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quarta-feira, 21 de novembro de 2018

TRANSFORMAÇÃO DO NECTAR EM MEL PELAS ASF

TRANSFORMAÇÃO DO NECTAR EM MEL PELAS ASF.

Harold Brand – Biólogo – Meliponicultor-consultor da APA.
Abelha ebúrnea no trabalho de desidratação do néctar.    
Na foto a cor azul claro é o néctar regurgitado, que na boca toma a forma quase esférica. Este é o formato que permite a maior perda de umidade.

 Que os entendidos em Física avaliem mais esta perfeição das abelhas. A evaporação ocorre pela superfície dos líquidos e a esfera é o formato que permite a maior superfície possível.

O colorido de amarelo representa a região anterior do sistema digestório da abelha, como podemos observar, ele é formado por um longo tubo que termina em uma grande dilatação. Esse é o papo uma espécie dilatação onde o néctar é armazenado para ser regurgitado.
O desenho representa apenas a região anterior do sistema digestório, local onde o néctar circula, boca, papo e vice-versa. Cada vez que ele na língua é exposto ao ar, uma parte da água evapora. Este movimento é repetido centenas de vezes, para que ocorra uma perda significativa de água do néctar.
O mecanismo lembra uma jarra de água “papo” derramada em uma bacia “gota” onde aumenta a superfície em contato com ar para evaporar. Quantas vezes o mecanismo deve ser repetido para que ocorra uma perda mínima de água para concentrar o néctar.
 Do total do néctar depositado no papo, só uma pequena fração segue adiante no tubo digestivo para alimentar a própria abelha.
Na foto, o vidro destinado a observação colocado na parte superior da colmeia com impregnado com numerosas gotículas, resultado da condensação do vapor da desidratação do néctar.
 No decorrer do tempo as gotículas se agregam formando pequenas gotas que despencam ou escorram pelas paredes, acumulando no fundo da colmeia.

Melipona scutellaris 
A foto é apenas a parte visível, para nós, da transformação do néctar em mel, a fase oculta, feita por milhares de pequenos organismos em que cada um acrescenta pequenas e diferentes parcelas de suas virtudes ao mel. São mais de vinte gêneros entre bactérias e leveduras participantes desse magnifico trabalho

Melipona seminigra
Como uma espécie de irmãs gêmeas, ambas operárias regurgitando simultaneamente a água acumulada no papo para o meio exterior.

A DESIDRATAÇÂO DO NECTAR

Na transformação do néctar em mel pelas nossas abelhas nativas intervém dois processos distintos, um físico e outro químico:

O físico, consiste na redução do teor de água do néctar pelo processo de evaporação. O néctar colhido nas flores varia entre 70 a 90 por cento de água e deve ser reduzido aproximadamente para 30 por cento no produto final, o mel.
O químico, em que as substâncias dissolvidas no néctar são transformadas em outras, graças a ação de enzimas glandulares das abelhas e atividade enzimáticas tanto de bactérias como leveduras presentes no trato digestivo das abelhas e dos que povoam os potes de mel.
A redução do teor de água se dá por evaporação e para que ocorra são necessárias condições físicas favoráveis, como:
Superfície em contato com ar: a evaporação ocorre na superfície dos líquido e quanto maior, maior será a evaporação.
 A bolha líquida formada na boca da abelha na regurgitação é quase esférica, é a superfície máxima ideal para um volume de evaporação possível.
Temperatura: quanto maior, mais intensa será evaporação. Toda vez que o líquido volta para o papo é reaquecido devido a temperatura da abelha.
Estado higrométrico do ar: a colmeia é um ambiente fechado onde há uma grande umidade interna que dificulta ou mesmo impede a perda de água por evaporação

O DIFÍCIL PROCESSO DE DESIDRATAÇÃO NO AMBIENTE FECHADO DA COLMEIA

Como é fácil perceber a tarefa é extenuante, com pequeno rendimento e as campeiras necessitam serem liberadas para a busca de novos carregamentos no pasto floral.
A logística é simples, depositar o néctar parcialmente manipulado nos potes de mel ainda abertos para que a maior parte das operarias da colmeia tenham acesso e participem no processo.
As operárias posicionam-se nas bordas dos potes abertos e mergulham as suas longas línguas no líquido acumulado fazendo com que circule, facilitando a evaporação pela renovação da superfície em contato com o ar.

O meliponicultor, pela experiência, sabe que na época de floradas o interior da colmeia se torna muito úmido, o vapor da desidratação condensa nas paredes e muitas vezes chega a escorrer para o fundo da colmeia onde se acumula.
De tempo em tempo, algumas operárias faxineiras sugam essa água e transportam no seu papo dilatado até a entrada da colmeia, onde regurgitam para o meio exterior.  Como é possível notar, o papo para as abelhas é um instrumento de múltiplo uso.

A GRANDE REVOADA DE DESIDRATAÇÃO
A foto das Meliponas scutellaris mais a cima, retrata junto aos potes ainda abertos, o intenso trabalho comunitário de várias operárias entretidas em lançar no caldeirão o néctar parcialmente desidratado e certamente acrescido das virtudes das suas secreções glandulares.
Ao mesmo tempo em que realizam esse procedimento, agitam as suas línguas movimentando o liquido dando uniformidade ao mesmo. Comportamento esse que nos faz lembrar em muito a técnica na Medicina Homeopática no manejo da potencialização dos medicamentos através dinamização.

Nos períodos de grande entrada de néctar algumas espécies de abelhas adotam uma estratégia particular. Em dado momento partem da colmeia em grande número levando o néctar no papo e se agrupam nas proximidades. Inicialmente, elas no seu voo, circulam em torno de um eixo imaginário durante alguns minutos, em continuidade, direcionam-se frente a direção do vento e assim permanecem em voo quase estacionário. O ruído das suas asas pode ser ouvido já a distância.  Se, nos posicionarmos abaixo desse frenesi voador podemos sentir o frescor do ar úmido. A revoada pode levar duas horas antes de todas as abelhas voltarem para a sua colmeia.

Nós humanos, aprendemos desde a infância que uma tolha molhada seca mais depressa no varal do que amontoada dentro de casa.

Harold Brand