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segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Austroplebeia australis

A abelha sem ferrão Austroplebeia australis é exclusivamente australiana e habita desde a costa mais ao norte da Austrália, até bem abaixo no interior de New South Wales. Mais perto da costa a Trigona domina, e elas se sobrepõem, mas no árido interior ela reina suprema. Parece capaz de viver em áreas muito secas e de extremas temperaturas, mas não parece regular a temperatura dos seus ninhos. Muitas vezes escolhe árvores muito pequenas e, aos nossos olhos, de péssima qualidade para construí-los, no entanto ela sobrevive a temperaturas abaixo de 0º C e acima de 40º C. Ela não trabalha se a temperatura estiver abaixo de 20º C ou se estiver ventando muito, ou se o tempo estiver para chuvas. Mais importante, se não houver uma boa fonte de néctar ou pólen ao alcance não vai gastar energia procurando. Ele parece saber quando as plantas são dignas de trabalho em suas áreas e nesses momentos trabalha muito duro. Em outros momentos, pode ser difícil de se ver mais do que uma abelha ocasional deixando a entrada. É muito seletiva nas plantas em que busca o néctar e o pólen. Elas são muito diferentes de nossas Trigonas no comportamento, fascinantes de observar, bem características. Eles são muito tímidas e quando olham para fora da sua entrada discreta e vêem alguém, voltam para dentro. Este estilo de vida permite que individualmente as abelhas Austroplebeia australis vivam em média 6 meses, muito mais do que as nossas Trigonas.
Elas têm a prática incomum de fechar a sua entrada a cada noite com uma parede de resina. Não é sólido, mas é feito de partes que permite a passagem do ar. Na parte da manhã a medida que o dia esquenta, elas gradualmente abrem a entrada e armazenam o material utilizado para a porta na parede do seu tubo de entrada. Em um dia frio ou úmido o tubo permanece fechado.


TRANSFERÊNCIA DE COLÔNIA
Segue uma descrição da transferência de uma colônia de Austroplebeia de um tronco oco resgatado de um local de desmatamento em um dos muitos projetos de caixas utilizadas aqui. Depois, há algumas fotos de uma caixa muito diferente e inusitada que permite que a colônia seja dividida verticalmente. Serve muito bem a essas abelhas, a sua estrutura de ninhada é muito imprevisível.
Esta é a colônia no tronco oco. Vocês podem ver pelo tamanho das mãos, que é muito longo e fino, talvez sete centímetros de diâmetro no interior da cavidade e 1,2 m de comprimento. Como havia poucos depósitos de mel com a colônia, esta é provavelmente apenas uma parte da colônia. O resto pode ter sido perdido no resgate ou foi decidido não trazer os depósitos de mel. Eu já os vi com mais de 2,5 m de comprimento em toras com depressões estreitas.
A foto acima mostra a estrutura do ninho da Austroplebeia australis e como ele estava no tronco, bem menor que a média, por sinal. Quando transfiro essas colônias para uma caixa, sempre uso uma lona ou um pano, de modo que tenho uma boa chance de encontrar a rainha. A rainha é muito difícil e pode se esconder em seu próprio ninho em rachaduras dos troncos ou deixar o ninho junto com as outras. A procura também é feita por rainhas virgens para aumentar as chances de sucesso. Nós encontramos a rainha, nesta transferência, ela estava se escondendo em uma fenda no tronco.
Acima vemos algumas áreas de depósito, principalmente de pólen no presente caso. Cada célula tem apenas um centímetro de diâmetro. O mel é o de melhor qualidade de todas as nossas abelhas sem ferrão e pode ficar muito próximo do mel de Apis em suas características,  mesmo na densidade, o que é incomum para as abelhas sem ferrão. Talvez isso se deva à escolha do local para o ninho. Eles estão freqüentemente localizados em troncos secos de árvores, muito longos e em áreas muito secas o que torna a atmosfera muito seca.Talvez o ar quente subindo através dos galhos ocos faça secar o mel? Parece que as abelhas escolheram construir seu ninho em seu próprio desumidificador. Se A australis estiver forrageando na mesma árvore que as Apis forrageiam, como o “Yellow Box (Eucalyptus melliodora)”, que dá origem a um de nossos melhores méis, o mel resultante pode ser quase indistinguível do de Apis fisicamente mas, ainda têm aquele algo especial que apenas o mel das abelhas sem ferrão podem proporcionar. De todas as nossas abelhas sem ferrão a Austroplebeia é a que usa menos resina em suas construções, por isso a fonte da resina tem um efeito mínimo sobre o sabor do mel. Devido ao pequeno tamanho de cada célula, seria muito lento fazer a colheita através de métodos de sucção e ainda estamos a testando esse método aqui na Austrália. As células de mel freqüentemente se desenvolvem de uma forma que ficam grudadas ao exterior das células mais antigas, mas são muito frágeis quando novas.
Agora vemos o ninho sendo removido gentilmente do tronco aberto. O tronco havia sido previamente cortado com uma serra circular (e parece que as partes foram fechadas novamente) antes da demonstração de modo que somente um trabalho simples de corte foi feito durante a demonstração. Pela primeira vez eu estava observando e fui capaz de tirar fotos sem mel e resina em meus dedos e na CÂMERA.
Esta é uma foto posterior da colônia transferida para uma caixa, com um painel de inspeção. A foto foi tirada através do painel “transparente” e eu fui incapaz de evitar os reflexos. O ninho foi colocado na base de uma caixa cúbica, que tem  cerca de 15 centímetros de lado e de altura, junto com as melhores pedaços dos depósitos de mel e pólen. Há um telado no fundo para ajudar as abelhas se ocorrer algum derramamento de mel na transferência ou mais tarde em caso de um colapso da colônia pelo calor ou falha estrutural.

DIVISÃO DE COLÔNIA
A próxima parte da demonstração foi uma divisão de uma colônia da abelha em um tipo muito diferente de caixa. Esta caixa foi desenvolvida por um dos meliponicultor aqui do sudeste de Queensland, chamado Alan Waters, e é bastante engenhosa. Eu acho que funciona muito bem para a estrutura de ninhos que é mais comum com esta abelha, provavelmente o melhor desenho de nossas caixas, que eu já vi.
Acima visualizamos a colméia vazia e a estrutura interna de apoio da colônia e que torna a sua divisão previsível e segura.
Aqui já vemos uma colônia bem estabelecida no espaço disponível, onde  a área de crias se desenvolveu em forma de bola. Quando a caixa foi "dividida" a maior parte ficou em um dos lados, depósitos de mel e pólen podem ser vistos em torno das bordas e cantos do ninho.
Enquanto observava a menor parte da colônia, tentando avaliar se tinha alguma célula real e se tinha prole suficiente para garantir seu sucesso, tive a sorte de avistar a rainha. Mesmo que essa parte tenha menos crias, tem a rainha assim tudo vai ficar bem.
O próximo passo é adicionar novas metades vazias à cada uma das seções divididas da colônia. As duas seções são unidas quando a tampa é fechada com os parafusos, depois as barras de metal são fixadas nas laterais garantindo a junção correta das partes. Os painéis de inspeção também são divididos em duas metades. Este projeto de caixa necessita de boa precisão em sua construção de modo que as duas metades se encaixem muito bem entre si e de forma segura, para impedir a entrada das nossas duas principais pragas, moscas Syrphidae e é claro forídeos. Este último normalmente entra através da entrada de colméias enfraquecidas ou perturbadas, mas os sirfídeos são uma preocupação especial nesta fase. Estas moscas colocam seus ovos na parte externa da caixa, em uma fenda. Os ovos eclodem e as larvas minúsculas fazem seu caminho para o ninho onde elas podem rapidamente destruir uma colônia, se as abelhas não os detectarem rapidamente. A defesa contra eles é muito difícil. A junção bem apertada e selada é o melhor caminho.
Um comentário final sobre essa abelha é que a maioria das pessoas que as mantêm supõe que têm uma pequena colônia e só precisam de uma pequena caixa. Os registros históricos mostram que estas abelhas foram encontrados pelos primeiros colonizadores, com grandes quantidades de mel, eu os vi com estruturas de ninho muito grande, muitas vezes maiores que os exemplos mostrados nestas fotos. Devido à qualidade do mel, é a abelha que eu mais gostaria de usar para produzir o mel, mas é preciso haver uma forma de incentivar uma massa consistente de crias, visando conseguir uma grande quantidade de forrageadoras para produzir todo o rendimento de mel de que são capazes. Talvez seja genética e seleção para essa característica, talvez seja o projeto da caixa. Eu duvido que nós possamos produzir boas colheitas de mel com uma colônia em uma pequena caixa. Temos muito para aprender, tanta coisa para aprender. Eu tenho um amigo em Tara, com 450 colônias dessas abelhas, e pela primeira vez, ele levou algumas colônias para fora, para uma área onde duas boas espécies de eucalipto estavam florescendo. As espécies eram Tumbledown e Red River. Ambas produzem um bom suprimento de pólen e grande quantidade de néctar. As abelhas poderiam ser colocadas junto das árvores, portanto, não precisariam voar para longe. Vamos ver como elas vão se comportar. Foi um ano muito ruim para o sudeste de Queensland para o pólen nesta temporada por causa dos eventos de chuvas muito freqüentes. Isto está fazendo com que todas as operações das abelhas sem ferrão fiquem mais difícil do que o habitual, mas esperamos que esta primeira tentativa de mudar as abelhas para uma fonte de mel, como as Apis, mostrará se isso pode ser feito.

Bob the Beeman

2 comentários:

  1. O iteressante que as caixas são feitas de compenssados, que poderiam se desfazer sob a intemperias, mas deve ser um compenssado proprio, ou as abelhas poderiam rejeitar devido aos tratamentos quimicos que a madeira sofre. É uma belissima reportagem.

    Abraços Aldivar

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  2. Caro Aldivar,

    Acredito que você já tenha visto a resposta do Bob no ABENA, mas para que os outros também fiquem sabendo, vou transcrevê-la:

    "Pessoalmente, nunca usei a madeira compensada por causa dos produtos químicos envolvidos. No entanto, é um produto muito estável e econômica e as caixas pequenas estão sempre com uma tampa de isopor sobre elas para evitar desgaste.
    "Gostaria de ver essa caixa feita de uma boa madeira ao invés disso, e até mesmo o cimento vermiculita, que é muito estável também.(Eu tenho uma colónia de Trigona carbonaria indo bem em uma das minhas caixas de concreto e vermiculita quando eu fizer uma forma diferente de caixa de concreto de vermiculita terei a ajuda de Alan Beil para testá-lo com Austroplebeia).

    "Bob the Beeman"

    UGA

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