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quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Divisão de Guaráipos, by Oderno Theves

Associados e Amigos da AME-RIO


Praticamente todos os meliponicultores, quando fazem as divisões de colônias, retiram alguns discos de cria nascente de uma colônia forte e os colocam em uma caixa nova, envoltos em cera, num simulacro de invólucro, colocam junto uma boa quantidade de abelhas adultas e alguns as vezes oferecem algumas abelhas jovens.
A caixa nova normalmente fica no lugar da caixa que forneceu as campeiras e essa é afastada do local.

 Já o gaúcho Oderno Theves, um experiente meliponicultor de Cruzeiro do Sul, na Serra Gaúcha, sugere um processo um pouco diferente de fazer as divisões, que ele nos conta ter aprendido de um grande criador de ASF, que infelizmente não dispõe de facilidades para divulgar seus conhecimentos dele. Afirma, também, que esse criador chegou a este método de divisão, por uma longa prática no manejo das ASF. Oderno diz que o processo foi pensado para divisões de Guaráipos (Melipona bicolor schenkii) com as quais ele testou várias vezes e sempre teve sucesso, mas diz também que já testou o mesmo processo com Mandaçaias MQA e com Bugia e também teve sucesso. E detalhe importante, que ele mesmo frisa, ele só tinha um enxame de cada tipo destas abelhas.

O Oderno me passou os detalhes desta modalidade de divisão e alguns procedimentos posteriores. E com a sua autorização eu vou dividir esse processo com vocês.

Para iniciar, vamos falar das caixas que o Oderno usa. A caixa doadora, é de fabricação de um especialista em criação de Guaráipo, o Rodrigo Copat, também da região da Serra Gaúcha. A caixa é constituída de duas alças, cada uma medindo internamente 20 x 20 x 10 centímetros e as paredes tem 5 cm de espessura, a madeira é Pinho (Araucária).
Já a caixa nova, tem as mesmas dimensões, porém a madeira é o  Kiri.

Ambas as caixas tem um porão de dois (2) centímetros.
Aqui podemos ver as caixas posicionadas a menos de um metro uma da outra.

Processo da divisão, by Oderno Theves

  • Primeiro é preciso capturar a Rainha. O Oderno afirma que ela, normalmente, está bem à mão, sobre o último disco.
  • Depois precisamos retirar o último disco de postura, com as abelhas aderentes. Se esse disco for muito pequeno, é preciso trazer também o penúltimo disco. No caso do Oderno, o ultimo disco estava com aproximadamente 6 a 7 cm de diâmetro, um bom tamanho.
  • Os discos são colocados dentro da alça nova, com uma proteção de cerume por baixo, além de pequenas bolinhas de cerume para apoio dos discos.
  • O Oderno ainda usa um redutor de espaço, feito com cera laminada de ápis, mais ou menos como aparece nas fotos da caixa nova.
  • Ele também aconselha preencher parte do espaço desocupado na alça com potes artificiais de cera, para incentivar a produção de mel.
  • É preciso capturar mais umas 20 abelhas novas que vão ser colocadas junto com a rainha. Ele aconselha fazer isso com um sugador.
  • Antes de fechar a colméia, deve ser colocada uma película transparente, sobre a alça, para facilitar a observação sem perturbar as abelhas.
  • Depois é necessário colocar a nova colméia no lugar da doadora. E afastar um pouco a colméia doadora. O Oderno diz que colocou o enxame doador a um metro do novo enxame, sem maiores problemas.

Um último conselho, procure fazer esta divisão na parte da manhã, num dia em que o enxame estiver bastante ativo, coletando alimento.

O Oderno também nos contou que no dia seguinte, deu uma espiada através de película transparente e se surpreendeu, com a quantidade de abelhas que haviam entrado na nova colméia.

A alimentação fornecida a elas não foi nada além de xarope de açúcar, na proporção de 2 partes de açúcar x 1 de água + uma pitada de sal, adicionando um complexo de vitaminas líquido.

No enxame que ficou órfão, no décimo dia, já havia uma rainha iniciando a postura.
Como o número de campeiras do enxame novo havia diminuído bastante, depois dos 30 dias a posição das caixas foi trocada, oferecendo desta forma um bom reforço ao novo enxame e dali em diante elas vem se virando sozinhas.


Nas fotos internas da caixa nova se vê postura de dois favos de cria,
 já no sobreninho, acima da divisória.

A divisão foi feita há três meses e o Oderno acredita que o ninho já tenha de 5 a 6 discos de cria. Ele ainda não separou as alças, para verificar.

Fotos do enxame doador, que por sinal está muito ativo.

Na foto em que aparecem as duas colméias, é possível ter uma idéia da distância entre elas.

Agradeço ao Oderno pelas informações, fornecidas e espero ter passado para vocês todas elas.



Como já foi frisado, este método não tem unanimidade entre os meliponicultores, inclusive alguns meliponicultores, também experientes, tem  restrições a ele sob a alegação de que o mesmo pode atrasar o desenvolvimento da colônia nova, mas o Oderno tem demonstrado que para ele e nas suas condições, esse processo funciona.

De minha parte, ainda não tenho dados comparativos suficientes para opinar, mas acho que    uma das coisas estimulantes na meliponicultura, é essa existência de mais de um processo de se fazer alguma coisa. 

Ainda penso que, se o meliponicultor não atrapalhar demais as abelhas, elas acabam colaborando para qualquer processo ser um sucesso. O que para nós pode ser uma fonte de prazer, para elas é a sua luta diária pela sobrevivência. 

Uga

José Halley Winckler




Nota da Redação:

Postagem feita por José Halley Winckler, associado da AME-RIO.  Eventuais opiniões aqui registradas são de responsabilidade do autor e podem não refletir a opinião de outros associados out mesmo da direção da AME-RIO.

Um comentário:

  1. O método é bastante interessante uma vez que na divisão por discos de cria + campeiras pode haver rejeição frequênte de princesas tornando essa divisão inviável. Já com uma rainha a história é outra, resta saber se isso não iria prejudicar demais a caixa mãe.

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