Todas as postagens desse blog, são de inteira responsabilidade do colaborador que a fez e refletem apenas a sua opinião.
Caso você tenha interesse em colaborar com esse Blog, por favor, envie uma mensagem para redator@ame-rio.org

quarta-feira, 30 de março de 2011

Abelhas e Amigos - Descobrindo o poeta.

Amigos da AME-RIO e Internautas,

Continuando com a série Abelhas e Amigos, depois de uma tarde e uma noite de peripécias, onde o Jean me levou a visitar mais meliponicultores numa só vez, do que nosso amigo Bob Bee Dandy conseguiu fazer na primeira parte de sua viajem a Santa Catarina, eu resolvi ir por conta própria a Jaguaruna, cidade próxima a Tubarão e a Laguna, onde eu estava hospedado. Eu queria conhecer as abelhas do Mario Tessari.

Eu só conhecia o Mario, de trocar e-mails pelo grupo ABENA mas, uma vez eu falei para ele que, quando fosse a Santa Catarina, iria visitá-lo. Não deu outra, eu liguei para o Mario e o Mario se prontificou imediatamente em me receber e pelo seu tom de voz, senti que realmente seria bem recebido.

O Mario me deu informações tão precisas da localização do seu sítio que eu consegui chegar sem qualquer dificuldade. Até pareceu que eu já conhecia o caminho, tal a quantidade detalhes que ele me passou.
Na chegada fui recepcionado no portão pelo Mario, logo na entrada do seu sítio tem uma placa: Itaguá - Estação de Vida. Ita -> Pedra, Guá -> fruto ou comida. Itaguá, só poderia ser Pedra da Comida.
Quando eu vi ao lado uma pedra de moinho, pensei que realmente tinha decifrado a charada, pedra da comida, só podia ser pedra de moinho, ou pedra da farinha. Ainda bem que eu mantive isso para mim e não falei nada para o Mario, pelo que eu vi depois, essa pedra está ali mais é para enfeitar mesmo.

O Mario me contou que comprou esse sítio há cerca de 5 anos e quando o comprou, ele só tinha pedras e capim bracária. Ah, tinha também um rego d´água, por entre as pedras, que só tinha mosquitos, nem um só tipo de peixe. E um engenho de mandioca mais acima, que jogava toda o residuo da moagem nesse rego d'água.

E aí ele resolveu me mostrar o seu sítio.
Plantas de rápido crescimento e cafeeiros.
Abacateiros e ingazeiros.
Árvores primárias de rápido crescimento.
O tal rego d'água, agora com bastante vegetaçao.
Totalmente sombreado e já com alguma vegetação secundária.
Muita fruta para todo que é lado.
Estas são pitangueiras (Eugenia uniflora)

Vocês viram o Mario com uma latinha na mão, ali tinha ração para peixes e ele sempre leva ração quando passa pelo riacho, que agora não é apenas um rego d'água. E está bem povoado de peixes, lambaris, acarás, barrigudinhos, até piaus, mandis e jundiás o Mario diz que tem, também algumas tilápias, que escaparam de um tanque ao lado.
E os peixes todos acompanham o Mario a medida que ele anda pelas margens, riacho acima ou riacho abaixo, lá vai o cardume acompanhando.

Eu perguntei, ué, não era um rego que só tinha larvas de mosquitos? Ele me disse, era, levei quase dois anos para convencer o proprietário do engenho de mandioca a não jogar resíduos na água e só consegui depois que conseguimos arranjar um modo de transformar esses resíduos em algo que ele pudesse ganhar alguma coisa, aí ele não jogou mais fora.

Mesmo assim, levei mais um ano e meio para ver o primeiro peixe no riacho, ainda hoje eu lembro a alegria que foi ver um pequeno lambari nesse riacho, agora você é testemunha da quantidade de peixes que tem aí.

E as árvores? Tem árvore com tronco de cerca de 30 cms. Bem, ele me disse, as mais grossas são arvores que tinham sido cortadas para lenha, mas cujo o cepo sobreviveu, o resto eu plantei, ou os passáros e outros animais plantaram para mim. Só eu já plantei mais de 5.000 mudas, no ínicio só arvores pioneiras, agora só estou plantando árvores secundárias e terciárias, as primárias agora ficam por conta dos pássaros e dos ventos.

Aí ele me contou que, há algum tempo a pessoa que lhe vendeu o sítio foi visitá-lo e quando viu a quantidade de árvores no lugar, ficou bastante intrigada e daí há pouco tascou a pergunta: "como é que você trouxe essas árvores todas para cá?", bem o Mario está até agora rindo.

Mas eu vi, embaixo de cada árvore maiorzinha, com uma boa sombra, sempre tem umas 30 mudas de árvores, em saquinhos de 2 ou 3 litros e até maiores. E são muitas, devem ter mais de 50 grupos de mudas, perfazendo cerca de 1.500 mudas ainda a serem plantadas, e o Mario diz que a cada semana prepara um lote ou mais.

Os pássaros e animais correm tranqüilos nessa mata. E eu vi saracuras, eu vi frango d'água, vi rolinhas, vi bem-te-vis, vi tico-ticos, vi pica-paus e outros, o Mario ainda disse, tem tatus, tem gambás, tem pacas e outros animais e, complementou, o melhor é que os mosquitos e borrachudos estão desaparecendo e isso se deve aos pássaros e aos peixes. Se você for a qualquer sítio aqui perto, vai encontrar dez vezes mais mosquitos e borrachudos, aqui ainda tem, mas em número bastante reduzido.

Bem aí eu descobri que Itaguá não é pedra da comida, mas comida da pedra. O Mario conseguiu fazer brotar comida, onde só tinha pedra e onde tem comida, a vida desabrocha e se multiplica. Ele fez a vida nascer de onde outros não conseguiam tirar nada. 

Por isso, Itaguá - Estação da Vida.

Desta vez, acho que matei a charada, se não for isso, o Mario que nos conte.

Bem, e as meninas, cadê as meninas? Você vai a casa de um meliponicultor e não vê abelhas. Bem o Mario parece não pensar em criar abelhas e sim em criar vida. Mas como eu insisti, ele resolveu me mostrar as suas abelhas.

Todo o meliponicultor que conheço, mostra suas melhores e mais fortes abelhas, bem o Mario tinha que ser diferente, ele resolveu me mostrar uma colônia de Guaraípos (Melipona bicolor schencki).

Meia dúzia de potes e o ninho escondido atrás de uma placa de cera de apis.
Quase não se via abelhas, mas o Mario me disse, nas abelhas essa é minha maior vitória. Me venderam essas abelhas como se fosse uma colonia forte e quando eu fui ver, eram dois disquinhos e não mais de 20 abelhas. Eu custei para isolá-las no canto com cera de apis, mas isso melhorou bastante o seu aquecimento e eu tenho alimentado bem a colônia, então agora ela está se desenvolvendo e tenho certeza que não vou perdê-la, mas no início quase desisti, e isso já faz quase um ano.
Tenho outra um pouco mais forte.
Mas talvez não lhe tenha dado tanto prazer, quanto a outra mais fraca

Aí o Mario me chamou e mostrou uma outra caixa: não tenho só colônias fracas, ele me falou, veja esta Bugia (Melipona rufiventris),
basta você chegar perto que elas atacam, filma aqui.
No início parecia uma caixa normal.
 Mas as abelhas começaram a sair e formaram uma zoeira ao meu redor.
 Que eu quase corri,
Chegaram até formar barba, fora da caixa.
Mas o Mario deve ter explicado que eu era visita. 
E elas aos poucos foram acalmando e voltando para sua caixa.
Depois, ele me mostrou uma colonia de Bugia em desenvolvimento.
E uma caixa de mandaçaias - Melipona quadrifasciata quadrifasciata.
Com uma boa quantidade de alimentos
E ninho alcançando o topo da caixa.

Depois disso o Mario resolveu me mostrar as esperiências que estava fazendo com material alternativo para a produção de caixas.

Ele tinha três caixas produzidas com concreto celular e uma caixa que ele ganhou do Eurico Novy, em vermiculita com cimento.

Acima a caixa Novy
Acima vemos uma caixa em concreto celular placas de 30 x 30 x 7 cm, formando uma caixa tipo Inpa, com fundo, ninho, sobre-ninho, duas melgueiras e tampa.
O ninho, sobre-ninho e alças foram escavados de forma a ser retirados de cada um uma seção cilindrica  de 20 cms de diametro e com a profundidade total da placa, depois foram incluidos os separadores, em madeira. Infelizmente nosso fotógrafo acabou não fotografando a parte interna.
Essa é uma caixa em concreto celular placas de 30 x 40 x 5 cm, formando uma caixa de alças retangulares, com fundo, ninho, sobre-ninho, duas melgueiras e tampa.
O ninho, sobre-ninho e alças foram escavados de forma a deixar paredes de 5 cm de largura com a profundidade total da placa, depois foram incluidos os separadores, em madeira. Infelizmente nosso fotógrafo também acabou não fotografando a parte interna dessa caixa.

Essa já é uma caixa de concreto celular em que as placas foram cortada e depois montadas, com utilização de cimento cola.

Pra falar bem a verdade, o fotógrafo, esse que vos escreve, não esqueceu de fotografar, esqueceu foi de carregar as pilhas de sua câmera, que se esgotaram. Felizmente alguma pilhas velhas permitiram tomar mais algumas fotos e então vocês vão ter mais algumas imagens, do final da matéria.

Depois disso o Mario me convidou para tomar um chimarrão, hábito que parece ser bem arraigado nos cataúchos que criam ASF nessa região, por sinal o Bob, quando esteve por lá aprendeu a tomar chimarrão.
Enquanto tomávamos o chimarrão, o Mario me contou que ele foi do Banco do Brasil, mas nunca trabalhou como bancário, na verdade ele sempre trabalhou em projetos de educação ou de implantação de novas tecnologias, e ele se considera um ótimo tocador de projetos. Depois de  se aposentar ele comprou esse pedacinho de terra e ali ele tem enterrado muito trabalho e algum dinheiro no seu projeto - Estação da Vida, onde ele nos mostra que é possível recuperar áreas degradadas. Ele também tem uma horta orgânica, mas sua principal atividade atualmente é auxiliar um grupo de pessoas de Morro das Pedrinhas, a se reunir em associação para produção de orgânicos e desenvolvimento da Meliponicultura. Na verdade tanto a produção orgânica, quanto a meliponicultura parecem ser ferramentas para a evolução do grupo. O maior interesse de Mario Tessari, parece ser criar um mundo melhor, para a gente. Meliponicultura, produção orgânica, recuperação de áreas degradadas, associativismo, tudo isso são apenas ferramentas para a criação desse mundo melhor.

Logo chegou a Elisa, sua esposa, que também é educadora e que partilha do sonho do Mario. Ah, acabei descobrindo que os dois são poetas e participam de um grupo de poetas da região, que se esforçam em disseminar a literatura e a poesia.

O Mario Tessari já tem alguns livros editados e fez questão de me presentear com um deles. Seu título: Momentos.

E eu faço questão de mostrar, aqui, o poema título desse livro que, ele diz ser para diferentes leituras.

Momentos,

A realidade da vida
é construída por nosso olhar.

Se olharmos o mundo
sempre na mesma perspectiva,
veremos sempre as mesmas faces
das mesmas coisas.

As coisas parecem ser como são vistas,
no entanto, teremos novas imagens delas
se mudarmo a direção do olhar.

A criança vê o mundo com olhos de novidade,
com curiosidade: não se satisfaz com o que vê;
explora o objeto e constrói o novo a cada olhar.
Não algo inexistente que passa a existir,
mas uma nova imagem gerada por
um olhar diferente sobre as mesmas coisas.

A beleza e a tristeza,
que nascem nos memos olhos,
são frutos de diferente formas de olhar.

O medo do novo limita o olhar,
condenando a realidade
a permanecer o que foi
e impedindo que a vida continue;
o medo do novo nos mata por dentro,

Poemas
são representações 
de novos olhares
sobre a mesma realidade;
são como fotografias que o poeta vive.

(em parceria com Maria Elisa Ghisi)

Olha eu aí ganhando o presente de nosso poeta.
Fiz questão de tirar uma foto, com sua parceira de poesia e de vida.

Foi pena ter que deixá-los, eu ainda tinha muito a aprender mas, com certeza eu volto lá outra vez, quero ter um novo olhar da Estação de Vida - Itaguá e de seus proprietários poetas.

Mario, Elisa, eu aprendi muito com vocês!

Uga,
José Halley Winckler




9 comentários:

  1. Olá amigo. De vez em quando venho apreciar as postagens da AME-RIO, e confesso que essa é uma das melhores, uma das mais gratificantes, pois vc está a nos mostrar a experiência na prática de um ambientalista que gosta do que faz, onde a consciência ecológica se agrega à experiência de vida. Muito show a postagem. Parabéns. Um abraço. Fco. Mello

    ResponderExcluir
  2. Sensacional, Winckler! Parabéns pela postagem.

    Mário, meu amigo, você está num paraíso. Que bom conhecer o seu espaço e um pouco da sua vida. Parabéns pela recuperação da área degradada. Você e sua cuia, me lembrei daquela surpresa que me fizeste, o chimarrão é muito mais gostoso naquela cuia, pois foi um belo presente.
    Grande abraço.

    Josmar

    ResponderExcluir
  3. Mario sempre leva Vida onde vai.
    Faz brotar vida em terra árida e em coração vazio.
    Faz brotar vida em água poluída e gente sem esperança.

    ResponderExcluir
  4. Parabéns pela postagem! Realmente o sítio do Mario é MARAVILHOSO! É uma sala de aula a céu aberto. O Mario e a Elisa são pessoas incríveis. O mundo precisaria ter muitos Marios e Elisas, desta forma ele estaria bem melhor. Mas com a capacidade de tocar as pessoas como eles têm, acredito que quem esta em contato com eles já esta trabalhando em prol da melhoria do nosso planeta. Até hoje a minha filha fala aos outros o que aprendeu com o Mario sobre as abelhas, dos morangos que colheu na horta orgânica, do riacho limpo onde molhou os pés e dos peixes que ela mesma alimentou. Abraço!! Marciana Matielo Tessari.

    ResponderExcluir
  5. MARIO.....
    Tinha tanta vontade de saber deste lugar lindo que tanto fala. Realmente é lindo!!!. Conheci també a Elisa, sua companheira.
    Abraços com muito carinho.
    Cristina Andrade - Passos-MG

    ResponderExcluir
  6. pai, que beleza ver teu sítio e teu trabalho, tão bonitos, tão bem divulgados.

    ResponderExcluir
  7. Parabens mario emocionaver a natureza basta ter mãos que a afaguem e ela retribui com a vida e vida com preservaçao.So´´essesidiotas


    Parabens M ario emociona ver a natureza;bastater mãos que a afaguem e ela retribui com abundÂncia abraço
    om prezervaçao feita por homens como vc.So´´ esses idiotas que depredam as barrancas de rios para plantar batatas nao veem isto. Meus netos te agradecem pela vida futura.

    Emociona ver a natureza basta ter maos que aa afaguem e ela retribui com abundancia desde que homens como voce a preserve.SO esses idiotas que depredam as barrqancasm de rios para plantar batatas nao sabem disso.Abraço mario meus netos te agradecem pela vida futura.amaurilateral d. do ouro verde 1967 vc.era zagueiro lembra?

    ResponderExcluir
  8. Davi José Pasini(Campo Bom-RS)30 de janeiro de 2012 às 14:59

    Parabéns pela iniciativa. muito bom. abração

    ResponderExcluir
  9. Sim, tanta gente compra sítio para desmatar o que sobrou, querem ganhar mais dinheiro do que já tem, mesmo sem precisar; Plantam vaca ou madeira para reflorestamento, só para não deixar o mato crescer, para esses esses estúpidos, acham a floresta que não serve para nada (R$)... Mas, quando se receber pela preservação, serão os primeiros a catarem grana do governo para "reflorestar" - Oportunistas. Mário Tessari, tai um bom exemplo de cidadão PATRIOTA DE VERDADE que ama o chão que lhe sustenta...

    ResponderExcluir