cheiro de limão, diferente do que todos pensam, não é mesmo responsável pela anulação da atividade das abelhas alvo dentro da caixa invadida. É comum encontrar em vídeos e em matérias da internet nas quais responsabilizam o composto que exala o odor citral como agente da desorientação das abelhas atacadas.    
Lucas Zuben conseguiu isolar substâncias distintas, que geram efeitos distintos durante o ataque: em suas glândulas madibulares ele isolou os compostos voláteis citrais (neral e geraniale), que exalam o odor de limão. E nas glândulas salivares o acetato de hexadecila e acetato de 9-hexadecenila.

Assim aprendemos que o composto citral (aroma de limão) na verdade estimula o contra ataque às abelhas Limão. Já os compostos ésteres acetato de hexadecila e acetato de 9-hexadecenila são os verdadeiros responsáveis pelo efeito de adormecimento/letargia imposto às abelhas do enxame atacado.
Uma vez dissipado, ou anulado, estes compostos ésteres de dentro do enxame as abelhas sob ataque “acordam” e as invasoras fogem. Uma simples ventilação no interior da caixa atacada já demonstrou eficácia.
Outro fato revelado pela pesquisa do Lucas Zuben é que a cera depositada pelas Lestrimelittas na entrada do enxame atacado é a bandeira guia da revoada que vem para o ataque. Se retirarmos este cerume da porta do enxame atacado, a tempo, e levarmos para outro local, todo a esquadrilha de metralhas vai para este novo local !!
Bem, destas duas informações podemos constatar: 1º - que existem abelhas imunes aos compostos da Limão. 2º - que uma vez descoberto algum solvente que anule a ação dos ésteres, podemos ao menos interromper um ataque de Limão.
Então trabalhar para descobrir um reagente aos ésteres acetato de hexadecila e acetato de 9-hexadecenila é campo para novas pesquisas. Os interessados já dispõem de uma direção a seguir!


A AME-RIO tenta disseminar esta importante pesquisa do Lucas Zuben, e sempre apoia a associação dos meliponicultores com os pesquisadores, para assim conseguirmos juntos informações novas desfazendo paradigmas e tabus da meliponicultura. Todos ganhamos com esta união!!

Em outro momento, mais uma vez me encontrava na internet, desta vez procurando respostas nos arquivos do bom e velho ABENA Yahoo grupos. Nada contra a modernidade, mas na minha opinião, os antigos grupos de discussão por serem acessados de computadores com teclado, e ainda não pelos atuais smartfones, permitiam aos usuários elaborar confortavelmente grandes textos, com citações, trocas de experiências, imagens, verdadeiras aulas on-line. O velho acesso exigia uma cadeira, um teclado e atenção exclusiva. Resumindo ... quem sentava para ler e responder tópicos do grupo, basicamente voltava sua atenção só a aquela atividade, e o resultado era mais rico do que as mensagens rápidas digitadas na tela de um smartfone, enquanto estamos no elevador, ou na condução ou em uma pausa rápida qualquer.
Assim mais uma vez o “Acaso” me levou ao resgate de um texto do Mestre Cappas que vou reproduzir parcialmente abaixo:
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Método Rotta / Paludo contra abelhas Limão
O meliponicultor Rotta fuma paieiros. E tem um condomínio de Plebeia nigriceps com muitas colônias na sua casa.  Influenciado pelo Meliponicultor Ben Hur Paludo, nasceu neste homem gaúcho o gosto por criar essas abelhas pequenas. No ano passado, o as suas colônias foram invadidas pelas famosas iratins; estas entram nas colmeias e estas Plebeia, tal como a remota e outras Plebeia, ficam sem ação e se isolam num canto, deixando as ladras fazerem o seu roubo. O Rotta, com o seu cigarro paieiro, observava essas pilhagens, e tentou afastar as Iratins com o bafo do fumo e as Iratins desistiram de seus ataques.
Um acaso… As grandes descobertas surgem e nascem de pessoas leigas… Pequenas coisas viram fenômenos estrondosos… Ele percebeu que o fumo afugentava as Iratins…
O amigo Ben Hur Paludo, este ano, viu uma colmeia de Plebeia droryana a ser pilhada pelas Iratins e chamou o Rotta, que veio com os seus cigarros… Paludo viu um monte de droryana decapitadas no chão da casa dele... Então chegou o Rotta, preparam os paieiros e abriram a caixa e deitaram o fumo dentro…
As Iratins abortaram logo o ataque e saíram em correria; elas libertaram o grito de retirada… Paludo que tinha colocado uma garrafa Pet na boca da colmeia de droryana invadida observou que esta ficou cheia de Iratins, umas 600. O fato curioso é que, enquanto as Iratins batiam em retirada, as droryana despertaram da sua letargia e começaram a atacar as pilhadoras.
Ora, como as Plebeia saíram da letargia, isto indica que a arma química das limão foi inutilizada. Eu,  Cappas, já vi ataques de Iratins a Plebeia e sei que basta uma limão para as invadidas entrarem em letargia, pois os Feromônios das Plebeia ficam apagados com o Desodorizante Apaziguador das Iratins (Tema da palestra do Lucas Zuben na AME-RIO). Então percebi, ao falar com os dois Meliponicultores amigos, que o fumo de paieiro neutralizava o ataque químico das Iratins, colocando estas em fuga e desarmando-as.
Nenhuma Plebeia sofreu com o fumo… Só as Iratins saíram em debandada, coisa que as Plebeia não fizeram. Assim se separa as abelhas… um método prático…
Agora, convido a todos do ABENA a usar este fumo nas suas abelhas-alvo a ser pilhadas pelas Iratins. Podem também usá-lo quando as Apis são atacadas… E depois escrevam no ABENA se a coisa resultou, pois só se sabe que em Plebeia dá resultado. Vamos ver se resulta com outros Meliponíneos.
Cappas
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Ao republicar nesta matéria parte do texto (acima) do Mestre Cappas de como combater as Lestrimelittas, as novas informações do Lucas Zuben e o registro do Pedro Paulo Peixoto, esperamos atualizar as informações até agora conhecidas sobre como se defender das abelhas Lestrimelittas.

Mas como eu não fumo, pensei como faria este combate. Então estou também propondo: Podemos construir um mini fumigador para aplicar fumaça de fumo de rolo em uma caixa sofrendo ataque das Limão. 
Repito o convite do Mestre Cappas de experimentarem o método em suas abelhas e me enviarem o resultado para eu postar aqui!!
Medina