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domingo, 17 de julho de 2011

Criação de abelhas silvestres (meliponicultura) protege colméias na natureza

Para evitar que árvores centenárias sejam abatidas criminosamente com machado ou motosserra para retirada de uma colméia de abelhas silvestres, está sendo estimulada a capacitação dos criadores a fim de preservar os ninhos remanescentes nas áreas de Mata Atlântica, especialmente nas encostas íngremes e às margens do rios de SC.

Para que as espécies de plantas ou animais não sejam alvo da cobiça humana, é necessário que seja desenvolvida a consciência de preservação, e isso é alcançado com a informação e capacitação dos envolvidos. Há também a necessidade de ampliar o numero de áreas protegidas e gerando a cultura dos povos margeantes para que ajudem na vigilância desse patrimônio natural evitando que saqueadores destruam espécies raras em troca de alguns trocados.

Atualmente as abelhas nativas da Mata Atlântica, ou sem ferrão, já contam com muitas pessoas que as defendem, criam racionalmente de forma a recuperar pelo menos um pouco do que já foi destruído, sendo que o comércio pode ser impulsionado como forma de evitar que as pessoas interessadas recorram a natureza, pela falta de opção em desenvolver a atividade.

Devido as modernas técnicas desenvolvidas em parcerias por institutos de pesquisa e criadores pelo país inteiro, as ASF já podem ser exploradas intensivamente para produção de mel, pólen, própolis e polinização, gerando renda complementar e desenvolvendo alternativa socioincluidora, fixação do homem ao campo, turismo ecológico, laborterapia, com promessas de ser uma atividade viável. Pelo menos para os criadores racionais que respeitam não somente o meio ambiente, mas também a potencialidade das colméias, pois dentre as espécies são regidas por regras peculiares.

A criação racional e o manejo técnico visam desestimular a captura em áreas protegidas de matas nativas sendo que a captura através de ninhos-iscas e multiplicação racional de ninhos pré-existentes são permitidos por lei.

Meleiros e mateiros, quando não capacitados, removem ninhos de cavidades naturais, na expectativa de usufruir do mel, descartando os enxames, ou para ganhar dinheiro, no entanto causam a supressão dessas abelhas nativas, exaurindo esses recursos para o futuro.

Para evitar o saque de colméias de abelhas silvestres fora de APP ou RPPN, se difunde as técnicas de divisão racional sem a derrubada das árvores, devendo permanecer no local de origem, parte do núcleo que dará origem a um novo enxame, dando continuidade a espécie, e propiciando que as pessoas possam ingressar na atividade.

Com essa técnica, ou com a técnica de captura apenas de campeiras, como descrito no livro A Jandaíra do Monsenhor Humberto Brunning, sendo que o tronco permanece intacto, e o cortiço não é violado, permitindo que enxames nessa condição possam contribuir perenemente com o avanço da meliponicultura.

A poucas décadas muitas espécie de ASF em SC estavam ameaçada de extinção, no entanto com o trabalho árduo de entidades, Universidades, Associações, ONG's e de criadores anônimos, atualmente a maioria delas, já se encontram em números estáveis, com fortes indícios de franca regeneração, sendo que já há muitos relatos de enxames racionais, enxamearem para matas, contribuindo assim a atividade formal para o retorno desses animais para a natureza, pois são criados livres, e podem optar por escolher qualquer local para nidificarem.

Para que o problema de destruição de vegetação nativa não perdure, o que era preocupante até se ter as técnicas adequadas de manejo, é necessário que as entidades oficias de pesquisa e extensão se engajem fortemente na formatação de cursos e na capacitação dos técnicos agrícolas, para que esses possam estar replicando os conhecimentos, junto ao homem que não tem acesso a essas informações, que infelizmente ainda são de difícil acesso a boa parte da população envolvida.

Ainda temos partes de matas preservadas e precisamos proteger a biodiversidade, para que possam garantir a nossa sobrevivência agora e no futuro.

O manejo racional das abelhas nativas é denominado de meliponicultura, pois são abelhas do gênero Apidae (pertencem a subfamília Meliponinae, que é dividida em Tribos Meliponinae (Meliponini, Trigonini, etc...) e, gêneros (Melipona, Tetragonisca, etc...), sendo que em cada região ocorrem as espécies características (M. bilcolor, T. angustula, plebéias, scaptotrigonas, etc...).


Sabe-se que a domesticação de plantas e animais, tem preservado esses seres da extinção, os quais prestam um serviço importante a manutenção da raça humana, no entanto a manipulação genética e o uso de pesticidas podem alterar as leis da natureza.

O Mel além de alimento é uma iguaria bastante antiga, e se espera que chegue não somente à mesa das pessoas mas também faça parte da merenda escolar e da dieta em academias, hospitais e clínicas de recuperação, pois alem de energético de fácil absorção, encerra em si a energia vital das plantas, levando o equilíbrio da natureza para o beneficio da nossa saúde.

Diferente da Apis mellifera scutellata, de origem africana, que denominamos de africanizada, que possuem em média mais de 50.000 indivíduos por colméias, as ASF possuem poucas centenas ou alguns milhares, sendo que por terem numero menor de indivíduos por colméia, há necessidade de que os criadores, tenham um numero maior de caixas, para poderem ter uma produção equivalente, o que ajuda a natureza a sua volta, devido ao serviço ambiental desenvolvido que é a polinização e a dispersão de sementes.

As ASF não causam problemas ou acidentes pois não possuem aguilhão, ou seja não tem ferrão.

Há muitas opções de explorar abelhas nativas em prol da natureza, mas a mais difundida é o diletantismo, hobie ou PET, pois as espécies sociais de ASF são de fácil manejo e a maioria delas se ambientam facilmente ao meio urbano ou próximo as residências rurais, o que é um fator importante para o envolvimento de mulheres e crianças na atividade, gerando inclusão social dos entes da família, especialmente em horários neutros, que estariam ociosos.

No Brasil não há produção comercial de mel de ASF em larga escala, pois faltam estímulos na formação de pasto melífero, subsídios para o aumento dos planteis, e a divulgação ao público consumidor.

A produção de mel com estas abelhas tem sido em pequena escala, mas é imperiosa a organização dos envolvidos em Associações ou cooperativas, para evitar que pessoas desqualificadas perambulem pelas ruas ofertando mel de abelha de ASF a preços módicos, sem respeito as exigências de higiene e procedência, o que macula gravemente a atividade.

Como argumento de que a produção em pequena escala ajudará na geração de renda de pequenos agricultores (agricultura familiar), tem sido a tônica de muitos projetos de meliponicultura do Brasil, dentre eles o INPA, AMavida, Iraquara, Sebrae, Emater, entre outros, considerando que a dificuldade em vender ao consumidor final é devido a falta de conhecimento do produto, sendo que é relativamente fácil contornar esse óbice, se houver uma produção regular, e o mel for inserido em programa alimentares, de forma a gerar a cultura e o conhecimento desses nobres produtos.

Há de se combater energicamente os méis falsificadores, tanto de Apis como de Nativas, pois isso tem desacreditado o produto o que dificulta a aceitação perante o público.

Devido ao pequeno volume produzido o mercado ainda é muito limitado, mas como as dificuldades de manejo já estão sendo resolvidas em breve, com o melhoramento da oferta de floradas, haverá uma maior democratização e acesso a esses produtos.

Acreditamos que via associativismo será fácil controlar a ganância individual de produtores que agiam isolados, pois em grupo com cursos de capacitação e a vigilância coletiva, se viabilizará o controle do processo, sendo que algumas espécies de ASF produzem méis que podem chegar a R$ 100,00 o quilo, mas é vendido em gramas, sendo que a maioria das espécies de abelha nativas, só toleram que seja retirado de cada vez, uma quantidade que não comprometa o consumo de mel do enxame, exigindo um manejo mais criterioso.

Como não há relato de doenças conhecidas em ASF, não se requer o uso de substancias químicas, o que poderia comprometer a qualidade do mel, que até então seria orgânico, agregando valor ao produto.

Segundo estudos científicos, para evitar ameaça às espécies nativas que se encontrem isoladas geograficamente de outras da mesma espécie, que sejam criadas numa mesma área de alcance de vôo, quantidades o suficiente para que não haja endogamia, viabilizando a variabilidade genética do plantel.

Isso não era preocupação para as ASF que habitam as nossas matas preservadas, pois a permuta gênica ocorre de forma natural. Mas pela situação vulnerável em que as matas se encontram hoje, formando ilhas distantes, favorecendo a endogamia de muitos animais, inclusive das ASF, que poderão desaparecer da natureza, a meliponicultura é uma solução para esse problema.

Nas Matas ocorrem uma interação muito forte entre plantas e animais. A dispersão das sementes e polinização da maioria das plantas são serviços realizados por animais (aves, mamíferos e insetos). Algumas espécies de abelhas silvestres são polinizadores específicos de certas árvores e o declínio ou extinção destes insetos representa a fim para estas árvores e conseqüentemente pode causar um colapso em todo o ecossistema, por isso que os governos e a população devem fomentar a meliponicultura.

EDITORIAL
Abena

Um comentário:

  1. Caro José Winckler,
    Por considerar o Germano Woehl como um dos meus mestres e ter por ele grande admiração, postei o seu artigo sobre a ameaça da meliponicultura para as colmeias da natureza, entretanto depois que você comentou em meu blog a sua visão, decidi incluir em anexo ao artigo do Germano o seu e deixar para os meus leitores a oportunidade de conhecer as distintas visões dessa cultura podendo assim, refletir melhor sobre ambas.
    Aproveito para esclarecer que o meu maior objetivo é propagar temas que visem a proteção da biodiversidade.
    Obrigada,
    Teresinha Victorino

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