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quinta-feira, 11 de agosto de 2011

"Abelha ou abelhaS?

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"Abelha ou abelhaS?

por Marcelo Teles
10 de Agosto de 2011

Biólogo, Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia – IFCE / Campus Sobral.

Uma prática agrícola que tem se se tornado popular ultimamente é o aluguel de colmeias da abelha Apis mellifera, (conhecida como abelha-italiana ou abelha-africana). Centenas ou milhares de colmeias viajam extensas distâncias para polinizar imensas áreas de monocultura.

Essa atividade já é uma febre na Europa e EUA e começa a chegar no Brasil. Só não é mais popular porque o “turismo” das abelhas sai um pouco caro, principalmente devido às colmeias precisam ser transportadas em ambiente climatizado, em caminhões, por centenas de quilômetros, até a plantação de destino."

Na natureza existem 270 mil plantas selvagens que precisam de animais polinizadores para se reproduzir; e até agora, existem entre 100 e 200 mil polinizadores conhecidos para elas (praticamente um para cada planta – incluindo aves, morcegos, moscas, besouros, borboletas, mariposas, etc). Será que somente uma única espécie de abelha (Apis mellifera) seria realmente capaz de polinizar todas as 9.500 espécies domesticas/cultivadas?
Os locatários das abelhas alegam haver grande incremento na produção agrícola devido à presença das colmeias, mas isso não é regra. As plantas e seus polinizadores geralmente coevoluem em um modelo de chave-fechadura, onde cada planta possui uma espécie ou grupo de espécies que se encaixa perfeitamente em forma, tamanho, comportamento e sazonalidade para promover sua polinização. Um bom exemplo é a flor do tomate, que é polinizada por abelhas nativas das Américas. Neste caso, as visitas de Apis mellifera não polinizam pois ela não possui o comportamento de vibrar a flor – presente nos polinizadores naturais do tomate e necessário para a liberação do pólen.
Assim como o tomate, existem várias outras espécies que requerem comportamentos específicos por parte das abelhas ou mesmo de outros visitantes florais para a polinização efetiva – e não se sabe até que ponto a abelha-europeia contribui realmente para a polinização dessas plantas. Também não se sabe qual o impacto de sua introdução sobre a reprodução das plantas selvagens nem sobre as populações de abelhas nativas que as polinizam, visto que a abelha-europeia é uma competidora ecologicamente agressiva.
Historicamente, a introdução de espécies exóticas têm trazido enormes problemas ambientais e até econômicos, especialmente elas tornam-se pragas. Com os erros do passado, deveríamos ter aprendido que a introdução biológica é uma “faca de dois gumes” e portanto, devemos ser cautelosos antes de fazer esse tipo de atividade.
Alterar a composição de comunidades biológicas e interferir em processos ecológicos geralmente traz muito mais prejuízos coletivos que lucros particulares. Talvez a pesquisa mostre que manter fragmentos de mata nativa e promover o manejo das comunidades de abelhas nativas causa muito menos impactos e pode ainda ser mais eficiente para a polinização que introduzir abelhas exóticas sobre as quais pode se perder o controle e causar sérios desequilíbrios ambientais.
O mais sensato seria realizar pesquisas para saber quem realmente são os polinizadores de cada planta cultivada / domesticada e o que fazer para manter o “serviço” ambiental prestado por elas  às nossas plantações, polinizando-as. Nesse sentido, para que nossos empreendimentos sejam mais eficientes e menos prejudiciais ao ambiente é fundamental que as federações do setor produtivo e as agências de amparo à pesquisa desenvolvam políticas de maior interação entre produtores e instituições de pesquisa.

Nota da Redação


Essa matéria foi reproduzida a partir de publicação no site www.semiarido.org.br

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