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sábado, 31 de julho de 2010

Ribeirão Preto sediou encontro internacional sobre abelhas

Ribeirão Preto sediou encontro internacional sobre abelhas

O 9ª Encontro sobre Abelhas ocorreu de 28 a 31 de julho, no hotel JP, localizado na rodovia Anhanguera, próximo ao km 306, em Ribeirão Preto. O evento contou com especialistas de todo o mundo e acontece na cidade a cada dois anos.

Lúcio Schmidt, Raoni Duarte, João Pedro Cappas, Pedro Farias, Pedro Paulo Peixoto e José Winckler
Abenautas reunidos no Hotel JP após o encerramento das atividades da quinta feira.

Este 9ª Encontro tratou da genética e da biologia evolutiva das abelhas, com oportunidades para a troca de idéias com os principais nomes da pesquisa mundial sobre o assunto e a visitas aos laboratórios com estas linhas de pesquisa no câmpus da Universidade de São Paulo em Ribeirão Preto.
Ms Megan Halcroft, pesquisadora de abelhas sem ferrão australiana e Prof. Marilda Cortopassi-Laurino, entre Pedro Paulo Peixoto e José Halley Winckler, da AME-RIO, no início das atividades de sábado.
Este câmpus abriga hoje a maior coleção mundial de abelhas sociais sem ferrão (Meliponinae) e é reconhecido por suas pesquisas com abelhas africanizadas, tanto na área de genética quanto na área comportamental e de manejo. Estão envolvidos diretamente nas pesquisas destes laboratórios em Ribeirão Preto 11 professores e mais de 40 alunos de graduação, pós-graduação e pós-doutorado.
Meliponário do Prof. Paulo Nogueira Neto
Além do programa científico, com diversos simpósios e conferências, o evento abordou a histórica cooperação Brasil-Alemanha nessas pesquisas, com a presença de pioneiros como o professor Wolf Engels, da Universidade de Tubingüen.


Após o encerramento do encontro o Prof. Paulo Nogueira Neto, principal nome da meliponicultura nacional, convidou os participante do encontro para uma visida a sua fazenda em São Simão, onde tiveram oportunidade de conhecer as suas abelhas, degustar uma feijoada maravilhosa, além de se deliciar com os conhecimentos do Mestre das Abelhas.
José Winckler e Pedro Paulo, com o prof. Paulo Nogueira Neto.

Prof. Paulo Nogueira Neto examinando uma caixa de Melipona scutellaris.

Abrindo o invólucro de uma outra Uruçu.

Pausa para descanso.

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Encontro sobre Abelhas - Segundo Dia

Na quinta feira o dia começou cedo, com a ótima palestra plenária da Dra. Vera Imperatriz Fonseca - Biodiversidade, conservação e uso sustentado de polinizadores, com ênfase em abelhas do Brasil.






Depois da ótima palestra da Dra. Vera, um coffee break, com abundância de sucos e biscoitos.


Depois disso foram cinco palestras do Simpósio de Polinizadores.
E depois pausa para almoço, com direito a companhia do professor Paulo Nogueira Neto, do Cappas, da Prof. Vera, do Pedro Paulo e do Cunha. (fotógrafo fica sempre de fora).
Mas acabei ganhando uma aula particular, sobre os codices maias e como eles faziam suas divisões de Meliponas.

Depois do almoço mais 5 palestras do simpósio e apresentação de painéis. Fotos e informações em próximas postagens.

Uga

José Halley Winckler

quinta-feira, 29 de julho de 2010

APACAME, Paulo Nogueira Neto e Pedro Cappas

Como amplamente divulgado, nosso amigo Cappas está no Brasil para proferir algumas palestras aos amigos das abelhas nativas.
Dentro do programa, no último dia 26 estava programada uma palestra para os associados da Apacame e demais interessados da capital.
Como não podia deixar de prestigiar o amigo de tantas mensagens, parti para Sampa.
Lá chegando fui encontra-lo na residência de um dos ícones da meliponicultura brasileira, o Mestre Paulo Nogueira Neto.
No quintal de casa a locomotiva pioneira da estrada de ferro do avo do Mestre PMM
Uma interessante boca de sapo
Paulo Nogueira Neto, Pedro Cappas, Gesimar
Numa mansão no Morumbi, cercado de muito verde, abelhas sem ferrão e sua prestimosa equipe lá os encontrei e pudemos conversar por bom par de horas.
Entrevistei brevemente o Mestre, sempre acompanhado do atento Cappas.
Da prosa posso dizer a todos que a nova edição de sua bíblia, " Criação de Abelhas Indígenas sem Ferrão " , deve sair no ano que vem.
Antes disso uma auto-biografia relacionada aos trabalhos em meio ambiente deve sair do prelo antes do fim do ano, graças ao apoio do Banco Itaú.
Discutimos sobre o controle de meliponários e as exigências para o transporte de colonias, sendo que ele considera que após as eleições poderemos ter mais atenção dos órgãos competentes. Pediu para ser alimentado com documentos e sugestões para que possa ajudar em nossos pleitos.
Tem esperanças que os atuais ministros tenham alguma abertura para diferenciar as abelhas de outros animais.
Chegada a hora , enfrentamos aquele transito ligeiro da grande capital e chegamos ao Parque da Água Branca, onde uma respeitável platéia aguardava o nobre palestrante.


Chegada na Apacame
Disparado o projetor , grande safra de conhecimentos foi posta à disposição
dos presentes, chegando o encontro até quase as onze da noite.
Visão geral da plateia

Não fossem os compromissos ainda estariamos por lá a sorver conhecimentos.
Parabéns Cappas, obrigado Mestre Paulo Nogueira Neto, obrigado Apacame !

Seguem-se, ainda nessa semana os eventos de Ribeirão Preto e a visita da Ame-Sampa à fazenda-escola do Mestre.

Gesimar


IX Encontro sobre Abelhas - Começou

Internautas e Amigos da AME-RIO


O IX Encontro sobre Abelhas de Ribeirão Preto finalmente começou. Depois de uma viajem de 10 horas entre Rio de Janeiro e Ribeirão Preto, com direito a ida até Guapimirim para buscar o Pedro Paulo, uma noite quase insone devido a ansiedade pela nossa primeira participação em um Congresso de Meliponicultura, chegamos cedo ao Hotel JP, local de realização do Encontro.
Entrada da área do encontro, antes das 8:00hs, quase vazia.
Conseguimos pegar o nosso material com muita tranquilidade.
Até registrar a chegada do PNN, acompanhado do Prof. Leonel, um dos homenageados nesse ano.
PNN, Cappas, nosso presidente Pedro Paulo e atrás o Prof. Engels, o outro homenageado desse ano.

10:45hs - Finalmente vai começar o Congresso, formação da mesa para Cerimônia de Abertura

Homenagem ao Prof. Engels e ao Prof. Leonel
Homenagem póstuma à João Camargo.
E ao Padre Jesus Santiago Moure
Palestra Plenária - Prof. Marcelo Valle de Souza
Apresentação no Simpósio em Homenagem a João Camargo

E agora eu peço desculpas, mas já são quase 7:30hs e o Congresso começa às 8:00hs, e estamos hospedados em hotel diferente. Aguardem novas notícias.

UGA

segunda-feira, 19 de julho de 2010

ENCONTRO DA AME-RIO DE JULHO - ADIADO

Prezados associados e Amigos da AME-RIO

Infelizmente, trazemos aos senhores a notícia que o nosso encontro, marcado para dia 31 deste mês, está adiado para uma nova data, ainda a ser confirmada, pelas razões seguintes:
1 -  Primeiramente pelo falecimento da nossa querida Diretora da Escola Wenceslao Bello, Dra. Vera, perda instimável desta que foi uma colaboradora sempre presente a apicultura e meliponicultura do Estado do Rio de Janeiro.
O nosso contato na Escola, o Mestre Pompilio, buscará um acordo com a nova Diretoria, afim de viabilizar um dos auditórios para as nossas atividades.

2 - A data marcada anteriormente, coincide com a realização do IX Encontro Sobre Abelhas de
Ribeirão Preto,  com seu precioso programa de palestras e aulas,  lá estarão os maiores mestres da meliponicultura e apicultura mundial, não só do Brasil.
Nosso Blog já noticiou este assunto, vejam nossa postagem:  IX Encontro Sobre Abelhas
Os associados que comparecerem com certeza nos trarão notícias técnicas que serão muito úteis aos que não tiverem a chance de ir, inclusive no domingo posterior ao encontro (01 de agosto) ocorrerá a visitação à Fazenda do PNN, com a palestra do Mestre Cappas e presença maciça dos associados da AME-SAMPA.

3 - A nova data de nosso encontro, será oportunamente divulgada, se possível dentro do mês de agosto e na Escola Wenceslao Bello, por ser central e ter a infra-estrutura necessária para as palestras previstas.

Comparecerão a Ribeirão Preto os seguintes associados: Marlene. Winckler e Pedro Paulo. Teria sido excelente se tivéssemos conseguido formar uma caravana para este belo passeio...fica pros próximos anos...

Um forte abraço a todos.

Pedro Paulo Peixoto
Presidente da AME-RIO

domingo, 18 de julho de 2010

O papa das abelhas

MEMÓRIA
Padre Moure, em 2002, em encontro na sua cidade natal, Ribeirão Preto: a seu lado, uma colônia de abelhas Frieseomelitta varia
O padre Jesus Santiago Moure pode ter sido um dos últimos de sua espécie. Formado nos rigores da vida religiosa, cedo abraçou os estudos de entomologia e fez deles sua redenção. Tornou-se uma referência mundial no gênero
Publicado em 17/07/2010 | José Carlos Fernandes - Gazeta do Povo


Há uma semana, em Batatais, interior de São Paulo, morreu o padre e cientista Jesus Santiago Moure. Tinha 98 anos, 68 deles passados em Curitiba, onde desenvolveu pesquisas científicas no Departamento de Zoologia da Universidade Federal do Paraná. A sala 395 do Centro Politécnico era seu quartel-general. Dali partiu para o mundo, literalmente, sendo aclamado como o maior especialista em abelhas tropicais e papa da taxonomia numérica – para dizer o mínimo.

Os números que envolvem o padre Moure são superlativos: publicou 216 trabalhos e propôs cerca de 500 nomes de abelhas – a primeira foi a Augochloropsis liopelte, em 1940. Seu fichário de 12 mil itens, datilografado, hoje serve de bíblia para entomólogos com um mínimo de juízo científico. A simples menção a sua presença num congresso de estudiosos era o bastante para que muitos – não sem antes respirar bem fundo – se aproximassem, pedissem licença para tirar uma foto e arriscassem falar das próprias investidas. Não era recomendável vacilar.
A entrega do padre Moure à pesquisa, com perdão ao trocadilho, era sacerdotal. Embora não fosse dado a discursos sobre sua própria atividade – principalmente as religiosas – impressionava pelo tempo dedicado aos estudos. Numa rara licença sobre sua intimidade, confidenciou ao entomólogo mineiro Gabriel Augusto Rodrigues de Melo, 43 anos, um de seus discípulos, não dormir mais do que três horas por noite.
A vida insone explica em parte o volume de sua produção. E deixa a curiosidade sobre quem era o homem por trás do cientista. Eis uma questão difícil de responder. Até onde se tem notícia, padre Moure não deixou escritos sobre outro assunto que não ciência. Segundo a professora Danúncia Urban, 77 anos, sua mais longeva colaboradora no Departamento de Zoologia da UFPR, ele escrevia cartas, à mão, todos os dias. Seus interlocutores: cientistas dos quatro costados, como Newton Freire-Maia.
Gabriel de Melo e Danúncia Urban na sala de Moure no Politécnico: ciúme das abelhas
Danúncia, Gabriel – e outros companheiros de ofício, como os professores Jayme de Loyola e Silva e Renato Marinoni, para citar alguns –, registraram em artigos e entrevistas a grandeza intelectual do padre cientista. Gabriel, de forma particular, chegou a esboçar uma biografia, acompanhada de levantamento iconográfico, sobre o mestre e apresentou-a na festa dos 90 anos, em 2002. Mas ainda há muito a ser feito e a ser respondido sobre o estudioso radicado no Paraná.
A grande lacuna é entender porque cargas d’água Moure abdicou paulatinamente do ministério religioso, resumindo-se a rezar missas matinais, para se enfurnar diante dos microscópios e computadores – uma de suas paixões. Para o teólogo espanhol Jaime Sánchez Bosch, diretor do Studium Theologicum de Curitiba e irmão de congregação religiosa de Moure – os missionários claretianos – a resposta é só uma: “Era sua genialidade. Ele tinha um talento incomum para a ciência. Um interesse bárbaro por tudo. Pensou em abdicar, mas ao se ver diante das oportunidades de pesquisa, não quis desperdiçá-las.”
Moure, ao centro, com Loureiro Fernandes e Carlos Stellfeld, em 1942
A pergunta intriga o próprio Jaime. Ele lembra que na década de 1930, quando o cientista Moure começa a se desenhar, havia na comunidade claretiana de Curitiba um espanhol de nome Jesus Ballarin, um expoente da filosofia e da cultura. “Ele pode ter se espelhado nesse padre e visto ali a possibilidade de mesmo sendo sacerdote participar ativamente do mundo do conhecimento”, arrisca.
O zoólogo Gabriel de Melo tem outro palpite. Ainda adolescente, no seminário menor da cidade de Rio Claro, no interior de São Paulo, Moure fez as primeiras coletas de insetos ao lado de um colega de batina, Francisco Pereira. Na vida adulta, Pereira também se tornou um cientista de renome. Melo observa ainda que antes de ordenar padre, Moure visitou museus de História Natural e trocou correspondências com expoentes da entomologia, o que já apontava para seu grande desejo de conciliar o claustro com os laboratórios.
Moure de jaleco numa excursão ao Marumbi, em 1947: ligação protocolar
O assunto é tratado com reservas na congregação de Moure, mas tudo indica que o cientista nasceu de alguma frustração pastoral e da desavença com um de seus superiores e com um bispo. O próprio padre reconheceu isso em entrevista dada à revista Ciência Hoje, em 1990, na qual declarou ter sido perseguido por acreditar na Teoria da Evolução. Quem quer que tenham sido seus detratores, acabaram fazendo um bem danado ao saber acadêmico.
O fato é que nos anos 1940, Moure deixa sua atividade na Ação Católica e se vincula a um grupo emergente de cientistas ligados ao Museu Paranaense e Museu de História Natural. Torna-se amigo de José Loureiro Fernandes, Frederico Lange, André Mayer, Carlos Stellfeld, João José Bigarella. Em pouco tempo viria a universidade. De uma vez por todas, o pastor seria reduzido ao mínimo múltiplo comum.
Essa disparidade entre os dois Moures é, com folga, um dos traços mais curiosos a ser explorado em sua futura biografia ampliada. Ouvindo os confrades e os professores é, quase sempre, como se falassem de pessoas diferentes. Em 2002, por exemplo, padre Moure chorou na UFPR ao se despedir de cada colega de trabalho. Estava de malas prontas para a casa de repouso no interior. No claustro da Paróquia do Coração de Maria, na Avenida Getúlio Vargas, impera a imagem do cura contrito, casmurro, e que cumprimentava com o dedo mindinho.
Sánchez é um dos raros a poder falar sobre o Moure padre. Conheceram-se em 1977. Nos muitos anos em que dividiram a mesma comunidade puderam tergiversar sobre os vários campos do saber. “Era um homem tímido. Mas se provocado, se tornava uma boa conversa”, opina. Conta que seu confrade não perdia uma corrida de Fórmula 1 e que adorava os cachorros. Chegou a ser derrubado por um pastor alemão, Jade, no quintal dos claretianos. Quebrou-se, é claro, sem mágoas com o cão.
Nada que o afastasse do trabalho na UFPR. Consta que mesmo acamado por duas quedas – uma no quintal de casa e outra na universidade – fez bancas e orientação para doutorandos, reiterando a imagem de pesquisador espartano, que não deixava espaço para manifestar cansaço ou tristeza. “Ah! Mas ele adorava carros...”, sugere Danúncia, somando-se a Sánchez nas inconfidências. O primeiro, na década de 50, foi um Delfini, que ele aprendeu a dirigir numa única tarde no Tarumã. Beirando os 90 anos, cometeu a peraltice de dirigir sozinho até Joinville.
No dia a dia, contudo, não havia brechas: era preciso conquistá-lo. Danúncia, com folga a pessoa que melhor conheceu o padre Moure, falou com ele a primeira vez em 1951, em uma banca para entrar na graduação de História Natural. Não lembra o que ele lhe perguntou, embora não esqueça do que teve de responder aos seus inquisidores: “Por que o papagaio tem as penas verdes...” Ela ainda acha graça. E não perde as contas do rosário.
Incentivada pelo padre a pesquisar, recebeu dele incumbências sempre aos poucos. “Da primeira vez ele me mostrou duas abelhas e perguntou: ‘São iguais?’ Tive de desmontá-las. De outra, ele me deu um grupo de abelhas para estudar. Tinha muito ciúme da sua coleção.” Apenas quando já estava em vias de se aposentar é que Danúncia tomou coragem, entrou no gabinete do mestre e sem muitos dedos abriu uma das gavetas e carregou uma série para estudos. A essa altura, já somavam mais de quatro décadas de pesquisa científica em conjunto.
Moure, Millirón, Michener e o paranaense Bigarella, em outubro de 1955
“É natural”, diz Gabriel. Moure passou uma vida fazendo prospecções nos fins de semana. Aqueles cabos de vassoura com um coador gigante na ponta ainda estão atrás da porta de seu gabinete. Enquanto pôde, o fez. E à revelia de seu pé no freio com os colegas – o que não fazia nas estradas, segundo consta – dividiu com eles a organização do magnífico Catalogue of bees (Catálogo de Abelhas Tropicais, 2007). A devoção que a ele dedicam nasce dessa parceria à moda antiga. “Ele era uma espécie em extinção”, avisa Gabriel. Palavra de cientista.

sábado, 17 de julho de 2010

TUCUMÃ - O SURGIMENTO DA NOITE

ABELHA… CERA... A COBRA GRANDE -  TUCUMÃ - O SURGIMENTO DA NOITE

No início não existia a noite. Quer dizer, existia a noite, mas ela pertencia a uma enorme serpente, que a mantinha no fundo das águas.

Um dia a filha da serpente se casou, mas sem a noite, não conseguia consumar o casamento. Então, exigiu que viesse a noite, sem a qual não poderia se deitar.

O esposo então enviou três mensageiros para que a trouxessem. A serpente, senhora da noite, recebeu-os com indiferença. Mesmo assim, entregou-lhes um côco de Tucumã, lacrado com cera de abelha, dizendo-lhe que ali estava o que vieram buscar.

Não deveriam entretanto abri-lo, pois a noite poderia escapar. Na volta, os índios perceberam que do côco saiam ruídos de sapos e grilos. Um deles, o mais curioso, convenceu os companheiros a abrirem o fruto. E assim o fizeram. Logo que derreteram a cera, a noite saiu através do coco, escurecendo o dia.

A filha da serpente aborreceu-se, pois agora ela deveria descobrir como separar o dia da noite. Desta forma, ao surgir a grande estrela da madrugada, criou o pássaro Cujubim, ordenando que este cantasse para que nascesse a manhã. Em seguida, criou o pássaro Inhambu, que deveria cantar à tarde, até que viesse a noite. Criou ainda os outros pássaros para alegrar o dia, diferenciando-o da noite.

Aos mensageiros desobedientes, lançou toda a sua ira, transformando-os em macacos de boca preta -devido à fumaça - e risca amarela – pela cera derretida. Assim, a filha da serpente pôde finalmente se deitar e todos os seres puderam dormir.


Vocês entenderam? A diferenciação entre o dia e a noite só foi possível de ocorrer porque a serpente prendeu a noite em um côco e fechou com cera de abelha, se não tivesse abelha, não teria cera e até hoje ninguém saberia quando era dia e quando era noite. E aí não existiriam os pássaros para alegrar o dia.

Pode até não ser isso que essa lenda quis falar, mas...  sem abelhas... sem plantas... sem plantas.. sem pássaros... sem pássaros... sem nada....




Tucumã - O Surgimento da Noite
Lenda que se funde ao mito, ao início de tudo, princípio da vida e dos encantamentos do mundo, quando tudo falava: o sol, as plantas, os animais e, até mesmo a chuva. Mas não havia noite -- que a Cobra Grande roubou dos homens... Também não existiam os pássaros... somente desafios e segredos ainda a serem vencidos pelas tribos e pela coragem de Arutana.


 CD - Roda de Histórias

Narração: Vanessa Castro
Trilha Sonora: João Cristal
Coordenação de Produção: Lela
Financiado pelo Fundo de Cultura da Prefeitura de Santo André (2002)

Contatos: (11) 4991.7344
vanessacoliveira@hotmail.com
.



Retirado do documento:

Mitos Indígenas - Texto informativo sobre mitos e lendas dos índios brasileiros

Adaptação do Texto de Jayhr Gael

Clique aqui para baixar o texto

terça-feira, 13 de julho de 2010

Na fazenda de PNN

Internautas e Abenautas,

Ao receber estas imagens, enviadas pelo Mestre Cappas, não poderia deixar de colocá-las em nosso Blog, de forma a poder compartilhá-las com todos os amantes da Meliponicultura. 

Pedro Paulo Peixoto
Presidente da AME-RIO


Amigos aqui está umas fotos de um dia de convívio na fazenda de PNN em SãoSimão...

Nestas fotos podemos até ver o Padre Moure e muito mais gente ... é assim quando se junta a família meliponica. Certamente vai ser assim no dia 1 de Agosto ...
Estas fotos foram de um Encontro de Ribeirão Preto onde no dia seguinte todos se juntaram na fazenda de PNN. Grandes momentos de festa ...pena eu não ter ficado nas fotos , pois fui eu que as tirei ...
Fiquei com muitas saudades ... e triste, mas temos de continuar o trabalho desses Grandes Homens.
Envio uma outra foto, onde estou com o Padre Moure.
E agora, essa foto onde estou com todo o grupo.

Cappas

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Morre aos 97 anos o Padre Moure

É com imenso pesar que este Blog, remete à notícia publicada no Globo, de 10/09/2010, sobre a Morte do Padre Moure. Um dos mais famosos entomologistas brasileiros, foi um dos grandes mestres da meliponicultura brasileira.
 Na foto de quase meio século, junto com outros dois grandes mestres da Meliponicultura.
Seu sepultamento ocorreu em Batatais, no domingo 11/07/2010.

O Missionário Claretiano, Pe. Jesus Santiago Moure, tinha 73 anos de Ordenação Sacerdotal pela Ordem dos Claretianos. O sacerdote, que era considerado um dos mais antigos do Brasil, iniciou sua missão religiosa no ano de 1925, aos 12 anos de idade, quando entrou para o Seminário Claretiano em Curitiba. Em 1929, foi para o Seminário Maior Claretiano na cidade de Rio Claro, onde obteve formação superior em Filosofia, Ciências Naturais, Física e Matemática.
Pe. Moure graduou-se em Filosofia e Teologia pelo Seminário Claretiano em 1937. Descreveu em quase 70 anos de trabalho, mais de 400 espécies de abelhas, além da disseminação e formação de grupos de pesquisa por todo país. 
O Professor Doutor Padre Moure era um dos mais antigos e renomados pesquisadores de abelhas do Brasil e um dos mais famosos do mundo. Ele foi um dos responsáveis pela criação dos cursos de Pós-Graduação no Brasil, sendo um dos fundadores da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) e do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico). 
Em 2006, Pe. Moure recebeu em solenidade realizada no Palácio do Planalto em Brasília, o diploma de Pesquisador Emérito do CNPq em reconhecimento aos serviços prestados ao desenvolvimento da Ciência e Tecnologia no Brasil. A solenidade que contou com a presença do Presidente Luis Inácio Lula da Silva, comemorou os 55 anos do CNPQ, instituição ligada ao Ministério da Ciência e Tecnologia, que tem como missão, promover o desenvolvimento científico e tecnológico do país e contribuir a formulação das políticas nacionais de ciência e tecnologia.
Jesus Santiago Moure, recebeu a medalha da Ordem Nacional do Mérito Científico em 1998



SP: Morre aos 97 anos o Padre Moure, ícone da pesquisa científica no país
Plantão | Publicada em 10/07/2010 às 16h43m
EPTV
SÃO PAULO - Morreu na manhã deste sábado o padre Jesus Santiago Moure, aos 97 anos, em Batatais, no interior de São Paulo. Cientista, ele contribuiu para a fudação do CNPq, Capes e SBPC, os principais órgãos relacionados à pesquisa no país.
O seu trabalho como cientista e sua dedicação ao desenvolvimento e expansão da ciência no Brasil sempre tiveram reconhecimento unânime, tendo recebido numerosos prêmios e homenagens, inclusive as mais elevadas condecorações concedidas pelo governo brasileiro a cientistas, de "Comendador da Ordem Nacional do Mérito Científico" (1995) e da "Grã-Cruz da Ordem Nacional do Mérito Científico" (1998). Em 2006, recebeu também o Diploma de Pesquisador Emérito como parte das comemorações dos 55 anos do CNPq.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Lembram da promoção da AME-RIO?


Olá pessoal!

Vocês lembram de nossa postagem de 27 de maio, quando tínhamos alcançado a marca de 1000 visitas provenientes de acessos no Brasil?
Naquela ocasião foi lançado um desafio ou uma promoção, o primeiro internauta a nos enviar uma imagem demonstrando que nosso blog já esteja com 5000 visitantes vai ganhar uma caixa para Mandaçaias, em madeira de pinho, de fabricação do nosso amigo Walter Gressler.
Bem, ontem chegamos à marca de 3.500 visitas, de 20 países diferentes, 3.300 são provenientes do Brasil, mas temos 200 visitas do exterior, o que nos mostra que mais de 5% das visitas, provêem de fora do Brasil.
Então preparem-se, quando o marcador chegar a 5.000 visitas, o primeiro que enviar a imagem da tela com esse total, vai ganhar a caixa para Mandaçaias.
A imagem deve ser tirada de um print screen e enviada por e-mail, pode ser uma imagem em “.jpeg”, “.gif” ou “.bmp”, ou pode ser uma imagem colada em um arquivo “.doc”, vocês escolhem, mas tem que ser enviada para o e-mail:
redator-amerio@gmail.com
Se o felizardo ganhador quiser povoá-la com uma colônia de Mandaçaias, o José Winckler já avisou que poderá ser marcada uma visita ao seu Meliponário, em Rio Claro - RJ, no final da primavera, onde o ganhador participará de um desdobramento de uma côlonia de Mandaçaias e será aquinhoado com a colônia filha.

Vamos ficar aguardando o seu e-mail. 

Enquanto isso, uma nota sobre nossa próxima reunião, que estava marcada para, sábado, 31 de julho de 2.010.
Infelizmente, por motivos alheios à nossa vontade, a reunião precisou ser adiada, a nova data será informada brevemente, mantendo a mesma pauta da reunião e o mesmo local.
Pedimos desculpas pelo imprevisto.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

História e atualidade a respeito da Meliponicultura

Matéria de Kalhil Pereira França, do Meliponário do Sertão, postada em seu
blog em 07/07/2010 e reproduzida aqui, com sua autorização




História e atualidade a respeito da meliponicultura

Relato da criação das abelhas sem ferrão no Rio Grande do Norte e no
Mundo, bem como a sua atual realidade.

A pedido do meu grande amigo e meliponicultor Paulo Menezes, um dos maiores e mais respeitados ícones na criação da abelha Jandaíra no Rio Grande do Norte, recebi a missão de produzir algum texto que servisse aos nossos legisladores de subsídio histórico a respeito da atividade da meliponicultura na nossa região.
Confesso que produzir um texto dessa complexidade não é fácil, principalmente quando tenho que entregá-lo em menos de 24 horas para ser enviado, segundo o amigo, a Brasília, capital da República, para servir de argumentação histórica num projeto de lei que visa regulamentar, de forma clara e definitiva, a atividade de meliponicultor.
Pois bem, não sou nenhum historiador, mas devido a minha curiosidade, melhor dizendo, devido a minha paixão por essas abelhas, acabei descobrindo ao longo do tempo alguma coisa a respeito da história da criação das mesmas pelo homem, mesmo ainda antes da descoberta do colonizador europeu no continente americano.
Para iniciar essa jornada épica temos que, logicamente, voltar ao longo do tempo, mais precisamente ao ano de 1800AC. Nessa época, na região que hoje é o México vivia um povo chamado de Olmecas.
Segundo Cappas (2010) os Olmecas eram um povo conhecido como os Homens-Jaguares. Os apontamentos do renomado pesquisador indicam que esse povo foi a primeira civilização no mundo a criar as abelhas sem ferrão.
Inicialmente eram predadores das colméias, mas com o decorrer do tempo passaram a explorar o mel de forma esporádica sem destruir as colônias, mantendo-as no seu hábitat natural (árvore), retirando-lhe o mel nas épocas de floração.
Assim narra Cappas a respeito da exploração dos Olmecas:
Nasceu assim a “Meliponicultura da janela escondida”, usada até hoje pelos Maias Yucatecos, pelos índios do Xingu, ... A colônia permanece na árvore onde é feita uma janela para se extrair o mel. A janela selada é camuflada pelo dono do enxame para assim se evitar roubos (internet).
O povo Olmeca deu origem a uma das maiores e mais desenvolvidas civilizações das Américas: os Maias. O povo Maia não só cultivava as abelhas sem ferrão, mas tinha com esses insetos uma ligação cultural imensa, diversas passagens dos rituais do povo Maia tinham traços de referência às abelhas sem ferrão. Uma das principais cidades Maias era Mayapán, também chamada de cidade colméia, uma referência direta à criação das abelhas sem ferrão.
Em outro exemplo, o Mestre Cappas assim comenta a respeito da urna de um grande sacerdote Maia também chamado de “O Grande Dia Abelha”:
...A sua urna em forma de Chaac, com asas e antenas de abelhas, foi encontrada enterrada no pátio da grande Pirâmide Mayapán (Castillo de Mayapán). Este sacerdote foi um dos autores do Código de Madrid...
Na América do Sul, há centenas de anos, os índios venezuelanos criavam as suas colônias de abelhas sem ferrão em cabaças, essa prática rudimentar ainda hoje é copiada pelos rincões do território brasileiro.
No Peru, o povo Inca também tinha forte ligação com as abelhas sem ferrão, sua cultura era influenciada pela criação dessas abelhas. Podemos destacar que, recentemente, numa escavação na região do povo Nasca (tribo que deu origem aos Guaranis) em Cahuachi, foram encontrados tecidos mortuários com a representação da Grande Abelha vermelha dos Maias. Isso só reforça a indicação que as abelhas sem ferrão eram muito importantes na vida daquele povo.
No Brasil, as tribos indígenas também criavam e, ainda criam as abelhas sem ferrão, os índios Tapajónicos, extintos da região de Santarém-PA, localizada na foz do Rio Tapajós, no baixo Amazonas adoravam a “Grande Abelha Vermelha”.
Por aqui, os Guaranis tinham grande conhecimento do mundo da meliponicultura. O mel das abelhas sem ferrão não só fazia parte da alimentação dos índios bem como do mundo mágico. A Tembetá dos pajés, instrumento utilizado durante os rituais de magia, era feita de batume (resina e barro coletados diretamente das colônias) produzido pelas abelhas sem ferrão.
Enfim, não é de hoje que as abelhas sem ferrão estão ligadas e possuem papel preponderante na vida e na cultura do homem sulamericano. As abelhas sem ferrão, ou também conhecidas como abelhas indígenas pelo histórico acima narrado, fazem parte da própria história do homem no continente americano.
No Brasil, em especial no nordeste, devido à tradição dos índios, os primeiros colonizadores já exploravam as abelhas sem ferrão. Segundo Cascudo (1983), em sua obra sobre a história alimentar brasileira, a cachaça misturada ao mel da abelha sem ferrão era bebida tradicional no Sertão Brasileiro.


Certamente, não era diferente em boa parte do território nacional. As abelhas sem ferrão sempre estiveram presentes na vida do homem nessa terra, desde os seus primórdios, conforme assim nos mostra a história.

Estima-se que só no Brasil existam mais de 250 espécies de abelhas sem ferrão, dentre essas, mais de 40 espécies já são largamente criadas, de forma artesanal ou racional, nos rincões do nosso território a fora.


Entre essas podemos destacar a Uruçu verdadeira (melipona scutellaris), a Jandaíra (melipona subnitida), a Tiúba (melipona compressipes), a Mandaçaia (melipona quadrifaciata) e muitas outras mais.


Do ponto de vista histórico, até a introdução do colonizador português no Brasil as únicas abelhas existentes por aqui eram as abelhas sem ferrão, somente três séculos após o seu “descobrimento” foi que o homem branco, mais especificamente o Padre Antônio Carneiro, introduziu no Brasil em 1840 as abelhas de ferrão da espécie apis mellifera oriundas da Espanha e Portugal. Desse dia em diante as abelhas sem ferrão não estavam mais sozinhas e passariam a concorrer por casa e alimento com as abelhas da espécie apis.
Em 1845, imigrantes alemães introduziram no Sul do País a abelha Apis mellifera mellifera. Entre os anos de 1870 a 1880, as abelhas italianas, Apis mellifera ligustica foram introduzidas no Sul e na Bahia. Em 1956, o professor Warwick Estevan Kerr trouxe da África, com apoio do Ministério da Agricultura, com a incumbência de selecionar rainhas de colônias africanas produtivas e resistentes a doenças.


A intenção era realizar pesquisas comparando a produtividade, rusticidade e agressividade entre as abelhas européias, africanas e seus híbridos e, após os resultados conclusivos, recomendar a abelha mais apropriada as nossas condições. Dessa forma, em 1957, 49 rainhas foram levadas ao apiário experimental de Rio Claro para serem testadas e comparadas com as abelhas italianas e pretas. Entretanto, nada se concluiu desse experimento, pois, em virtude de um acidente, 26 das colônias africanas enxamearam 45 dias após a introdução.
No decorrer do tempo os zangões das abelhas africanas cruzaram com as rainhas das abelhas italianas, gerando um híbrido extremante agressivo e produtivo, passando a ser chamado pela comunidade científica de abelhas Africanizadas.
No Estado do Rio Grande do Norte a principal abelha sem ferrão criada pelos meliponicultores é a abelha Jandaíra (melípona subnitida), também conhecida por nós como a “rainha do sertão”, devido a sua excelente evolução e adaptação à região da caatinga.

Em Mossoró-RN, a cultura da criação dessa abelha vem sendo passada de geração em geração, desde a época dos índios potiguaras que, assim como os maias, criavam as Jandaíras em cabaças ou mesmo em caixa improvisadas.


O próprio nome Jandaíra é de origem indígena e significa “abelha de mel”, os primeiros relatos escritos a respeito da criação dessa abelha na região são do Padre Humberto Brumeng, que foi um dos pioneiros na criação racional da Jandaíra na região, ainda em meados do século XX.


O seu livro intitulado “Abelha Jandaíra” ainda hoje é uma das únicas referências a respeito do manejo e criação racional dessas abelhas no Rio Grande do Norte. Escrito em forma de diário, o livro narra a história da saga da Jandaíra no último século, bem como um pouco da história da chegada da apis na região.


Atualmente, a abelha Jandaíra ainda é criada nas zonas rurais nos principais municípios da região, todavia a cultura de sua criação vem com o tempo desaparecendo, principalmente pelo fato da maioria dos criadores serem pessoas com idade avançada não tendo substitutos diretos.


Porém, o principal fator do desaparecimento dessas abelhas é a destruição da caatinga. A realidade é triste, mas deve ser dita. Mesmo sendo o único bioma exclusivamente brasileiro, a cada dia a caatinga vem sendo destruída sem dó nem piedade, já não vemos mais os grandes pés de Juazeiro, de Cumaru, Aroeira, Imburana, Angicos, Catingueira, Baraúna etc. Essas belas árvores estão sendo destruídas e consumidas, diariamente, pelo homem que não percebe que destruindo o seu hábitat está destruindo a si mesmo.

A desertificação da região do semi-árido Nordestino caminha a passos largos, segundo o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, o Nordeste pode perder um terço de sua economia por causa da desertificação e do aumento da temperatura em menos de 20 anos.
Juntamente com as árvores se vão as abelhas sem ferrão. Sem casa para morar são obrigadas a ocupar as únicas e pequenas árvores restantes, na sua grande maioria árvores de pioneiras, que possuem pequenos ocos e não são ideais para a manutenção dessas abelhas na natureza.


Para uma melhor compreensão do fato, transcreverei um trecho do livro do Padre Humberto, em seu bonito relato a respeito da importância da preservação da Jandaíra no Rio Grande do Norte. Já dizia respeitado Monsenhor:


"Nosso Salvador nasceu no campo, de uma camponesa, nasceu num curral entre os animais, trabalhou mais no campo que na cidade. Vivia em harmonia e sintonia com a Natureza. Convidou os homens a olhar as flores, os pássaros, as borboletas, as abelhas, os pintinhos, os ninhos. Quem está em contato com a flora e a fauna está em contato com o Criador. O mundo visível é reflexo ao invisível, as criaturas apontam para o Criador.
Todos os animais respeitam o ambiente em que vivem, menos o homem. O peixe mantém límpida a água em que passeia, o pássaro conserva puro e diáfano o ar que cruza, a minhoca revira o solo mas não o degrada, ao contrário, torna-o mais fértil; a fera mora na selva, percorre-se atrás do sustento semcontaminá-la nem destruí-la; o colibri sorve o alimento do nectário das flores, roça com as asas suas pétalas delicadas sem deixar sinal de sua visita; a jandaíra visita milhões de flores para coletar um quilograma de mel, passeia pelos estigmas, estames e anteras para colher pelotas de pólen, sem vestígiode sua presença , pelo contrário: enriquece-as através da polinização. Quanta lição de inseto para o reida-criação, o mais violento dos bichos, o mais barulhento.


Observemos o estardalhaço dos carros-de-zoada e o estrondo das motocicletas, fragor de batalha, sem nada produzir, a não ser ruído! Belíssimo exemplo de laboriosidade, de previdência e providência, de frugalidade e economia fornece a jandaíra ao homem consumista e tecnocrata. Ela recolhe sempre que pode e o que pode – e guarda, ensila, economiza, sem nada esbanjar. Guarda até quotas supérfluas. Jandaíra não alimenta vício – como faz o homem. Não fuma, não masca, não se embriaga, não sorve droga, não cheira cola, não se empazina. Reparte a vida entre trabalho e repouso. 

Não gasta com turismo, nem forrobodós, não mantém campos de esporte, nem hospícios, nem hospitais, nem cemitérios. Economista nenhum a supera em pré e providência nem economia. Para ela não há crise habitacional, a não ser pela intromissão do homem. Não gasta com escola, estradas, pontes, energia, água – que nem bebe. Desconhece explosão demográfica pela simples razão de manter o mais rigoroso controle de natalidade que consiste no seguinte princípio inflexível: o número de filhos é rigorosamente proporcional ao número de pratos de comida, nem um a mais! Usa a maternidade responsável – a mais responsável – porquanto usa o sexo uma única vez em toda a existência, e mesmo em fração de segundos. Que contraste com o homem, esse sexólatra maníaco, semelhante “ao cavalo e ao jumento que não compreende nem rédea, nem freio: deve ser amansado.” Salmo 31,9.
A jandaíra trabalha em sintonia com o sol, mesmo encoberto, e sem fiscal, e sem xô nem aboio: tudo bem acabado e caprichado. A criação é uma sinfonia em homenagem ao seu Criador: Deus! E muito afinada. A única nota discordante, o único instrumento desafinado é o homem quando transgride a Lei de Seu Senhor.
Só o homem pode louvar a Deus conscientemente. Pouco se preocupa com isso. O tema Natureza pertence ao passado. A geração contemporânea, hodierna, explora seu próprio tema, único, invariável, monótona até provocar náuseas: o corpo, concentrado no sexo. Milhões de discos, americanos ou brasileiros, com o mesmo enredo e assunto. Que pobreza e que baixeza. 

Nunca levantam os olhos para a Natureza que os envolve, mas não enleva nem enleias. A tais São Paulo chama de homens-animais, ou animalescos. Pode ser que com a reação dos ecologistas mudem de rumo. Já é tempo de humanizar o animal e cristianizar o homem. A Flora e a Fauna também merecem um disco. Riqueza e beleza não lhes escasseiam. Mãos à obra. Às lições até aqui anotadas, acrescentemos ainda prodigalidade e solidariedade quanto ao sustento da família.


Cada jandaíra vai ao campo, com risco de vida, colhe o que pode, enche o papo, carrega os pés e chega em casa, põe tudo em comum, como os Atos dos Apóstolos afirmam a respeito dos primeiros cristãos: “...punham tudo em comum.” At. 4,33 ss.

O que consome bens e saúde é o vício; ora, jandaíra não tem vício, não mantém arsenais de guerra nem prostíbulos, nem cassinos, nem máfia; vive do trabalho – e dá a vida pelo bem comum e pela família. Na defesa dela enfrenta qualquer inimigo, sem medir nem temer seu tamanho. Ela faz do particular o geral, bem ao contrário dos governos, que fazem do geral o pessoal. O indivíduo produz mais do que consome, por isso não morrem de fome. Por ocasião de calamidades ninguém furta e todos ajudam a reconstruir. Jamais a mãe abandona a família ou o lar, em caso nenhum. Aprendam as mães, aprendam também os pais – não das jandaíras – dos homens. São muito mais mães que geratrizes.
Em viagem, trancafiadas, as jandaíras mal e mal ingerem alimento: quedam-se o tempo todo.
Reparem o homem em viagem de avião. Quase esgota a aeromoça à procura de comida, café, refresco, cigarro, etc. Insaciável. Jandaíra só come em casa, só dorme em casa. O homem come em qualquer lugar, até na aula, na igreja. Horrível. Matricule-se na escola da professora jandaíra, tão doce! (BRUENING, Huberto: Abelha Jandaíra, coleção mossoroense, pag. 131 - 135.)"


Até 2004, abelhas sem ferrão eram praticamente esquecidas pelos órgãos governamentais, somente a partir da Instrução Normativa 346/2004 do CONAMA/IBAMA foi que alguma coisa, ainda de maneira superficial foi criada para tentar proteger e regulamentar a atividade.
Segundo as regras da IN 346 o IBAMA teria um prazo de seis meses a partir daquela data para regulamentar de forma detalhada a atividade. Como no Brasil as coisas demoram para acontecer, somente em 2008 através de outra Instrução Normativa foi que o IBAMA na IN 168/2008 regulamentou a atividade.


Na verdade, o que era pra ser um fato festejado se tornou um dos maiores tormentos para aqueles que lutam pela preservação da cultura da abelha sem ferrão. Ao invés de ajudar, a referida IN acabou por dificultar ainda mais a tão esquecida atividade.


O problema é que o IBAMA acabou regulamentando todo tipo de criação de animais nativos em um grande balaio, passando a criar uma série de exigências que praticamente inviabilizam a criação comercial desse tipo de abelha, limitando ainda a criação ao número irrisório de 50 colônias por meliponicultor. Caso alguém se atreva a tentar legalizar algum criatório que tenha mais que isso precisa atender uma série de exigências absurdas e desarrazoadas. Como exemplo, chega-se a inimaginável exigência de formulação de um “plano de fuga”, para conter as abelhas que possam fugir do criatório.


Seria cômico se não fosse trágico, ao fazer essa exigência a autoridade federal só mostra o quanto desconhece a biologia das abelhas indígenas pois se compreendesse saberia que nunca uma colônia de abelhas nativas irá fugir, pois como nós sabemos as rainhas ativas de meliponíneos são fisogástricas, ou seja, possuem o seu abdômem bem dilatado o que as impossibilitam de voar. E as abelhas nativas, diferentemente do bicho homem, que muitas vezes abandonam a sua mãe, nunca deixam a rainha, mesmo nos períodos de fome. Morrem ao seu lado, custe o que custar.


O mais interessante disso é que o mesmo tratamento não é dado às apis melifera. Qualquer pessoa, mesmo sem nenhum habilidade técnica e sem nenhuma restrição ambiental, pode manter centenas ou até mesmo milhares de colméias dessas abelhas que não será nem sequer questionado sobre o impacto ambiental que a sua criação poderá trazer às pobres abelhas nativas.


Hoje, tanto a meliponicultura artesanal como a comercial praticamente se encontram na clandestinidade. A coisa é tão feia que não se pode nem ao menos criar as espécies nativas fora de sua região de endemia. Dessa maneira, eu por exemplo, posso apenas criar Jandaíra, pois são nativas da caatinga. Se eu quiser criar Uruçus ou Mandaçaias estarei cometendo uma infração ambiental já que a criação de espécies diferentes também não é permitida fora de sua região natural.


O interessante é que o apicultor pode criar quantas espécies de apis ele quiser, pois não há restrição nenhuma para a sua diversidade, pelo contrário, a literatura científica apícola estimula a diversidade como forma de aumentar a variabilidade genética.


Nem ao menos o mel dessas abelhas, produto da mais alta qualidade alimentar, pode ser considerado como mel. Segundo as autoridades sanitárias brasileiras, mel é, única e exclusivamente, de acordo com o conceito técnico do sistema de inspeção industrial e sanitária de produtos de origem animal do Brasil (art. 737 da RISPOA), o produto produzido pelas abelhas da espécie apis melifera.


Esse absurdo se deve ao fato de que o mel dos meliponíneos não possui as mesmas características sensoriais e físico-químicas do mel produzido pelas abelhas africanizadas do Brasil. Ora, mais isso é lógico, nosso mel é diferente pois são produzidos por abelhas que possuem características completamente distintas das abelhas de ferrão.
Bem, se a coisa continuar desse jeito as abelhas sem ferrão serão ao longo de um curto tempo levadas à extinção e sua criação será esquecida. Meliponicultor será uma palavra que os mais jovens irão ler e não terão nenhuma referência prática para saber o que um dia significou, não saberão o quanto é louvável e apaixonante exercer uma atividade histórica, preservada pelas mais antigas gerações do homem na terra.


A meliponicultura é uma das poucas atividades que se mantém nos quatro grandes pilares da sustentabilidade, é ecologicamente correta, pois provoca um impacto positivo no ambiente; é economicamente viável, pois podemos comercializar os produtos de excelente qualidade produzidos por essas abelhas; é socialmente justo, pois mantém o homem ligado ao campo reduzindo os impactos do êxodo rural e é culturalmente aceito no mundo todo.
Enfim, ser meliponicultor além ser uma atividade prazerosa do ponto de vista pessoal, é antes de mais nada indispensável para a própria preservação da natureza, principalmente pelo primordial papel das abelhas nativas como polinizadoras das nossas matas.


Pena é saber que autoridades brasileiras ainda não perceberam isso. Só esperamos que não seja muito tarde quando eles acordarem para enxergar o verdadeiro papel da meliponicultura. Até lá, continuaremos, ainda que de forma isolada, lutando para preservar a cultura da criação das abelhas indígenas sem ferrão.
Mossoró-RN, em 07 de julho de 2010.

Kalhil Pereira França

Meliponário do Sertão


Bibliografia


BRUENING, Padre Huberto, Abelha Jandaíra; coleção o mossoroense, Mossoró, 2001, disponível em: 
http://www.colecaomossoroense.hpg.com.br/jandaira.PDF; acesso em 06 de julho de 2010.


CAPPAS, João Pedro: História do Homem Através das Abelhas Sem Ferrão; Insectozoo, disponível em: 
http://www.cappas-insectozoo.com.pt acessado em 06 julho de 2010.
CASCUDO, Luís da Câmara: História da Alimentação no Brasil. Belo Horizonte, Itatiaia; São Paulo, Editora da Universidade de São Paulo, 1983, pag. 61
Instrução Normativa do IBAMA 346/2004


Instrução Normativa do IBAMA 168/2008
Regulamento de Inspeção Industrial e Sanitária do Produtos de Origem Animal (RISPOA); Disponível em: 

RIISPOA Dec. 30691-52.pdf ; acesso em 06 de julho de 2010.