Todas as postagens desse blog, são de inteira responsabilidade do colaborador que a fez e refletem apenas a sua opinião.
Caso você tenha interesse em colaborar com esse Blog, por favor, envie uma mensagem para redator@ame-rio.org

quinta-feira, 30 de novembro de 2017

Dendrofobia

Nas minhas leituras e busca sobre plantas que melhor satisfaçam as necessidades de nossas abelhas, acabei me  deparando com este texto.
É tão verdade que não tem como não reproduzir aqui a postagem do Anderson Porto sobre a paixão brasileira por árvores!
Como meliponicultor, faço minhas as palavras dele, pois não há abelhas sem árvores!



Dendrofobia

por Anderson Porto
IMG_7143
Dendrofobia
Nelson M. Mendes
[Adaptação e edição de um texto escrito em setembro de 2005. É terrível perceber que ele está mais atual do que nunca.]

[De dendr(o)-  +  fob(o)-  +  -ia.]  S.f.  Horror às árvores
A definição do Aurélio é curta e grossa. Espanta, surpreende. Nem se imaginava que pudesse existir um nome para uma fobia infelizmente muito comum.
No dia 21 de setembro se comemora o Dia da Árvore.  Muitos eventos são programados por escolas, ONGs, instituições variadas. Árvores são plantadas por crianças que, em seguida, dão comoventes entrevistas a repórteres que “levantam a bola” na exata medida para que a resposta à pergunta seja a desejada, a “politicamente correta”, aquela que ensejará um sorriso complacente e aprobatório do âncora do telejornal. Os telespectadores jantarão, verão sua novela, dormirão sobre sonhos e ansiedades e, no dia seguinte, nem notarão que a árvore na sua calçada não existe mais, e que no lugar restou apenas hedionda cicatriz de terra e entulho.

O amor pelas árvores

“Eu acredito que, quando uma árvore é cortada, ela renasce em algum outro lugar. Então, quando eu morrer, é para esse lugar que eu quero ir. Um lugar onde as árvores são deixadas em paz.”  O autor da frase, Tom Jobim,  foi homenageado com uma placa ao pé da gigantesca samaúma que ele venerava, no Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Mas fora dali, e talvez sobretudo na terra de Araribóia,  as árvores de modo algum são deixadas em paz. O brasileiro – dizia Tom – tem pavor de árvore.
Diz a escritora Gita Mehta, no livro Escadas e Serpentes:  “Para os filósofos da Índia antiga, a floresta simbolizava um cosmo idealizado. As grandes academias filosóficas da Índia ficavam todas em bosques – reconhecimento de que a floresta, autossuficiente e infinitamente regeneradora, combinava em si a diversidade e a harmonia que eram a aspiração, o objetivo da metafísica indiana. Não por acaso o grande corpus do conhecimento da Índia proveio das florestas: os Puranas, os Vedas, os Upanishads, os épicos Mahabharata e Ramayana, os sutras da ioga e os estudos médicos do Ayurveda.”
As antigas cidades indianas, ainda segundo Gita Mehta, tinham no centro um bosque, “de onde as ruas emanavam como galhos, recordando ao habitante urbano que o homem é simplesmente uma parte de um imenso organismo vivo”.  E era para a floresta que o homem, cumprida a sua missão mundana, se retirava para praticar a meditação na busca de Deus.
O desprezo
Infelizmente, tal veneração pelas florestas jamais foi uma tradição brasileira. Na verdade, o país nasceu sob o signo da derrubada de árvores: o primeiro ciclo econômico foi exatamente o da exploração predatória do pau-brasil.
O Brasil tem problemas do tamanho do Brasil. É natural, pois, que uma imensa parcela da população, preocupada em garantir o almoço do dia seguinte, não dê a menor importância a temas como preservação de florestas – até porque não está disseminada ainda a idéia de Gaia, da Terra como um organismo vivo, da qual o Homem é apenas uma das partes. O cidadão comum  e de poucas luzes está ainda no século XIX, acredita que a Natureza existe para ser indefinidamente explorada, e que seus recursos são infinitos.
O que surpreende, entretanto, é que também as classes média e alta parecem não nutrir muito apreço pelo verde. Árvores continuam sendo impiedosamente derrubadas, arrancadas pela raiz. E isso não acontece apenas em nossa fronteira agrícola, sob influxo  de fortes interesses econômicos. Acontece ao nosso lado, na nossa calçada.
O ódio pelas árvores é praga mais disseminada que a erva-de-passarinho que infesta muitas daquelas que são deixadas de pé. Alguns iniciam o processo de destruição de uma árvore pelo processo de descascamento (anelamento, segundo a linguagem técnica). Muitos, não confiando talvez na eficácia do descascamento, providenciam herbicidas, ou um prosaico óleo queimado para envenenar as raízes. Há também quem invente os mais estapafúrdios pretextos para convencer as autoridades de que é necessário remover uma árvore em que os pardais se aninhavam havia décadas. E o curioso é que, em calçadas que não são sobrevoadas por qualquer fio, onde não há qualquer entrada de garagem, qualquer motivo, enfim, que justifique a ausência de árvores, dá-se preferência à plantação de fradinhos (obstáculos de concreto); ou no máximo à construção de jardineiras risíveis, com plantas rasteiras e indigentes, que não oferecem qualquer sombra.
A árida nudez
Mas não são apenas as pessoas físicas – o dono de automóvel que deseja facilitar a entrada de sua garagem e não hesita em destruir um oiti de 70 anos, a velha senhora que se aborrece  com as folhas na sua calçada – que investem contra as árvores. Elas sofrem também uma ação institucional furiosa: a AMPLA (nome fantasia da companhia de energia elétrica, antiga CERJ) [ PS. Aqui no Rio de Janeiro se dá o mesmo com o LIHGT] promove podas cruéis e radicais. Certamente nenhum técnico orienta os funcionários sobre como proteger a rede elétrica sem ter que decepar as copas das árvores, transformando-as em tridentes, em galharias angustiadas a clamar aos céus por um pouco de respeito. A própria Prefeitura de Niterói desnuda as árvores como se estivesse interessada não em sua saúde e beleza, muito menos na sombra para os cidadãos, mas no aproveitamento econômico da matéria vegetal.
O resultado é que algumas calçadas de Niterói estão nuas, áridas como um deserto de sal. A palavra “nuas” não é casual: o que as caracteriza é exatamente a nudez, a árida nudez, a aridez. Onde hoje tudo é cimento ou terra revolvida houve há não muito tempo árvores, lindas árvores. Derrubadas por tempestades, ou removidas por motivos obscuros, não foram repostas.
O apreço pelo cimento liso parece maior ainda entre as pessoas da terceira idade. A velha senhora justifica a dendrofobia: “As árvores quebram as calçadas...” Inútil seria lembrar que nem todas as árvores quebram calçadas e que, de qualquer forma, em muitos casos é preferível sacrificar um tanto a plástica do calçamento urbano (aliás, freqüentemente bastante deteriorado, com ou sem árvores...) em benefício do verde, da sombra, da regulação térmica urbana, do resgate de carbono.
Quem sabe as crianças, mesmo que hoje manipuladas para posarem de ecologicamente corretas, não terminem por despertar para a realidade de que em matéria de proteção ao verde, não dá para quebrar galho. Muito menos cortar.
IMG_7139
__
Fonte: [ Satyagraha ]

sábado, 4 de novembro de 2017

As 3 Leis da Abelhadinâmica

Eu e minhas divagações!

 Não sei como, mas meu “vício” por abelhas é tão grande que começo a enxergá-las em vários assuntos que me envolvem. Estava lendo um texto sobre entropia e sintropia que me enviaram, e como tenho estado afastado das terminologias da termodinâmica, resolvi dar uma relembrada lendo algum material. Não teve jeito, foi ler as 3 leis e logo fazer uma abelhuda associação, talvez possam até achá-la absurda!
Então a Primeira Lei da Abelhadinâmica – por associação - "Se dois corpos A e B estão separadamente em equilíbrio térmico com um terceiro corpo C, então A e B estão em equilíbrio térmico entre si." Traduzindo: Se as abelhas e a civilização estiverem separadamente em equilíbrio com a natureza, então abelhas e civilização estarão em equilíbrio entre si!
Segunda associação - “O calor não pode fluir, de forma espontânea, de um corpo de temperatura menor, para um outro corpo de temperatura mais alta.” Traduzindo: Os resultados da polinização não podem fluir, de forma espontânea, de um gênero de insetos que trabalham em prol da natureza para um conjunto de animais que destroem a natureza.
E finalmente a última lei da Abelhadinâmica. “Sempre que um sistema encontra-se em equilíbrio termodinâmico, a sua entropia aproxima-se de zero.” Traduzindo: Sempre que a natureza encontra-se em equilíbrio abelhadinâmico, a sua entropia aproxima-se de zero!
Para deixar mais clara a nomenclatura usada na 3ª Lei da Abelhadinâmica, podemos entender que o termo entropia, criado pelo físico alemão Rudolf Clausius, significa desordem/confusão que tende a aumentar e se propagar, e foi cunhado para explicar os princípios de Carnot. Classicamente define-se entropia como sendo a quantidade energia de um sistema que não pode ser convertida em algo útil. O termo entropia significando uma desordem sem função útil, também foi aplicado nas mais diversas áreas do conhecimento, tais como: a Teoria da Informação, a Fisiologia, a Ecologia e a Economia, e até no Criacionismo!
Já o termo "sintropia", por sua vez, foi cunhado pelo matemático italiano Luigi Fantappiè, (do grego syn=juntos, tropos=tendência), a fim de descrever as propriedades matemáticas da solução de ondas avançadas da equação de Klein-Gordon, que une mecânica quântica com a relatividade.  Mas tem sido aplicada como a tendência para a concentração de energia, ordem, organização e vida. Não tem o conceito diretamente oposto à entropia como muitos pensam, mas sim complementar. Sintropia define o crescente nível de organização de forma complexa e inteligente sobre um ambiente entrópico, de modo a sempre dar uma finalidade útil, retroalimentando um sistema.

Meio estranha esta lógica, aparentemente sem lógica, mas é mais ou menos por aí que o conceito de sintropia caminha. Um princípio regido por uma inteligência complexa, que tende a buscar a ordenação e finalidade útil do que se encontra em desordem.
Ernst Götsch traduziu sintropia como a tendência ao aumento da organização e da complexidade na rede de atores que atuam da natureza, de forma a aumentar os recursos e energia disponível no ecossistema. Para Götsch essa lógica se manifesta tanto no microcosmo quanto no macrocosmo, e é entendida como a força motriz dos sistemas naturais que organizam e otimizam sistemas entrópicos, gerando mais complexidade sintrópica.
O que gostei na explicação que ele deu, foi o exemplo com as abelhas! Ernst Götsch explica que apesar das abelhas parecerem seres que poderiam ser consideradas como entrópicas (geradoras de desordem) em si, pois consomem uma grande quantidade de néctar e pólen ao longo de sua vida (trazendo desequilíbrio com esta coleta em grande volume e maneira continuada), no balanço geral de um sistema maior são altamente sintrópicas (ou seja, geradoras de equilíbrio).
A mensagem brilhante neste exemplo do Ernst, é que ele leva em conta os diversos efeitos benéficos da ação polinizadora das abelhas dentro de um macro sistema acima das abelhas. Os efeitos da polinização são fundamentais tanto para o equilíbrio quanto para a potencialização dos recursos do macro sistema como um todo. Resumindo o que ele quer dizer, é que apesar das abelhas extraírem muitos recursos florais, retribuem com o efeito da polinização, que não só beneficia a própria planta doadora de recursos, mas também toda a cadeia alimentar que é formada a partir da polinização, e assim o ciclo se mantém, e a planta continuará a poder ceder recursos fartos para as abelhas sem se extinguir.
Baseado nesta lógica, aplicarei a abelhadinâmica em nossas vidas, analisando também a sintropia e a entropia!
A civilização atual apresenta capacidade investigatória científica suficiente para conseguirmos analisar com clareza os impactos e consequências das várias atividades da vida moderna sobre o meio ambiente, é só querer ser honesto e verdadeiro. E deve-se deixar claro que NÓS estamos contidos no meio ambiente! Por estarmos diretamente implicados no sistema, temos que desenvolver a capacidade de parar, e analisar fria e honestamente, se os resultados são entrópicos ou sintrópicos ao grande sistema a que pertencemos!
Posso deduzir rapidamente que o homem moderno não aplica as 3 Leis básicas da Abelhadinâmica!

Vou tentar destacar e comentar algumas atividades que, em minha opinião e acredito ser também da maioria dentro da AME-RIO, são perigosamente entrópicas (desorganizadas) e prejudiciais às abelhas, e por tanto aplicando-se a 2ª Lei da Abelhadinâmica, também à civilização.

Vamos colocar em pauta um Tendão de Aquiles da nossa civilização: a agroindústria, por exemplo.
Qualquer discussão que se dê início em uma roda de pessoas sobre as consequências entrópicas da agroindústria, vem a tona argumentações que apontam o total desequilíbrio que está sendo gerado: ser praticada nos atuais moldes exploratórios, pode-se dizer extrativista; ser baseada em uma lógica de produção sem preocupação com o solo ou com o meio ambiente; e ser associada a um pacote de agrotóxicos e fertilizantes químicos, que alteram todos os ciclos naturais.

O primeiro e único contra-argumento trazido em pauta pelos seus defensores é: “Já somos 7 bilhões de pessoas, se a agropecuária não fosse praticada nos atuais moldes, a humanidade morreria de fome”...

Ernst Cassirer diz que "o inimigo da ciência não é a dúvida, mas o dogma". Esta contra-argumentação dos 7 bilhões engessa a visão dos acadêmicos, e dificulta que voltem suas atenções às pesquisas alternativas aos pacotes Tech!

Atualmente esta ideologia tem sido vinculada como: “Agro é tech, Agro é pop, Agro é tudo” Concordo em gênero, número e grau em relação ao slogan da campanha. A agropecuária tem que estar embasada na tecnologia, e tem que ser voltada para a população. Mas o triste desvio é quererem impor uma associação de “tecnologia” ao uso da química como “defensivos fitosanitários”. Isso mesmo, “defensivos fitosanitários” é o eufemismo criado para dissociar qualquer relação entre o perigo de usar veneno na agricultura, e a ingestão contínua deste veneno pela população! A publicidade é tão forte que a maioria dos envolvidos na agricultura familiar considera agrotóxicos como um"remedinho" ou uma "enxada rápida"!   
Eu me pergunto, como artifícios químicos e altamente tóxicos como estes podem ser considerados “Tech” ou “Pop”? Não fecham o ciclo, não trazem agregação ou vida para o ciclo em que estamos inseridos. Matam abelhas, matam pessoas, quebram cadeias alimentares. São entrópicos tanto na visão micro cosmo, como no ponto de vista do macro cosmo, e só não percebe quem não quer!
Eu particularmente defendo a agropecuária sintrópica, orgânica, o “slow food”. A agricultura sintrópica é a que realmente agrega valor e vida ao alimento. 

Para os mais radicais, aqueles que defendem uma agropecuária mais intensa do que a orgânica ou sintrópica, ainda existem tecnologias alternativas como as que utilizam os biodefensivos, ou outras tecnologias que causam menor impacto ambiental. A meu ver não é a solução ideal, mas é menos agressiva, menos entrópica!
No contexto dos agrotóxicos tem lenha para muita discussão, mas acredito que temos a obrigação de conduzir o diálogo à luz da manutenção dos recursos futuros e das consequências diretas que estão ocorrendo ao adotarmos tecnologias entrópicas, como a dos agrotóxicos. Entendo que usar veneno é um conceito imposto de geração em geração de modo a formar uma nova ideologia, desta vez não a de gênero, mas a de propósito. O veneno trocou de nome: agora é “Defensivo Fitosanitário”, virou POP e estrela de comercial! Controle Fitosanitário é Tech, é Pop, graças a PL 6299/02 e PL 3200/15, propostas pela bancada ruralista, que proíbem o uso do termo “agrotóxico”. E qual é o propósito? Sanar a fome? 
Outra grande ideia imposta, associada aos venenos e adubos químicos são as sementes transgênicas. A grande ideia tecnológica é gerar “plantas veneno”, para matar as pragas que comem o precioso alimento que salvará o planeta da fome! Tecnicamente não se sabe se é uma planta realmente ou um veneno disfarçado!
Contra esta ideia mórbida não há como não argumentar: se a folha de uma planta transgênica mata um inseto centenas de vezes menor que o ser humano, pode em algum momento também causar algum dano neste mesmo ser humano que se alimenta deste mesmo tipo de planta por 50 ou mais anos seguidos!! É a associação mais básica que pode ocorrer até a uma criança! Mas os defensores da indústria do veneno logo citam Paracelsos, e declaram que o que torna uma substância em veneno é a dosagem! E ignoram premeditadamente o efeito cumulativo ou a toxidade crônica! Afinal as sementes destas plantas são patenteadas e as indústrias lucram uma fortuna, e uma pessoa não viverá tanto tempo para evidenciar os seus efeitos!
Abro um parênteses, para trazer abaixo maiores informações sobre a contra argumentação Paracelsos.

Hoje já se conhece mais sobre o processo de INTOXICAÇÃO, que pode ser desdobrado, para fins didáticos, em quatro fases:
Fase de Exposição: É a fase em que as superfícies externa ou interna do organismo entram em contato com a substância. Importante considerar nesta fase a via de introdução, a frequência e a duração da exposição, as propriedades físico-químicas, assim como a dose ou a concentração e a susceptibilidade individual.
Fase de Toxicocinética: Inclui todos os processos envolvidos na relação entre a disponibilidade química e a concentração da substância nos diferentes tecidos do organismo. Intervêm nesta fase a absorção, a distribuição, o armazenamento, a biotransformação, assim como a velocidade de sua eliminação do organismo.
Fase de Toxicodinâmica: Compreende a interação entre as moléculas da substância e os sítios de ação, específicos ou não, e consequentemente, o aparecimento de desequilíbrio.
Fase Clínica: É a fase em que há evidências de sinais e sintomas, ou ainda, alterações patológicas detectáveis mediante provas diagnósticas, caracterizando os efeitos nocivos provocados pela interação do toxicante com o organismo.

 Como pode ser deduzido pelo resumo acima a única alteração, entre as 4 fases, que pode ser detectada pelo homem comum no SUS (Sistema Único de Saúde) é a fase clínica, onde as evidências se manifestam sem deixar dúvidas da toxicidade!
A outra alternativa de “Agro tech” que querem impor como coerente é usar outro tipo de plantas alteradas geneticamente, as que resistem a um veneno em específico. Desse modo pode-se aplicar veneno com mais “segurança” na lavoura.  O que significa “mais segurança” na lavoura “Agro tech”? Significa poder aplicar mais vezes veneno, pois a planta cultivada não morrerá pelo excesso daquele veneno!

Os defensores deste modelo agressivo e suicida de agricultura alegam que o agricultor aproveita desta resistência e excede desnecessariamente nas aplicações dos “defensivos fitosanitários”. Porém quem visa apena$ o lucro não quer ga$tar mai$ recur$o$ comprando mai$ veneno do que o nece$$ário. Afinal quem lida com estes grandes volumes de agrotóxicos são os grandes empresários da agroindústria, e não o agricultor da agricultura familiar! 

Mas a mídia não comenta que os tais “defensivos fitosanitários” não estão mais fazendo os efeitos esperados.

E com esta lógica incoerente, como justificar o “Agro pop”? 
Como justificar a população que consome frutos envenenados?
Ou como justificar a população de polinizadores, que morrem ao pousar nessas flores regadas a veneno? 
Nego tecer mais comentários, de algo tão evidente! Apenas pergunto: matar polinizador tem relação com tecnologia? Alimentar a população com veneno significa tecnologia? A meu ver estas atividades têm outros nomes!

Como este pensamento pode ser Pop, ou mesmo Tech? Para mim fere a 3ª Lei da Abelhadinâmica: - Sempre que a natureza encontra-se em equilíbrio abelhadinâmico, a sua entropia (desordem) aproxima-se de zero!

A partir de 2008, o Brasil passou a ocupar o primeiro lugar no ranking mundial de maior consumidor de agrotóxicos. Segundo a ANVISA e o Observatório da Indústria dos Agrotóxicos da Universidade Federal do Paraná, enquanto nos últimos dez anos o mercado mundial de agrotóxicos cresceu 93%, no Brasil o crescimento foi de 190%. A agricultura brasileira caracteriza-se pelo crescente consumo de agroquímicos, associado ao aumento proporcional das monoculturas, cada vez mais dependentes dos insumos químicos, um modelo de produção que difunde a falsa ideia de que a “modernidade" no campo gera progresso, emprego, renda e elimina a fome.
A presença de agrotóxicos nos alimentos é conhecida pela população, porém o impacto e malefícios na saúde ainda é vergonhosamente pouco divulgado. A pesquisadora do Instituto Nacional do Câncer - Márcia Sarpa - afirma que há fragilidades nos critérios de classificação toxicológica dos agrotóxicos utilizados pela Anvisa. Para Sarpa a classificação é vaga uma vez que leva em consideração apenas uma exposição por um curto período de tempo. "Há os efeitos neurotóxicos, que são efeitos sobre o sistema nervoso central, por exemplo o Mal de Parkinson também já foi associado a exposição aos compostos” afirma.
Se agrotóxicos geram efeitos neurotóxicos constatados em seres humanos, por que não gerariam nas abelhas?  Para mim o uso de agrotóxicos para produzir alimentos é altamente entrópico!
Mas vamos mais adiante com as argumentações sugeridas pelos defensores da AgroTech, vamos tentar entender esta corrida pela produção de mais e mais alimentos para matar a fome de 7 bilhões baseada neste pacote tecnológico tóxico-químico.

Conseguimos manter o planeta equilibrado e alimentado com o que produzimos? Eu gosto de fazer associações palpáveis para poder chegar a alguma conclusão, e para isso fui buscar mais algumas informações, vamos a elas ...

Não sei por que razão, tomei como base de parâmetros o Município de JATAÍ, no meio de Goiás, cerrado brasileiro, distante 1098 km do porto de Santos. Jataí é considerada a capital da produção de grãos e leite de Goiás e o maior produtor nacional de milho. Tenho medo de pensar o porquê do nome Jataí para este município no meio de Goiás. Será que existiam muitas jataís?
Deixemos de lado as jataís do município de Jataí, pois elas devem agora ser muito raras, e vamos aos seus agricultores. Eles e os demais agricultores de Goiás esperam colher nesta safra mais de dez milhões de toneladas de grãos, mas escoar a produção é um desafio, já que várias rodovias estão em péssimas condições, o que já é um absurdo para um eixo integrador produtor/exportador!
Fora as condições das estradas, deve-se considerar as caçambas dos caminhões. São aquelas mesmas que também levam madeira, caixotes etc. Pode não parecer importante, mas estas caçambas chegam a perder até 700 quilos de grãos em um trecho de 450 quilômetros. Fazendo as contas, podemos supor que ao percorrer os 1098 km até o porto de Santos, pode haver uma perda de até 1700 kg de grãos jogados ao longo da estrada por um único caminhão! Reportagens supõem perdas de até 115 mil toneladas só no transporte dos grãos oriundos do cerrado.
A grande pergunta é: para que produzir mais, se a tecnologia de transporte não acompanha a de produção? 115 mil toneladas de grãos alimenta MUITA gente!!!  Onde está a sintropia, onde está a agregação de utilidade, de coesão, de ordenamento inteligente?  
Então agora vamos analisar a coleta de grãos. É sabido, no milho por exemplo, que a coleta mais eficiente é feita manualmente, e o método manual é inclusive usado como referência padrão nas comparações das máquinas colheitadeiras. Pois bem, a perda aceitável foi determinada em 60Kg/ha, mas na realidade estimam-se perdas nesta operação de até 109kg/ha. Só o município de Jataí que contabiliza 220 mil ha de milho plantado na safrinha de 2017, pode-se chegar a uma perda, só na colheita, de 11881 ton de grãos!! Cadê a sintropia (utilidade/agregação inteligente) nisso tudo?
Não bastasse o desperdício comprovado em toda a cadeia de produção, a tecnologia burra para alimentar 7 bilhões de pessoas conseguiu extinguir 80% do cerrado, o que se traduz de imediato na alteração da capacidade de absorção de água pela terra, e na alteração dos ciclos da chuvas só para começo de conversa...  O arqueólogo Altair Sales Barbosa, que há quase 50 anos estuda o papel do Cerrado na regulação de grandes rios da América do Sul alerta:
“O rio São Francisco está secando, haverá cada vez menos água em Brasília e a cidade de São Paulo terá de aprender a conviver com racionamentos.”
De quebra, o milionário agronegócio ainda levou junto com a extinção dos 80% do cerrado, quase 100% das abelhas nativas.  A visão “tecnológica” destes milionários investidores é que abelhas não são essenciais aos seus negócios! Se não fosse a paixão dos meliponicultores, enfrentando leis e regulamentos distorcidos impostos a nossa classe, muitas abelhas só poderiam ser vistas nos livros de histórias.
Me referi acima só a região central do Brasil, temos agroindústria suicida no sul, sudeste, norte e nordeste! É muito desmatamento! É muita abelha extinta! É muita incoerência!

Aplicação direta da 2ª Lei da Abelhadinâmica, o resultado do trabalho dos polinizadores não consegue fluir para os animais humanos que se mostram cada vez mais devastadores! A fome em diversas partes do planeta continua a existir, não pela falta de alimento, mas pelo egoísmo. A população brasileira e trabalhadores vem contabilizando um aumento de canceres. Tudo altamente entrópico (desordem generalizada)!
Não vou mais cansar ninguém com esta leitura chata, mas não posso deixar de trazer mais um dado para tentar responder a pergunta:

Vamos matar a fome do Mundo?

Soja no Brasil (segundo maior produtor mundial do grão) 
Fonte: CONAB

Produção: 113,923 milhões de toneladas

Área plantada: 33,890 milhões de hectares

Produtividade: 3.362 kg/ha

Consumo interno de soja em grão: 47,281 milhões de toneladas

Exportação de soja em grão: 51,6 milhões de toneladas - U$ 19,3 bilhões
Exportação de farelo: 14,4 milhões de toneladas - U$ 5,2 bilhões

Alimentamos toda a população brasileira (208 milhões) com 47 milhões de toneladas de grãos, e ainda exportamos um excedente de 66 milhões de toneladas somente de grãos e farelo, e pergunto: para onde vão estes grãos todos, o que levam junto deles para fora de nossas terras? Matam a fome das zonas esquecidas e famintas do planeta?

Junto com estes 66 milhões de toneladas de grãos e farelo estão sendo também exportadas a água de Brasilia e de São Paulo. Contabilizando só a região centro-oeste brasileira, cada grão leva junto, parte dos nossos 80% de Cerrado devastado, e a vida das nossas abelhas nativas que viviam lá! Exportam a cada ano nacos generosos dos nossos recursos naturais dos 5 cantos do Brasil que deveríamos entregar aos nossos filhos e netos. 

Proporcional ao crescimento das exportações, crescem casos de câncer que matam os brasileiros.  Isso só focando a produção de grãos, e se contabilizar os demais insumos exportados, carne, frutas, algodão, etc? E o lucro imediato e financeiro destas exportações, onde está? Em qual banco internacional, em qual investimento internacional?
O mais covarde em toda esta entropia é a imposição da ideologia dos “defensivos fitossanitários” às crianças que ainda não constituíram e acumularam informações suficientes para julgar! Lindos e bem editados desenhos animados são produzidos por empresas que fabricam veneno, e já tentam implantar a incoerente ideia nas crianças, de que as abelhas só nos cobram “respeito” e “o uso correto dos defensivos e tecnologias agrícolas” em troca da polinização!
Esta é a informação dada nos últimos segundos de exibição, após uma apresentação linda e impecável sobre a importância das abelhas!

Acho que já pensei e falei demais para demonstrar a incoerência em não se aplicar as 3 Leis da Abelhadinâmica em nosso sistema produtivo de alimentos. Um conjunto de Leis que mostram uma visão bem melipônica dos efeitos sobre nossas abelhas, e sobre nós mesmos, da tecnologia baseada em agrotóxicos!

A tecnologia que querem impor é agressiva à natureza, incoerente, destrói o palco agrícola, todos seus atores diretos (abelhas e produtores) e indiretos. Mata a fome e simultaneamente o próprio consumidor. Gera-se total desordem tanto ao nível micro como macro do sistema. A entropia causada não estabelece uma sintropia em um plano maior, tal como o exemplo das abelhas do Ernst Götsch. Não conseguimos matar a fome do Mundo, no entanto envenenamos milhares de pessoas, bilhões de polinizadores, destruímos centenas cadeias alimentares completas, e implacavelmente destruímos os recursos naturais futuros de nossos herdeiros, estamos transformando vida em deserto!

Não consigo ver qualquer sinal mínimo que seja de equilíbrio entre civilização, natureza e abelhas (1ª Lei), de haver fluência de algum benefício em prol dos polinizadores (2ª Lei), ou de um mínimo de sintropia/equilíbrio inteligente como consequência da ação da nossa civilização sobre a natureza (3ª Lei).

Situação muito triste, mas reversível! 

Existem 3 níveis de atuação dentro do “sistema civilização”, e um deles pode ser alterado trazendo equilíbrio: Dentro do sistema civilização existem os que lutam pela entropia, os que lutam pela sintropia, e os indiferentes.  
A virtude da nossa geração é a atividade intelectual, e nosso vício é a indiferença moral.
Não olhar para os lados é pior que ser cego.
Não olhar para o outro é o mesmo que desconhecer a si mesmo.
Não perceber o que acontece é ignorância, mas, perceber, e não interferir, é egoísmo.

Não sejamos indiferentes às tecnologias que nos matam!
Não sejamos indiferentes ao clamor dos polinizadores que vêm sendo extintos sucessivamente!
Sejamos como as abelhas: Vamos espalhar vida, cooperação, justiça por onde passarmos! 

MEDINA