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quinta-feira, 31 de março de 2011

Jataís no Paraiso

Amigos da AME-RIO e Internautas,

Hoje, navegando na Internet, encontrei uma matéria no site catarinense, Portal GC, sobre a criação de Jataís (Tetragonisca angustula), em Paraiso - SC. Essa matéria mostra como Irineu Döring, agricultor da cidade de Paraiso, maneja suas colônias.

Poucas vezes eu li reportagens, em jornais e revistas, que expelhem a verdadeira realidade dos criadores, com a precisão da matéria assinada por Marcelo Both. 

Ela nos mostra o dia a dia do seu Irineu e os cuidados que ele toma ao  fazer multiplicações,  lembra que é preciso tomar vários cuidados para garantir o sucesso das mesmas. Mostra também que não podemos dividir a toda hora, sob pena de perdermos as colônias.


Fala também em capturas, mas da forma correta, através de caixas iscas. Infelizmente mostra também uma das piores partes na criação de nossas nativas, a atuação de amigos do alheio.
Depois nos conta de um projeto de Guaramirim, também em SC, que pretende aumentar a quantidade de Jataís em suas matas e da atuação de funcionários da Epagri.

Como gostei muito da matéria, a transcrevo abaixo. 
Clique na manchete, para ver a matéria no sites original.

Todos já devem ter notado que ando um pouco preguiçoso e essa é a segunda matéria seguida em que uso a metodologia "copia e cola". É bem provável que isso se deva a falta de inspiração, mas prometo que logo, logo, volto ao relato de minhas visitas a amigos, que também criam abelhas.

E quem sabe, com esta postagem eu acabe fazendo mais alguns amigos.

Uga,
José Halley Winckler


Notícias / Geral

quarta-feira, 30 de março de 2011 - 17h05
Agricultores de Paraíso apostam na criação da abelha que não possui ferrão e produz mel com propriedades medicinais
Marcelo Both
"Eu vou dividindo os enxames. Geralmente elas têm duas rainhas, uma embaixo e outra mais encima do ninho. Aí é só ter cuidado na hora de cortar e dividir em duas caixas",
PARAÍSO

      Quarenta e cinco anos. Este é período de tempo que seu Irineu Döring, agricultor de 66 anos, cria abelhas Tetragonisca angustula, a Jataí, também conhecida como abelha nativa ou abelha sem ferrão. A abelha é comum nas matas da região e conhecida por produzir um mel saboroso, suave e bastante procurado por suas propriedades medicinais. Residente em linha Castelo Branco, interior de Paraíso, seu Irineu Döring possui atualmente aproximadamente 60 colmeias que são criadas nas matas próximas a sua residência. Ele explica que a criação iniciou com quatro enxames e que aos poucos foi ampliando. "Eu vou dividindo os enxames. Geralmente elas têm duas rainhas, uma embaixo e outra mais encima do ninho. Aí é só ter cuidado na hora de cortar e dividir em duas caixas", explica.
      Porém, Döring acrescenta que é preciso tomar cuidado, pois um procedimento errado pode matar o enxame. "Você deve deixar a caixa nova no local da velha, e a velha deve ser levada para outro lugar, se não as abelhas voltam e vão todas na colmeia nativa e abandonam a nova. Se fizer assim e deixar a nova no local, levando a velha para outro ambiente, em poucos dias os dois enxames estão recuperados e trabalhando normalmente", detalha. Ele diz que não é possível fazer a divisão com muita frequência, pois isso pode enfraquecer a colmeia. "É preciso cuidado. Não há um tempo definido, mas geralmente demora de um a dois anos para que seja possível dividir e elas sobreviverem, mas isso depende do enxame também, se é um forte ou fraco", observa.

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CAPTURA

      Outra forma citada por Irineu para aumentar a quantidade de enxames é a captura de novas colméias. Ele informa que não é tão difícil a captura, pois na região há abelhas em abundância. "Tem muito por aí nas matas. É só você pegar uma caixa e colocar um pouco da cera dentro que elas entram", garante. Seja por captura ou divisão, o agricultor têm ampliado a quantidade de colmeias. Ele diz que sempre gostou de criar abelhas, inclusive as de ferrão, mas que a maior paixão é pela Jataí. O agricultor revela que aprendeu a maioria das técnicas com seu pai. "Mexia com abelhas desde os nove anos de idade, com o meu pai", conta. Döring também reconhece que leu alguns livros que tratavam do assunto. "Frequentei alguns colégios agrícolas. Tive a oportunidade de ler alguns livros. Seja com conhecimento prático ou dos livros fui aprimorando", relata. 


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COMO ARMAZENAR O MEL
     Conforme Irineu, após alguns anos, com a prática e algumas pesquisas, ele constatou que o mel requer alguns cuidados para ser armazenado. Segundo ele, para que o mel fique líquido e com o mesmo sabor é preciso que seja mantido em temperaturas próximas a 10º C. "Ele deve ficar próximo de 10º C. Nem muito mais, nem muito a menos. Se não azeda e pode até fazer mal. Se congelou, ele estraga e você pode jogar fora. Se esquentar demais ele começa a separar a água das outras propriedades", afirma. Seu Irineu garante que se o mel for tratado dessa forma, permanece próprio para consumo por mais de anos. 


"Como não estava aqui veio muita gente e roubaram minhas abelhinhas. Eu tinha perto de 300 colmeias de Jataí. Eu tinha feito um mapa para me localizar de tanto que eu tinha. Aí vieram esses "caras" e levaram. Sem contar na quantidade que estragaram", conta.
Furtos fazem irineu desanimar
      O número de 60 enxames, não parece tão expressivo para quem cria abelhas há 45 anos e com tanta experiência no assunto. É possível perceber na expressão facial de Döring, o lamento, ao comentar um incidente que vem ocorrendo ao longo dos anos e que se intensificou no em outubro do ano passado. Ele relata que morava sozinho e passou um período de quase duas semanas internado, devido a uma inflamação nos ouvidos. "Como não estava aqui veio muita gente e roubaram minhas abelhinhas. Eu tinha perto de 300 colmeias de Jataí. Eu tinha feito um mapa para me localizar de tanto que eu tinha. Aí vieram esses "caras" e levaram. Sem contar na quantidade que estragaram", conta.
        Seu Irineu relata que ficou muito triste com o acontecimento. "É triste você cuidar com tanto carinho de uma coisa que o pessoal simplesmente vem e leva, ou pior ainda, estragam. Isso é um crime. Simplesmente melaram um monte delas e deixaram as caixas abertas. Tem uma grande quantidade que morreram", lamenta. Döring não esconde o desgosto e diz que não pretende mais continuar com a criação. "Estou velho e não pretendo mais continuar. E depois não adianta você criar os bichinhos com amor e os caras simplesmente levarem embora", argumenta. O agricultor diz que registrou queixa na Polícia e que o caso está sendo investigado.
Conforme Döring, antes do furto, costumava produzir mel em grandes quantidades. "Nunca melei elas em uma época só, mas sempre tirava de trinta a quarenta quilos por pegada. Chegava a retirar até um 1,3 quilos por caixinha", afirma.


. "São várias partes encaixadas uma encima da outra (conforme imagem). Tem a base, mais três partes, uma divisória interna que é furada, mais duas partes e a tampa"
PARCERIA
     Como pretende parar de criar, as abelhas de Irineu não serão abandonadas. Elas fazem parte das colmeias que serão enviadas para o município de Guaramirim, no Norte do estado. Isso ocorre através de uma parceria firmada entre as prefeituras de Paraíso e Guaramirim, na área da meliponicultura, que trata da criação de abelhas nativas, as Jataís. O extensionista da Epagri de Paraíso, Carlos Paganini, explica que na região Oeste, a abelha Jataí é muito comum, diferentemente do que ocorre em Guaramirim.
      Há cerca de um mês, dois técnicos vindos de Guaramirim, visitaram algumas propriedades no município e firmaram a parceria que compreende a aquisição inicial de 200 caixas racionais para a criação de abelhas Jataí. De acordo com Paganini, as caixas serão fabricadas pelo agricultor Roni Zanin, residente na linha Parque São Miguel, interior do município. O extensionista conta que os criadores como Irineu Döring, utilizam caixas rústicas, ou seja, caixas retangulares ou até mesmo troncos de árvores ocos, que são cortados nas duas extremidades e fechados com tábuas. Ele explica que caixas racionais, são confeccionadas de um modo e estrutura diferente.
      Roni Zanin detalha o processo de confecção da caixa racional. Segundo ele, as caixas racionais são feitas em forma de torre. "São várias partes encaixadas uma encima da outra (conforme imagem). Tem a base, mais três partes, uma divisória interna que é furada, mais duas partes e a tampa", explica. Segundo Zanin, internamente a caixa fica com o formato arredondado, parecido com um tronco oco. Ele diz que a madeira mais ideal para a confecção é o Cedro, porém devido à escassez e quase extinção da planta, outras madeiras podem ser utilizadas. 


Jataí é considerada a mais eficiente polinizadora entre as abelhas
MEL E POLINIZAÇÃO
      De acordo com Carlos Paganini, o mel da Jataí possui propriedades medicinais e valor de venda elevado. Segundo ele, na região o mel de Jataí é comercializado por cerca de R$ 30,00 o quilo, mas que em grandes centros urbanos, como São Paulo e Curitiba, pode ser vendido a R$ 50,00 o quilo. Paganini ressalta que mesmo tendo valor medicinal e preço elevado, o principal interesse do município de Guaramirim em estimular a criação das abelhas nativas é a polinização ambiental, já que a Jataí é considerada a mais eficiente polinizadora entre as abelhas.
     Paganini salienta ainda que o intuito não é retirar os enxames de Paraíso, mas sim, através do apoio e assistência da Epagri, utilizar a técnica de divisão para criar novas colmeias e ampliar ainda mais o número de enxames existentes.


VALOR MEDICINAL
     O mel de Jataí, além de saboroso e suave, é bastante procurado por suas propriedades medicinais. É usado como fortificante e antiinflamatório, principalmente no tratamento da asma, bronquites e tosses fortes e constantes. Além disso, é considerado digestivo, laxativo, diurético e Anti-anêmico. Além do mel, a jataí produz ainda própolis, cera e pólen de boa qualidade.


Fonte: Gazeta Online

quarta-feira, 30 de março de 2011

Mestre maior lançou livro ontem.

Amigos da AME-RIO e Internautas,


Por notícias apresentadas ontem, 29/03/2011, foi lançado em Brasília, o último livro de Paulo Nogueira-Neto, mestre maior da meliponicultura brasileira: A trajetória de um ambientalista


Transcrevo abaixo, na íntegra, duas notícias sobre esse livro e muita informação sobre o Mestre PNN. Clique nas manchetes, para ver as notícias nos sites originais.


Uga,

José Halley Winckler 



A trajetória de um ambientalista

A luta em defesa da biodiversidade, no Brasil, tem nome e sobrenome: Paulo Nogueira-Neto.

     Amarrados com cordões de algodão, os cadernos de capa azul que o ambientalista Paulo Nogueira-Neto guarda no escritório teriam três nobres destinos. Uma cópia ficaria com a família; a outra, com a Universidade de Brasília (UnB); a última, na Universidade de São Paulo (USP). Mas ao decidir por compilá-los em livro, o autor de anotações tão precisas não apenas multiplicou as chances de leitura. Deu, sim, forma a uma obra que o zoólogo Paulo Vanzolini classifica como “um manual da história do movimento conservacionista no Brasil”.  
Os fatos narrados em texto curtos, cuidadosamente ordenados no livro Uma Trajetória Ambientalista – Diário de Paulo Nogueira-Neto, não se restringem aos bastidores políticos que o advogado e homem de ciências teve a oportunidade de palmilhar de 1974 a 1986, período em que esteve à frente da Secretaria do Meio Ambiente. Esses quase 13 anos atravessam três presidências da República. De Ernesto Geisel a José Sarney, Nogueira-Neto nunca se embateu com a ditadura, tampouco com qualquer partido político. “Os militares não entendiam de meio ambiente e viam a minha atuação técnica, estritamente técnica”, lembra. Em sua gestão foram criadas 26 reservas e estações ecológicas e 12 áreas de proteção ambiental na Amazônia. Entre outras realizações, também tratou da Lei da Política Nacional de Meio Ambiente, que passou a vigorar em 1981.
Nas quase 15 mil páginas dos diários escritos desde janeiro de 1974 – convertidas nas 880 páginas do livro –, personagens da história do Brasil desfilam de maneira reveladora. E também curiosa. Confirmado a permanecer à frente da Secretaria do Meio Ambiente, durante a posse do general João Baptista Figueiredo ouviu do novo presidente: “Esse eu já conheço”. Um pouco antes, na transmissão do cargo a Mario Andreazza no Ministério do Interior, Maurício Rangel Reis referiu-se a Nogueira- Neto como “o apóstolo do Meio Ambiente”.  
A publicação tem outros grandes méritos. Um deles é o de relatar o trabalho da Comissão Brundtland. Instituída pela Organização das Nações Unidas, em 1984, contou com o ambientalista no seleto grupo de 23 representantes de vários países que correu o mundo para sugerir soluções e erradicar a miséria a partir do “desenvolvimento sustentável”, expressão que, por sinal, nasceu com a comissão. “Meu livro é o único que tem a história da Comissão Brundtland, porque ninguém tomou nota do trabalho. E eu tomei”, diz.  
No livro e pessoalmente, sentado na varanda de sua casa, em São Paulo, para a entrevista à Terra da Gente, Nogueira-Neto não se limita a narrar histórias. Antes, é um homem de convicções. Para ele, não existe sustentabilidade sem sustento. E, pacientemente, conta a experiência na Reserva Mamirauá, onde atua como conselheiro. Na Amazônia, Mamirauá fica na região de Tefé. Tem aproximadamente 3 milhões e meio de hectares e 300 mil habitantes. Até se tornar uma reserva sustentável, o ganho médio proporcionado a cada família era de aproximadamente R$ 300,00 por mês. Hoje, afirma, a renda dobrou e fez com que a população vizinha, da área de Amanam, com 6 milhões de hectares, aderisse à proposta de sustentabilidade. “E aderiu espontaneamente, porque viu os vizinhos ganhando mais”, ressalta.  
A vizinhança passou a receber mais a partir de uma medida aparentemente simples. “Proibimos a entrada de barcos de Manaus que comprometiam a pesca e prejudicavam seriamente a população local”, conta. “Com essa simples organização da pesca em termos racionais, nós dobramos o rendimento.” Na avaliação do conselheiro, se houvesse na Amazônia 100 unidades de conservação tão ativas quanto a Mamirauá, a natureza estaria protegida em suas áreas mais importantes ao custo de meio bilhão de reais por ano. A manutenção das áreas de Mamirauá e Amanam soma R$ 15 milhões por ano. Nada tão dispendioso para um território do tamanho de Portugal.  
O Brasil em que Nogueira-Neto viveu pouco antes de assumir a Secretaria do Meio Ambiente empenhava-se na expansão das fronteiras agrícolas. No final da década de 60, entre o Pará e o Amapá, o Projeto Jari provocava a derrubada de árvores em larga escala para produção de celulose. De Cabedelo, na Paraíba, até Lábrea, no Amazonas, a rodovia Transamazônica abria enormes clareiras na floresta. Nessa época, no entanto, o País se fazia representar na Conferência de Estocolmo. Realizado em 1972, o encontro contava com apenas 16 países que possuíam uma entidade governamental central de Meio Ambiente. “Toda a organização da rede de ação ambiental existente na Federação Brasileira começou como resultado da conferência”, afirma.  
Mas antes de Estocolmo, a história da preservação do meio ambiente no Brasil tem na criação da Associação de Defesa do Meio Ambiente – São Paulo (Adema SP) um episódio importante. A associação fundada pelo ambientalista não é a primeira, mas a mais antiga organização não governamental do País. “Naquele tempo, havia três ou quatro Ongs, que desapareceram”, lembra. A missão da Adema de salvar o Pontal do Paranapanema não se cumpriu por inteiro. “Preservamos uma parte do que hoje é o Parque Estadual do Morro do Diabo” (veja quadro na pág. anterior). A associação, no entanto, firmou sua importância no cenário brasileiro por representar legalmente, ainda hoje, o presidente da República no Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama).  
Da fundação da Adema, passando pela Conferência de Estocolmo, até a realização da COP-10 há dois meses, no Japão, a preocupação com as causas ambientais evidencia-se cada vez mais no País. Nesse sentido, Nogueira-Neto cita a ação das Ongs voltadas às questões de preservação e conservação da natureza.
“O diálogo entre as organizações e o governo é absolutamente básico e essencial. Nós temos que procurar colaborar com os governos mesmo discordando deles”, enfatiza. O ambientalista observa ainda o resultado da última eleição para afirmar que surge no Brasil uma nova ideologia política. “É a ideologia do meio ambiente e das questões que a ele se relacionam”, observa. “Meio ambiente, educação e saúde estão se tornando politicamente tão importantes como antes foram a defesa de classes e a defesa de ações econômicas, como o capitalismo”.  
Saiba mais:
Uma Trajetória Ambientalista: Diário de Paulo Nogueira-Neto, editado pela Empresa das Artes, tem 880 páginas e custa R$ 100,00. Informações pelo tel. (11) 3797-2200

Tiro no Pé
Nas relações entre agricultura, biodiversidade e conservação da natureza, a expressão “tiro no pé” pode, segundo Paulo Nogueira-Neto, resumir atitudes que podem resultar em um futuro de enormes prejuízos agrícolas se ações para a preservação do meio ambiente não forem colocadas em prática agora. De acordo com o ambientalista, o desaparecimento de 20% de área de floresta amazônica é suficiente para que as regiões de cultivo no Centro-Sul do Brasil sejam penalizadas pela diminuição considerável de chuvas.
Num país de proporções continentais, as peculiaridades de cada região são evidentes. Em viagens regulares pelo Interior de São Paulo, Nogueira-Neto tem observado que o desmatamento vem diminuindo. “Há dois anos não vejo uma grande derrubada”, afirma. A floresta que volta em pequenas áreas é formada, no entanto, por árvores homogêneas. De acordo com o ambientalista, haverá a exigência, no futuro próximo, do plantio de espécies diferentes para recompor a biodiversidade que antes existia.
Na gravidade do desmatamento na Amazônia – “trata-se de salvar enormes extensões de terra” –, os danos causados à agricultura pela diminuição das chuvas no Centro-Sul, segundo o ambientalista, afetam não apenas uma parte do Brasil, mas compromete o progresso do País. “Os prejuízos serão enormes”, enfatiza.
Um fato que preocupa o ambientalista envolve os seringueiros. Defensores históricos da floresta contra o avanço da pecuária, agora, pela necessidade de sobrevivência, eles vêm se tornando criadores de gado. Para Nogueira-Neto, é necessário, com certa rapidez, mostrar que se ganha mais com preservação. “O estado do Amazonas já começou a fazer estudos no sentido de salvar a floresta subvencionando. Mas a palavra subvencionar no Brasil soa mal.” E continua: “A meu ver, é necessário subsidiar, subsidiar mesmo a guarda das florestas e o bom uso dos recursos florestais.”
Não mais que uma kombi A partir da década de 50, surgiram no Brasil alguns pequenos grupos de ambientalistas. Paulo Nogueira-Neto costuma dizer que cada um deles caberia dentro de uma Kombi. Quando muito em um micro-ônibus. No livro, há trabalhos que o autor considera notáveis, como o realizado por Chico Mendes e Marina Silva, no Acre; por José Lutzemberg, no Rio Grande do Sul; pelo Museu Paraense Emílio Goeldi, entre outros. Há também vitórias –embora parciais – de brasileiros de algumas décadas atrás que se importaram em defender a preservação do meio ambiente.
Entre 1955 e 1956, o governador Jânio Quadros tinha a proposta de tornar as terras devolutas do Pontal do Paranapanema, em São Paulo, “reserva florestal”. Na época, Nogueira-Neto sobrevoou várias vezes a região e constatou que a floresta primitiva estava intacta. Apesar das ações da Associação de Defesa da Fauna e da Flora, que depois se constituiu na Adema SP, a Assembleia Legislativa não aprovou a criação da reserva.
Mais tarde, o então secretário da Agricultura Renato Costa Lima conseguiu salvar da destruição uma grande floresta vizinha ao Pontal, o Morro do Diabo. Segundo Nogueira-Neto, salvação “no grito” contra grileiros e certidões de posse falsas.  
O homem de ciências 
Em 1944, ainda na Faculdade de Direito do Largo São Francisco, Paulo Nogueira-Neto começou a estudar as abelhas indígenas nativas sem ferrão ao receber do sogro, Manoel Joaquim Ribeiro do Valle, uma colônia de jataís (Tetragonisca angustula). Ainda hoje, ele mantém estações experimentais de meliponíneos em São Simão, Cosmópolis, Campinas, São Paulo, além de Luziânia, em Goiás. Mais tarde, em 1955, quando ingressou na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP, fez das abelhas indígenas instrumentos no estudo da ecologia.
Professor emérito da USP, Nogueira-Neto fundou o Laboratório das Abelhas na universidade. Mais tarde, ajudou a estruturar o Departamento de Ecologia do Instituto de Biociências. Para “descansar”, depois do longo dia de trabalho na Secretaria do Meio Ambiente, o ambientalista debruçavase sobre a pesquisa que resultou no livro Comportamento Animal e as Raízes do Comportamento Humano. Sobre as abelhas indígenas prepara o quarto livro, Dicionário das Abelhas Indígenas sem Ferrão, fruto de 10 anos de trabalho. “Um dicionário tem de ter de tudo, todos os assuntos. Dá um trabalhão danado, mas é mais completo”, diz. 


Paulo Nogueira-Neto lança livro hoje em Brasília

Um diário que conta toda a trajetória do ambientalista na luta em defesa da biodiversidade


Hoje, a partir das 19 horas, o livro Uma Trajetória Ambientalista – Diário de Paulo Nogueira-Neto, será lançado no restaurante Dom Francisco, no Piso Lazer do shopping Pátio Brasil, em Brasília (DF). Detalhe importante: parte da verba arrecadada durante o lançamento será revertida à entidade Ação Social e Ambiental São Quirino de Xapuri (no Acre).  
A publicação, escrita pelo advogado, naturalista e professor universitário Paulo Nogueira-Neto, foca os anos de 1974 a 1986, período em que ele esteve à frente da Secretaria do Meio Ambiente. Em quase 13 anos, passou por três governos distintos: de Ernesto Geisel a José Sarney.  
Ele disse em entrevista recente à revistaTerra da Gente: “Os militares não entendiam de meio ambiente e viam minha atuação técnica, estritamente técnica”, lembra, sem ter, portanto, embates com a ditadura do período.
Nascido em São Paulo em 1922, Paulo Nogueira-Neto foi o primeiro ministro do Meio Ambiente do Brasil, além de ser membro do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) e da Academia Paulista de Letras, tendo publicado as diversas obras.  
Mas há que se dizer: em sua gestão ambiental foram criadas 26 reservas e estações ecológicas, e 12 áreas de proteção ambiental na Amazônia. Entre outras realizações, também tratou da Lei da Política Nacional de Meio Ambiente, que passou a vigorar em 1981.
Atualmente Paulo Nogueira-Neto é também presidente do Conselho de Orientação do Parque Tizo, localizado na confluência da Rodovia Raposo Tavares com o Rodoanel, em São Paulo.

Abelhas e Amigos - Descobrindo o poeta.

Amigos da AME-RIO e Internautas,

Continuando com a série Abelhas e Amigos, depois de uma tarde e uma noite de peripécias, onde o Jean me levou a visitar mais meliponicultores numa só vez, do que nosso amigo Bob Bee Dandy conseguiu fazer na primeira parte de sua viajem a Santa Catarina, eu resolvi ir por conta própria a Jaguaruna, cidade próxima a Tubarão e a Laguna, onde eu estava hospedado. Eu queria conhecer as abelhas do Mario Tessari.

Eu só conhecia o Mario, de trocar e-mails pelo grupo ABENA mas, uma vez eu falei para ele que, quando fosse a Santa Catarina, iria visitá-lo. Não deu outra, eu liguei para o Mario e o Mario se prontificou imediatamente em me receber e pelo seu tom de voz, senti que realmente seria bem recebido.

O Mario me deu informações tão precisas da localização do seu sítio que eu consegui chegar sem qualquer dificuldade. Até pareceu que eu já conhecia o caminho, tal a quantidade detalhes que ele me passou.
Na chegada fui recepcionado no portão pelo Mario, logo na entrada do seu sítio tem uma placa: Itaguá - Estação de Vida. Ita -> Pedra, Guá -> fruto ou comida. Itaguá, só poderia ser Pedra da Comida.
Quando eu vi ao lado uma pedra de moinho, pensei que realmente tinha decifrado a charada, pedra da comida, só podia ser pedra de moinho, ou pedra da farinha. Ainda bem que eu mantive isso para mim e não falei nada para o Mario, pelo que eu vi depois, essa pedra está ali mais é para enfeitar mesmo.

O Mario me contou que comprou esse sítio há cerca de 5 anos e quando o comprou, ele só tinha pedras e capim bracária. Ah, tinha também um rego d´água, por entre as pedras, que só tinha mosquitos, nem um só tipo de peixe. E um engenho de mandioca mais acima, que jogava toda o residuo da moagem nesse rego d'água.

E aí ele resolveu me mostrar o seu sítio.
Plantas de rápido crescimento e cafeeiros.
Abacateiros e ingazeiros.
Árvores primárias de rápido crescimento.
O tal rego d'água, agora com bastante vegetaçao.
Totalmente sombreado e já com alguma vegetação secundária.
Muita fruta para todo que é lado.
Estas são pitangueiras (Eugenia uniflora)

Vocês viram o Mario com uma latinha na mão, ali tinha ração para peixes e ele sempre leva ração quando passa pelo riacho, que agora não é apenas um rego d'água. E está bem povoado de peixes, lambaris, acarás, barrigudinhos, até piaus, mandis e jundiás o Mario diz que tem, também algumas tilápias, que escaparam de um tanque ao lado.
E os peixes todos acompanham o Mario a medida que ele anda pelas margens, riacho acima ou riacho abaixo, lá vai o cardume acompanhando.

Eu perguntei, ué, não era um rego que só tinha larvas de mosquitos? Ele me disse, era, levei quase dois anos para convencer o proprietário do engenho de mandioca a não jogar resíduos na água e só consegui depois que conseguimos arranjar um modo de transformar esses resíduos em algo que ele pudesse ganhar alguma coisa, aí ele não jogou mais fora.

Mesmo assim, levei mais um ano e meio para ver o primeiro peixe no riacho, ainda hoje eu lembro a alegria que foi ver um pequeno lambari nesse riacho, agora você é testemunha da quantidade de peixes que tem aí.

E as árvores? Tem árvore com tronco de cerca de 30 cms. Bem, ele me disse, as mais grossas são arvores que tinham sido cortadas para lenha, mas cujo o cepo sobreviveu, o resto eu plantei, ou os passáros e outros animais plantaram para mim. Só eu já plantei mais de 5.000 mudas, no ínicio só arvores pioneiras, agora só estou plantando árvores secundárias e terciárias, as primárias agora ficam por conta dos pássaros e dos ventos.

Aí ele me contou que, há algum tempo a pessoa que lhe vendeu o sítio foi visitá-lo e quando viu a quantidade de árvores no lugar, ficou bastante intrigada e daí há pouco tascou a pergunta: "como é que você trouxe essas árvores todas para cá?", bem o Mario está até agora rindo.

Mas eu vi, embaixo de cada árvore maiorzinha, com uma boa sombra, sempre tem umas 30 mudas de árvores, em saquinhos de 2 ou 3 litros e até maiores. E são muitas, devem ter mais de 50 grupos de mudas, perfazendo cerca de 1.500 mudas ainda a serem plantadas, e o Mario diz que a cada semana prepara um lote ou mais.

Os pássaros e animais correm tranqüilos nessa mata. E eu vi saracuras, eu vi frango d'água, vi rolinhas, vi bem-te-vis, vi tico-ticos, vi pica-paus e outros, o Mario ainda disse, tem tatus, tem gambás, tem pacas e outros animais e, complementou, o melhor é que os mosquitos e borrachudos estão desaparecendo e isso se deve aos pássaros e aos peixes. Se você for a qualquer sítio aqui perto, vai encontrar dez vezes mais mosquitos e borrachudos, aqui ainda tem, mas em número bastante reduzido.

Bem aí eu descobri que Itaguá não é pedra da comida, mas comida da pedra. O Mario conseguiu fazer brotar comida, onde só tinha pedra e onde tem comida, a vida desabrocha e se multiplica. Ele fez a vida nascer de onde outros não conseguiam tirar nada. 

Por isso, Itaguá - Estação da Vida.

Desta vez, acho que matei a charada, se não for isso, o Mario que nos conte.

Bem, e as meninas, cadê as meninas? Você vai a casa de um meliponicultor e não vê abelhas. Bem o Mario parece não pensar em criar abelhas e sim em criar vida. Mas como eu insisti, ele resolveu me mostrar as suas abelhas.

Todo o meliponicultor que conheço, mostra suas melhores e mais fortes abelhas, bem o Mario tinha que ser diferente, ele resolveu me mostrar uma colônia de Guaraípos (Melipona bicolor schencki).

Meia dúzia de potes e o ninho escondido atrás de uma placa de cera de apis.
Quase não se via abelhas, mas o Mario me disse, nas abelhas essa é minha maior vitória. Me venderam essas abelhas como se fosse uma colonia forte e quando eu fui ver, eram dois disquinhos e não mais de 20 abelhas. Eu custei para isolá-las no canto com cera de apis, mas isso melhorou bastante o seu aquecimento e eu tenho alimentado bem a colônia, então agora ela está se desenvolvendo e tenho certeza que não vou perdê-la, mas no início quase desisti, e isso já faz quase um ano.
Tenho outra um pouco mais forte.
Mas talvez não lhe tenha dado tanto prazer, quanto a outra mais fraca

Aí o Mario me chamou e mostrou uma outra caixa: não tenho só colônias fracas, ele me falou, veja esta Bugia (Melipona rufiventris),
basta você chegar perto que elas atacam, filma aqui.
No início parecia uma caixa normal.
 Mas as abelhas começaram a sair e formaram uma zoeira ao meu redor.
 Que eu quase corri,
Chegaram até formar barba, fora da caixa.
Mas o Mario deve ter explicado que eu era visita. 
E elas aos poucos foram acalmando e voltando para sua caixa.
Depois, ele me mostrou uma colonia de Bugia em desenvolvimento.
E uma caixa de mandaçaias - Melipona quadrifasciata quadrifasciata.
Com uma boa quantidade de alimentos
E ninho alcançando o topo da caixa.

Depois disso o Mario resolveu me mostrar as esperiências que estava fazendo com material alternativo para a produção de caixas.

Ele tinha três caixas produzidas com concreto celular e uma caixa que ele ganhou do Eurico Novy, em vermiculita com cimento.

Acima a caixa Novy
Acima vemos uma caixa em concreto celular placas de 30 x 30 x 7 cm, formando uma caixa tipo Inpa, com fundo, ninho, sobre-ninho, duas melgueiras e tampa.
O ninho, sobre-ninho e alças foram escavados de forma a ser retirados de cada um uma seção cilindrica  de 20 cms de diametro e com a profundidade total da placa, depois foram incluidos os separadores, em madeira. Infelizmente nosso fotógrafo acabou não fotografando a parte interna.
Essa é uma caixa em concreto celular placas de 30 x 40 x 5 cm, formando uma caixa de alças retangulares, com fundo, ninho, sobre-ninho, duas melgueiras e tampa.
O ninho, sobre-ninho e alças foram escavados de forma a deixar paredes de 5 cm de largura com a profundidade total da placa, depois foram incluidos os separadores, em madeira. Infelizmente nosso fotógrafo também acabou não fotografando a parte interna dessa caixa.

Essa já é uma caixa de concreto celular em que as placas foram cortada e depois montadas, com utilização de cimento cola.

Pra falar bem a verdade, o fotógrafo, esse que vos escreve, não esqueceu de fotografar, esqueceu foi de carregar as pilhas de sua câmera, que se esgotaram. Felizmente alguma pilhas velhas permitiram tomar mais algumas fotos e então vocês vão ter mais algumas imagens, do final da matéria.

Depois disso o Mario me convidou para tomar um chimarrão, hábito que parece ser bem arraigado nos cataúchos que criam ASF nessa região, por sinal o Bob, quando esteve por lá aprendeu a tomar chimarrão.
Enquanto tomávamos o chimarrão, o Mario me contou que ele foi do Banco do Brasil, mas nunca trabalhou como bancário, na verdade ele sempre trabalhou em projetos de educação ou de implantação de novas tecnologias, e ele se considera um ótimo tocador de projetos. Depois de  se aposentar ele comprou esse pedacinho de terra e ali ele tem enterrado muito trabalho e algum dinheiro no seu projeto - Estação da Vida, onde ele nos mostra que é possível recuperar áreas degradadas. Ele também tem uma horta orgânica, mas sua principal atividade atualmente é auxiliar um grupo de pessoas de Morro das Pedrinhas, a se reunir em associação para produção de orgânicos e desenvolvimento da Meliponicultura. Na verdade tanto a produção orgânica, quanto a meliponicultura parecem ser ferramentas para a evolução do grupo. O maior interesse de Mario Tessari, parece ser criar um mundo melhor, para a gente. Meliponicultura, produção orgânica, recuperação de áreas degradadas, associativismo, tudo isso são apenas ferramentas para a criação desse mundo melhor.

Logo chegou a Elisa, sua esposa, que também é educadora e que partilha do sonho do Mario. Ah, acabei descobrindo que os dois são poetas e participam de um grupo de poetas da região, que se esforçam em disseminar a literatura e a poesia.

O Mario Tessari já tem alguns livros editados e fez questão de me presentear com um deles. Seu título: Momentos.

E eu faço questão de mostrar, aqui, o poema título desse livro que, ele diz ser para diferentes leituras.

Momentos,

A realidade da vida
é construída por nosso olhar.

Se olharmos o mundo
sempre na mesma perspectiva,
veremos sempre as mesmas faces
das mesmas coisas.

As coisas parecem ser como são vistas,
no entanto, teremos novas imagens delas
se mudarmo a direção do olhar.

A criança vê o mundo com olhos de novidade,
com curiosidade: não se satisfaz com o que vê;
explora o objeto e constrói o novo a cada olhar.
Não algo inexistente que passa a existir,
mas uma nova imagem gerada por
um olhar diferente sobre as mesmas coisas.

A beleza e a tristeza,
que nascem nos memos olhos,
são frutos de diferente formas de olhar.

O medo do novo limita o olhar,
condenando a realidade
a permanecer o que foi
e impedindo que a vida continue;
o medo do novo nos mata por dentro,

Poemas
são representações 
de novos olhares
sobre a mesma realidade;
são como fotografias que o poeta vive.

(em parceria com Maria Elisa Ghisi)

Olha eu aí ganhando o presente de nosso poeta.
Fiz questão de tirar uma foto, com sua parceira de poesia e de vida.

Foi pena ter que deixá-los, eu ainda tinha muito a aprender mas, com certeza eu volto lá outra vez, quero ter um novo olhar da Estação de Vida - Itaguá e de seus proprietários poetas.

Mario, Elisa, eu aprendi muito com vocês!

Uga,
José Halley Winckler