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quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Parque Estadual da Pedra Branca - Rio de Janeiro

Amigos da AME-RIO e Internautas,

Na quinta feira passada, em companhia do Carlos Ivan, diretor secretário da AME-RIO fomos conhecer o Parque Estadual da Pedra Branca, convite já feito há bastante tempo pelo Christiano Figueira, que é o meliponicultor responsável pela preservação de abelhas nativas nesse parque.


Esse parque é considerado a maior reserva florestal em área urbana no mundo, sua área é de 12.500 hectares e dentro dele se encontra o Pico da Pedra Branca, com 1.024 metros  de altitude esse é o ponto culminante da cidade do Rio de Janeiro.


A entrada principal do parque fica na Estrada do Pau da Fome, em Jacarepaguá, no Rio de Janeiro. A melhor maneira de chegar até lá é a seguinte: Pelo Largo da Taquara em Jacarepaguá, entrar na Estrada do Rio Grande e seguir até o Largo da Capela, onde termina a Rio Grande. Entrar na Estrada do Pau da Fome e seguir em frente uns dez minutos, até a entrada da sede. Estrada do Pau da Fome, número 4003.


Logo na entrada existe um bela construção, perto fica o prédio da administração e depois muito mato, ou muita mata.

Canaletas conduzindo água, dentro do parque.

Por todo o parque.

Riachos pedregosos.

Com água super limpa.

Bela cachoeiras.

E trilhas com muita sombra.

O parque é um lugar especial e parece ser um ótimo lugar para se encontrar e criar abelhas nativas.


Logo que chegamos o Christiano nos levou até a área onde existia um orquidário, ele pretende recuperar essa área e além das orquídeas e bromélias, quer montar um meliponário, junto as plantas.


 Dentro do parque ainda existe uma estrada que serve a antigos moradores da área e que ainda não foram realocados. Essa estrada passa ao lado dos predios da administração.


Junto a esses prédios o Christiano instalou uma caixa decorada, com um ninho de Iraí (Nannotrigona testaceicornis).


E outra com um ninho de Jataí (Tetragonisca angustula angustula).

Um dos objetivos do Christiano é instalar outras caixas, com exemplos de outras abelhas de ocorrência na região, mandaçaias, guaraipos, mirins, tubunas, mandaguaris, uruçus e outras abelhas, ele inclusive já localizou ninhos de guaraipos, mirins e mandaguairis dentro do parque, mas ele não pretende retirá-los. Seu objetivo é levar mais abelhas para o parque e não retirar nada da natureza. Ele até pretende capturar algumas abelhas com ninhos iscas, no parque e nos seus arredores, já tendo instalado algumas caixas para isso, mas mesmo essas serão utilizadas para multiplicação de enxames dentro da área do parque, para repovoamento e não serão matéria de comercialização.


Acima temos a entrada de uma Mandaguari amarela (Scaptotrigona xanthotricha), sua boca está a cerca de 8 metros de altura em uma árvore bem próxima do orquidário.

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Já as abelhas acima devem ser retiradas, são abelhas africanizadas (Apis melífera) e estão instalada em um galho, a mais de 15 metros de altura, infelizmente não consegui uma boa focagem, com minha câmera, além de a luz não ajudar.


Nosso amigo Carlos Ivan tratou a imagem, mas mesmo assim não ficou muito boa, mas já da para ver os favos de abelhas apis pendurados no galho, sem nenhuma proteção, esse tipo de ocorrência não é muito normal, mas acontece de vez em quando. Provavelmente as campeiras demoraram para encontrar um abrigo melhor e as abelhas carregadas de mel, começaram a produzir cera e construíram os favos no próprio galho onde o enxame deveria estar estacionado, a espera de localização de um abrigo. Acho que algum apicultor pode explicar melhor esse acontecimento ou talvez o João Pedro Cappas possa fazê-lo.

A direção do Parque da Pedra Branca pretende fazer a retirada de todos os enxames de abelhas exóticas que localizarem, da mesma forma que está erradicando as jaqueiras e outras árvores exóticas. Por ser área de preservação da flora e fauna nativas, o parque não pretende manter qualquer espécie que não seja de ocorrência natural na área.

Voltando ao assunto de localizar enxames, em muros e árvores no lado externo do parque, o Christiano já localizou diversos enxames.


Acima uma colônia de mirins, não sei qual seria a espécie, acredito que possa ser uma plebeia, pela forma da entrada, mas não sei qual.


Outra mirim, no mesmo muro.


Aqui uma colônia de Iraís, com o canudo curto.


O Christiano me mostrou outra colônia de Iraís, com o canudo um pouquinho maior.


Nesse muro coberto pela trepadeira unha de gato (Ficus pumila), o Christiano apontou uma outra colônia de abelhas.


Mesmo me aproximando, estava difícil de ver a colônia.


Mas chegando bem perto dá para ver a entrada de jataí, com uma grande quantidade de abelhas, deve ser uma colônia bastante forte.


O Christiano me mostrou uma árvore onde a cerca de 10 metros de altura ele disse ter um ninho de iraís.


Aproximando, descobri que não era um, mas eram dois ninhos de iraís, agora de canudos longos.


Uma descoberta bem interessante foi a que o Christiano fez enquanto estávamos lá no parque. A parede acima é do prédio de administração,  que acabou de ser pintado. A cor da parede não é branca, é amarela, mas o reflexo da luz mudou a cor na foto. Aproximando-se dá para ver um minúsculo furo, de cerca de 1,5 ou 2 mm e vimos insetos entrando nele, a princípio pensei que fosse uma vespinha solitária, mas depois deu para ver que eram abelhas bastante pequenas.


Deve ser um tipo de mirim, a entrada provavelmente foi destruída com a pintura, mas as abelhas conseguiram reabrir a entrada. Eu cheguei a ver abelhas entrando, até carregando pólen, mas não consegui fotografar. Vamos ver se no dia 24 de setembro alguém identifica essa abelha e as mirins mostradas anteriormente.

Ah, eu esqueci de contar que  a direção do Parque Estadual da Pedra Branca, a pedido do Christiano, disponibilizou a área do parque para que a AME-RIO fizesse a sua reunião mensal do mês de setembro. A reunião será no dia 24 de setembro, mesmo final de semana do Apimondia, tínhamos pensado em não realizar reunião em setembro devido ao Congresso Mundial, mas em respeito àqueles associados, que por seus próprios motivos não vão participar desse evento, resolvemos realizá-la de qualquer maneira. Quem não puder ir a Argentina vai ter uma reunião para falar de abelhas aqui no Rio de Janeiro e para conhecer o que o Parque está fazendo pela preservação das abelhas e do restante da fauna e da flora da região.

Eu e o Ivan aproveitamos e convidamos o diretor do Parque, Alexandre Marau Pedroso, a vice-diretora Vanessa e os biólogos Heloína e Leonardo para participar de nossa reunião do dia 27 de agosto, que vai ser no sítio do Antônio Abreu.


O Cristhiano também nos mostrou a Boca de Sapo (Partamona heleri), que ele transferiu para o Parque há alguns dias.

Enquanto o Christiano estava me mostrando o parque e suas abelhas, vieram chamá-lo para atender o pedido de uma escola próxima, para retirar um gambá que estava preso em uma lata de lixo da escola.
Eu resolvi acompanhar o Christiano e o funcionário do parque que foram atender o pedido.


Foi fácil descobrir o que tinha acontecido, o pessoal da escola deixou as lixeiras abertas.


Encostadas no muro que dá para uma mata cerrada.


Dois gambás vieram futucar no lixo e acabaram caindo dentro da lata e estavam lá muito mais assustados do que a funcionária que os viu e ligou para o parque. Também ficou fácil resolver o caso, foi só virar a lata do outro lado do muro e deixar os gambazinhos irem embora, recolher o lixo que foi junto e mais uma vez recomendar aos funcionários da escola, que mantivessem as latas de lixo tapadas.

Na volta eu aproveitei e ofereci para o Christiano uma dúzia de iscas feitas de garrafa PET. Ele gostou tanto que resolveu distribuí-las na mata, naquele dia mesmo.



Agora é só torcer para que até o dia de nossa reunião alguma isca já tenha atraido alguma abelha.

Parabéns a diretoria e a equipe de biólogos do Parque da Pedra Branca pela iniciativa de preservar e tornar conhecidas as abelhas nativas da região e parabéns ao Christiano por tê-los incentivado e assessorado nessa iniciativa, com a sua participação já ocorreram diversas palestras e apresentações sobre as abelhas, não só no parque, mas também no Museu Nacional, na Quinta da Boa Vista.

Acho que o Christiano vai ter muito o que nos contar no dia 27 de agosto e também no dia 24 de setembro.

UGA

José Halley Winckler

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Meliponicultura e preservação, um exemplo

por José Luiz S. Vieira - de Cuiabá - MT.

Muito se fala em preservação da fauna e flora brasileira. Apesar dos esforços de muitas pessoas, sempre existiu uma linha contrária no meio do agronegócio que usando de nomes politicamente corretos, como agricultura sustentável, continuam destruindo milhares de hectares de florestas, matas, cerrados e até do bioma da caatinga.


Na linha da boa preservação da Natureza, no município de Diamantino, em Mato Grosso, encontrei um exemplo dessas pessoas idealistas que sem muito alarde fazem a diferença na meliponicultura brasileira. É o agricultor e meliponicultor, também entomologista entusiasta no estudo de lepidópteros com diversos trabalhos científicos já publicados. Trata-se de Eurides Furtado.

Em sua fazenda onde explora pecuária e plantio de abacaxi, possui uma área considerável de cerrado como área de preservação. Nesse espaço é possível encontrar diversos ninhos de abelhas nativas, desde jatai (Tetragonisca angustula), passando pela Partamona helleri (boca de sapo), até a bela boca de vidro (Tetragona dorsalis), ali vivendo sem qualquer interferência humana.

Na visita que fiz a essa pessoa extraordinária, chamou-me a atenção a existência de um ninho de uma abelha nativa que seria a "GUIRA" (Geotrigona mombuca Smith), segundo descrição de Paulo Nogueira Neto em "A criação de abelhas indígenas sem ferrão", 1970, 2a. edição - livro que Eurides tem um exemplar bem preservado.

O enxame dessa abelha existe nesse ninho ao longo de 27 anos. Dá pra tentar imaginar quantas gerações dela já passaram renovando-se ao longo desse tempo?

Vamos a singular estória por ele contada sobre esse ninho subterrâneo, existente dentro de sua casa.

Há 27 anos decidiu erguer a casa onde mora na fazenda e trouxe um cunhado do Paraná para o serviço de pedreiro. Quando já tinha feito todo o alicerce da futura casa e iam passar ao trabalho do aterro, mesmo pedreiro procurou-o dizendo: "-Ali naquele trecho da casa tem uma entrada dessas abelhas que saem do chão".

Eurides, preservacionista nato não pensou duas vezes e respondeu: "-Aguarda um pouco que vou resolver isso". Pegou uma curva de pvc de meia polegada, e no anoitecer, quando tinha certeza de que todas as abelhas campeiras já tinham se recolhido, foi até a boca do enxame, e colocou a curva de pvc, cimentando em cima. Na sequência, usando de um pedaço de mangueira de mesma bitola, acoplou na curva para que sua ponta ficasse fora da casa, alcançando onde seria a calçada lateral, que foi construida depois (Não medi, mas essa mangueira tem uns 2,5m de comprimento). Em seguida, cobriu com cimento a mangueira no espaço onde seria necessário nivelamento e aterro naquele trecho... e pronto, as "GUIRA"(?) foram preservadas e estão vivendo no mesmo enxame subterrâneo ao longo desses 27 anos, desde a época em que a casa foi ali contruida naquilo que seria, como era, o espaço natural de nidificação delas, que foi mantido, sem mudanças efetivas, a não ser a entrada, que ficou... um pouquinho mais longe da anterior.


A foto mostra Eurides apontando a entrada da enxame como está hoje. Sobressai na calçada lateral azulejada, onde fez uma ligeira elevação, pra evitar excesso de água escorrendo ali na época das chuvas.

O zelo de Eurides com as nativas não para ai. Numa área coberta, tida como área de serviço externa, e onde ele mesmo fabrica suas caixas modelos PNN, e os suportes para elas, num carinho e amor extremo por abelhas nativas, mantem ao nivel do chão, dois enxames de jatai que enxamearam ali em vasos cerâmicos como iscas que ele cimentou na época da construção dessa área.

Contou-me que pegou desses vasos de cerâmica para plantas, emendou um no outro, fez o buraco de entrada, ligou num um pedaço de mangeira e no outro um pedaço de bambú, cimentando-os nos locais mostrados nas fotos, sem nenhum enxame dentro.



Depois de tudo pronto, com o piso já colocado a cerâmica, com uma seringa injetou um extrato "mistura de restos de enxame de jatais, tipo própolis, restos de cera, polen, enfim, quase o lixo de um enxame velho, diluidos no alcool".


Palavras dele, "com o tempo não demorou muito e duas enxameações de jatais descobriram essas novas moradias e se instalaram".

Digno de todos os elogios nosso amigo Eurides Furtado, um jovem de 63 anos de idade, que pode ser encontrado na fazenda dele, e eventualmente na lanchonete que mantem juntamente com a esposa dona Ana Lucia, na beira da estrada entre o Posto Gil e Nova Mutum, num local chamado "Lanchonete Abacaxi - Vale da Solidão" - onde podemos matar a sede com delicioso suco de abacaxi da produção de sua fazenda, além de gostosos pasteis. Passando pela região não deixe de ir conhecê-lo.