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quarta-feira, 13 de julho de 2011

Ratones - Uma tarde muito especial

De repente me deu saudade de Ratones...

Vocês sabem o que é Ratones? Não, não estou falando da banda de rock, "Los Ratones Paranóicos", estou falando de um distrito, ou bairro, de Florianópolis - SC.

Ratones fica bem no centro da parte norte da ilha e é um dos lugares mais bem preservados de Florianópolis,  ainda mantém grande parte de sua cobertura vegetal original,  é uma região bastante montanhosa e é privilegiada pela existência de inúmeros riachos.

Em março, desse ano, eu estive em Florianópolis, visitando um irmão meu e acabei descobrindo Ratones. Na verdade não foi nada programado: Alguns dias antes eu estive em Crisciúma visitando o Jean e lhe falei que pretendia passar alguns dias em Florianópolis e queria aproveitar para conhecer algum meliponicultor dessa região. Ele me indicou o Edinaldo, que eu já conhecia de nome por acompanhar suas mensagens no grupo ABENA. Quando eu cheguei em Florianópolis, em um sábado pela manhã, 12/;03/2011, liguei para o Ednaldo, ele não estava, mas deixei recado e à noite ele entrou em contato comigo, se mostrou bastante solícito e se prontificou a me receber e mostrar sua abelhas, infelizmente não poderia fazê-lo no outro dia, a não ser que fosse muito cedo, ele estava escalado para plantão em seu serviço, mas em qualquer outro dia poderia tirar um tempo para me receber, infelizmente eu só iria ficar esse final de semana, em Florianópolis.

Então o Ednaldo lembrou: quem sabe o Pedro? Ele tem uma grande quantidade de abelhas e pelo que conheço, vai ficar bastante contente em lhe receber e em mostrar suas abelhas e seu sítio. O Ednaldo me passou o telefone do Pedro e na mesma hora eu liguei para ele. O Pedro se mostrou bastante simpático ao telefone e fez questão que eu fosse no outro dia visitá-lo. Combinamos de nos encontrar no horário da tarde, no domingo.

O dia amanheceu com muita chuva e eu já estava quase conformado em não visitar abelha nenhuma em Florianópolis, mas no início da tarde a chuva diminuiu, convidei meu cunhado e resolvi ir assim mesmo, rezando para que a chuva parasse até eu chegar no sítio do Pedro. E não é que isso aconteceu? Momentos antes de chegarmos a casa do Pedro a chuva parou. A chuva contínua da noite e da manhã deixou tudo muito molhado, até chegou a provocar deslizamentos na região, ainda assim o Pedro estava lá pronto para me mostrar seu sítio e suas abelhas.

Quando ele veio me receber, uma surpresa, eu já conhecia o Pedro Faria, no ano passado fomos apresentados em Ribeirão Preto, no IX Encontro sobre Abelhas, também no final de semana, após o encontro, também estivemos juntos em visita à Fazenda Aretuzina, do PNN.


Acima, três Pedros,  o Pedro Faria Gonçalves está ladeado pelo João Pedro Cappas e pelo Pedro Paulo Peixoto, no ano passado em Ribeirão Preto, ao final de um dia estafante e de muito estudo. Abaixo as fotos que tirei em 13 de março deste ano, no sítio do Pedro Faria, lá em Ratones. Já foto acima foi copiada de uma postagem em nosso Blog;


O Pedro tem vários meliponários coletivos espalhados pela propriedade, sendo que em cada um ele tenta manter uma espécie de abelha, acima estamos vendo nosso anfitrião no meliponário reservado as Manduris.


Colônia de Manduris (Melipona marginata), também muito interessante o alimentador ecológico, feito de colmo de bambu.


Abrindo outra caixa de Manduris, dá para ver a entrada, em que uma só abelha entra por vez, e os detalhes da caixa, os fechos de madeira e arame, a alça lateral, para pegar a caixa e o plástico entre a tampa e o ninho.


Caixa aberta, dá para ver que o ninho está alcançando a tampa da caixa, também podemos ver outro alimentador ecológico.


Esta caixa hexagonal ele não abriu, pois tinha transferido as abelha há pouco tempo, até esse momento elas estavam presas, mas o Pedro está retirando o graveto que fechava a entrada.


Aqui um outro meliponário, ainda em construção.


Nele serão colocadas as Jataís (Tetragonisca angustula angustula).


Atualmente as Jataís estão alojadas em suportes individuais.


Acompanhando o caminho.


Que nos leva a um viveiro de mudas de especies nativas.


Algumas estão sobre estrados.


Fui presenteado com essa muda, mas o Alzheimer veio me visitar e como eu não escrevi o nome da espécie, agora não consigo lembrar o que é, parece uma goiba do mato, mas vou esperar crescer para descobrir ou então uma hora dessas pergunto ao Pedro, de novo.


O sítio é muito arborizado, mas deve receber muito mais plantas, só de palmeiras jussara ele disse já ter plantado mais de 5.000, nestes últimos anos e pretende duplicar isso.. Acima parece ser uma mirtácea, talvez uma uvaia.
A fixação do Pedro pela recuperação do meio ambiente é evidente, ele me contou que há dez anos atrás o sitio era bem diferente, mas a medida que ele começou a plantar mudas de espécies nativas, outras começaram a nascer por conta própria, provavelmente as sementes foram trazidas por pássaros ou roedores. Agora  aumentou bastante a quantidade de água de um riachinho que corta suas terras, até perenizou esse riacho.


Aqui o Pedro junto a uma caixa de Jataís, em um suporte individual, a caixa parece um pouco grande, mas em Santa Catarina, vi muitas dessas caixas, com esse tipo de abelha, várias delas abarrotadas até a boca.


O Pedro não se preocupa apenas com a Flora e com as abelhas sem ferrão, também quer multiplicar as abelhas solitárias. Em todo o lugar do sitio encontramos esses feixes de bambus, preparados para atraí-las.


Acima estamos vendo uma passarela, utilizada para observação das flores das palmeiras jussaras e de seus polinizadores. Essa passarela foi construída no ano passado, para auxiliar em um projeto de uma aluna de mestrado da Universidade Federal de Santa Catarina. O Pedro além de formado em Agronomia, ter feito mestrado em Agroecologia e agora estar fazendo o doutorado na mesma área, ainda auxilia e empresta seu sítio para diversos projetos de outros alunos da Universidade.


Voltando às abelhas, acima a entrada de uma colonia de bugias (Melipona rufiventris)


Abrindo a caixa podemos ver que a postura está batendo no teto e a colônia está com uma população bem alta.


Bonita entrada de uma colonia de mandaçaias (Melipona quadrifasciata quadrifasciata).


Postura alcançando o teto da caixa.


E bastante alimento, podemos ver ainda o alimentador sem uso a muito tempo.


Com um canudo de bambu, o Pedro resolveu provar o mel das Mandaçaias.


Eu não fiquei para trás e esvaziei o maior pote que eu vi fechado. O mel estava maravilhoso.


Tem tantos butiás no sítio, que o Pedro na maioria das vezes deixa as frutas para os passarinhos e outros animais.

Meu cunhado, Adelson, em frente a um grupo de caixas com diversas espécies.


Uma caixa de mandaçaias, com uma entrada com bastante geo-própolis.


Aqui o Pedro sobre uma pequena ponte no riacho, que leva a "Alameda" das Guaraipos.


Caixa de guaraipos (Melipona bicolor schenki), em um suporte individual.



Ninho de guaraipo. O invólucro aberto expõe os favos de cria. Ao redor encontram-se os potes para estocagem do mel e pólen.


Podemos ver as duas rainhas, ocorrência freqüente em colônias de Guaraipo, abelha onde a poligenia é comum. Podem ocorrer casos de existirem cinco ou mais raiinhas, mas na maioria das vezes encontramos apenas duas.


Outra visão do ninho, com as duas rainhas.


Outras caixas de guaraipo, na parte bem úmida da mata. Esse tipo de abelha exige muita umidade para poder se desenvolver.


Visão da área de ninho de outra caixa de guaraipos.


Vista da área lateral apenas com armazenamento de mel e polén


Entrada de uma colônia de tubunas, caixa alojada em suporte individual.


O Pedro tentou abrir a caixa com um canivete, mas a tubuna é uma abelha que junta muito própolis, dificultando a abertura das caixas.


Mas o Pedro não se deu por vencido e sacou de um outro "canivetinho", aí ficou bem mais fácil.


Visão do ninho das tubunas, ainda bem que já tinha caido a noite, ou elas teriam nos corrido, fácil, fácil.


Mais uma foto do ninho de tubunas, a noite todos gatos são pardos e meliponicultor fica corajoso.


Depois o Pedro nos levou para conhecer o local onde ele faz sua caixas, a oficina de seu pai, que tem uma marcenaria onde fabrica teares.


Com o uso de equipamentos da marcenaria, as caixas ficam com um encaixe perfeito.


E a tampa, fica tão bem fechada, que não permite a passagem de luz, ou de qualquer outra coisa, é um teste que o Pedro está fazendo, se a tampa não permitir nem a passagem de luz, então não vai exigir que as abelhas desenvolvam uma camada exagerada de geoprópolis.


Outro modelo de caixa, feita com sobras de madeiras, para unir as diversas peças são utilizados encaixes macho/fêmea, de forma a não deixar nenhuma fresta. É a grande vantagem de quem tem acesso a equipamentos profissionais, para a fabricação de caixas.


O Pedro também banha as alças e outras peças das suas caixas em extrato de geoprópolis de meliponas.


Acima detalhe da secagem de algumas peças.

Depois de nos mostrar toda a oficina, o Pedro nos chamou para conversar dentro de sua casa e degustar alguns méis de sua produção.



Logo na entrada uma mesa, com uma grande variedade de produtos, segundo ele uma pequena amostra do que é cultivado ou produzido no próprio sítio. O nosso agro-ecologista fez questão de frisar que toda sua produção é totalmente orgânica. Também faz questão de não utilizar qualquer produto que deixe rejeitos não degradáveis. 


No canto da sala, mais produtos do sítio.


Então o Pedro foi até a geladeira e trouxe alguns vidros contendo méis de suas abelhas, que estavam sendo conservados sob refrigeração. Na foto também se pode perceber que por todos lado tem legumes, frutos e sementes produzidos no sítio.


Depois o Pedro foi buscar uma garrafa, contendo mel conservado por fermentação controlada, totalmente fora de refrigeração.


O primeiro mel que ele nos serviu, foi um mel de Mandaçaia, já quase totalmente cristalizado. O Pedro nos falou que esse mel tinha sido colhido a mais de seis meses, mas estava muito bom, o mel de abelhas sem ferrão quando cristalizado parece ficar melhor. Aqui o Pedro aparece oferecendo o mel para meu cunhado, o Adelson.


Depois nos foi oferecido um mel de Guaraipo, também cristalizado, muito bonito por sinal, a cristalização é totalmente branca e o mel estava ainda melhor que o anterior, também tinha mais de seis meses.


A seguir degustamos dois méis relativamente novos e ainda não cristalizados, na época ambos tinham menos de sessenta dias da colheita. O mais claro também era um mel de guaraipo e tão gostoso quanto o cristalizado, mas com um paladar bem diferente. Já o outro era um mel de Bugias, bem mais espesso e brilhante mas não menos gostoso.


No final nos foi servido um mel de mandaçaias, que foi conservado pelo processo de fermentação controlada. Esse mel tinha sido colhido mais de um ano atrás e tinha um paladar excelente, um pouco frutado, levemente ácido e parecendo um pouco gaseificado. Diferente do mel recém colhido, mas muito bom.


O Pedro também tinha algum méis que estão sendo conservados em vasos de cerâmica, onde sofrem um processo de maturação,  não nos ofereceu uma prova, porque o mel ainda não estava pronto. Não sei onde ele aprendeu essa técnica de maturação, mas é possível que tenha sido com os índios Guaranis, pois o Pedro participou de um projeto junto a esses índios.


Falando em índios, na imagem acima nós vemos o Pedro mostrando uma espiga do milho sagrado dos guaranis (AVATI ETE).

Alguns o chamam de milho azul, mas para mim esse milho puxa mais para o roxo. Ele recebeu as sementes do milho diretamente dos guaranis, quando estava trabalhando com eles, e agora as está multiplicando em seu sítio.


O Pedro fez questão também de nos mostrar uma apostila sobre a criação e manejo da abelha maia - Xunan Kab (Melipona beecheii). Vocês devem ter notado em uma das imagens acima, uma apostila do Cappas. São arquivos que o Cappas lhe deu, lá em São Simão, quando da visita à Fazenda do PNN.

Depois disso só restou agradecermos a acolhida e voltar para a casa de meu irmão. Foi uma visita super instrutiva, onde eu aprendi muito, principalmente aprendi a respeitar o Pedro, ele é uma pessoa que realmente faz a diferença. Ganhei o dia e, muito melhor, ganhei um amigo.

Uga,

José Halley Winckler.

7 comentários:

  1. Amigo,

    a muda dessa "goiaba do mato" não seria de araçá?

    Afetuosamente,
    Raul Rodrigues

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  2. Amigo Raul,

    Eu não posso afirmar, mas a planta que eu acho mais parecida com a muda que ganhei é a Feijoa sellowiana (feijoa, goiaba-serrana, goiabeira-serrana, araçá-do-rio-grande, goiaba-do-campo, goiaba-silvestre, goiaba-crioula, goiaba-da-serra).

    Eu usei a denominação goiaba-do-campo, mas se ela também é conhecida por araçá-do-rio-grande, pode ser que nós estejamos falando da mesma planta.

    Os outros "araçás" que conheço são do gênero "Psidium" e não apresentam a diferença de coloração nos lados opostos das folhas e também não apresentam pilosidade nas mesmas. Já, na muda que ganhei é possível observar que a parte de baixo das folhas é mais clara que o outro lado e também que as folhas são razoavelmente pilosas.

    Obrigado por seu comentário e pela visita ao nosso site.

    Um abraço,

    José Halley Winckler

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  3. Que show!!! Que belo trabalho Pedro (Gonçalves)!!! Deu vontade de passar aí pelo sítio... parabéns, parabéns, parabéns... bjs Uíra.

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  4. Gente, eu conheço muito bem o Pedro (Pepe).
    Além de todo esse trabalho lindo que ele faz, e de ser tudo orgânico e ecológico, acho que o diferencial do Pedro é que cada passo que ele dá naquela terra, é com o mais profundo AMOR.
    Que ele tenha muita luz para continuar a ser um guardião da natureza! Namastê pessoal.

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  5. Linda postagem... Embora aínda não conheça SC pude perceber que se trata de uma região bem preservada e muito bonita. Agora, se não for pedir muito, gostaria de saber como entrar em contato com o Pedro. Quero saber se teria como ele me enviar sementes desse milho sagrado. Aqui chamamos de sementes caboclas ou crioulas.

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  6. Olá Andrey,

    Encaminhei a sua solicitação para o Pedro.
    Obrigado por visitar nosso site.

    Um abraço,

    José Halley Winckler

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