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terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Uma espécie de abelha sem ferrão, com futuro.

Amigos da AME-RIO,


Há algum tempo, eu convidei o Prof. Adalberto Aguilar y Coronado para ser um dos colaboradores de nosso blog. Vocês devem se lembrar dele, é o autor da matéria sobre a Divisão de colônias de Melipona beechei e também forneceu material para a postagem que fiz sobre os Meliponários maias.
Bem, o Prof. Adalberto resolveu aceitar o meu convite, mas me afirmou estar sem tempo de aprender a formatar as postagens no Blogger. E também expressou seu desejo que suas matérias fossem traduzidas para o português. Quer dizer, sobrou para o marmitão aqui.
Mas tudo bem, traduzir as matérias do Prof. Adalberto, mais do que um trabalho, é um prazer. E é uma forma de aprender um pouco mais sobre meliponicultura.
Hoje ele nos brindou com uma matéria sobre uma outra abelha mexicana, não tão conhecida quanto a Melipona beecheii ou quanto a Scaptotrigona mexicana. Os habitantes da região de onde essa abelha é natural, a chamam de "Ts'ets".
Para nós, sul americanos, provavelmente é uma abelha totalmente desconhecida, na verdade o Prof. Adalberto diz que ela é desconhecida até para os pesquisadores mexicanos. Essa abelha é originária das matas localizadas na parte alta das montanhas ao sul de Yucatán, que vem sendo derrubadas para a implantação de lavouras ou da criação de gado. Então está se tornando difícil encontrá-las na natureza e os pesquisadores tem poucas oportunidades para estudá-las.
Ele diz até que os pesquisadores já solicitaram algumas colônias suas, para pesquisa, mas que ele não pode fornecer por ainda não as ter em quantidade suficiente para isso, principalmente porque, quase sempre, as abelhas que são encaminhadas para pesquisas acabam perecendo.
Bem mas eu já me estendi demais, vamos à matéria do Prof. Adalberto. Vamos conhecer a “Ts’ets”.
Antes, vamos conhecer nosso correspondente yucateco e parte do meliponário "NOJ YUUM KAAB".
Prof. Adalberto e sua esposa.
Mestre Cappas e a Dra. Margarita Medina Camacho, 
especializada em Scaptotrigona mexicana,
em visita ao Prof. Adalberto. 
Uga,
José Halley Winckler

Melipona yucatanica. Uma espécie de abelha sem ferrão, com futuro.
Adalberto Aguilar y Coronado.
Meliponário "Noj Yumm Kaab", Valladolid, Yucatán - México


Nas áreas de selva remanescente localizadas na região de fronteira dos estados de Yucatán, Campeche e Quintana Roo, no México, ocorre a abelha Melipona yucatanica, conhecida pelos habitantes dessas regiões como "Ts'ets". No entanto, pouco se sabe sobre sua biologia e seus hábitos de nidificação, pois não é explorada domèsticamente como a abelhas Melipona beecheii (Ko'olel cab - Xunaan Kaab). Em dezembro de 2001, o Dr. Jorge A. González Acereto me presenteou com uma colônia desta espécie, produto de uma divisão efetuada, que foi alojada por ele em uma colméia racional e que integrei ao o meliponário "Noj Yuum Kaab" de minha propriedade, onde trabalho com as abelhas sem ferrão Melipona beecheii (Ko'olel cab) Scaptrotrigona pectoralis (Kantsak), Trigona nigra (Sak Xic) e Nannotrigona perilampoides (Yaax ich), para observar a sua adaptação ao clima e à flora desta região de Valladolid, uma cidade situada cerca de 180 quilômetros de seu local de origem .


Esta abelha é caracterizada por ser menor do que o Melipona beecheii (Ko'olel cab), possuir uma entrada bastante reduzida que só permite a presença de uma guardiã, ao contrário da Melipona beecheii, em cuja entrada cabem até três abelhas guardiãs, o que ajuda no controle de pragas e na proteção aos ataques de outras espécies de abelhas. Seus discos de cria são horizontais e o invólucro é muito fino, essa abelha coleta uma grande quantidade de barro para as suas estruturas. Seus ninhos ficam sempre cobertos pelo invólucro os envolvem, diferente da Melipona beecheii que em época muito quente não se observa a presença do invólucro. A população de cada colônia é pequena, é estimada em cerca de 300-350 abelhas, muito trabalhadora e um tanto belicosa, quando se abre o ninho para revisões. Ela defende o seu ninho mordendo as pálpebras do e se enredando nos cabelo das pessoas, emitindo um zumbido característico. São miméticas a Melipona beecheii, mas muito bonitas e trabalhadoras. É de se admirar a quantidade de mel que armazenam na temporada.


Quando as colônias são fortes, é necessário, por comodidade, usar um véu de tule ao trabalhar com elas, pois elas são muito "revoltosas", girando em torno da gente e emitindo um zumbido muito peculiar.


Durante o espaço de um ano eu observei sua adaptação, tanto à colméia racional onde eu estava alojada, como ao nosso meio ambiente, a sua convivência com outras espécies de abelhas existentes no meliponário, o desenvolvimento do ninho, a coleta de néctar e pólen, conheci as suas rainhas virgens e fisiogástricas, etc, tudo de forma satisfatória. Antes disso efetuei uma divisão com êxito. Um ano depois, das duas colônias obtive outras duas, totalizando quatro e no ano seguinte, das quatro, obtive mais três. De uma colônia de Melipona yucatanica obtive outras seis no lapso de três anos. No ano de 2006, eu não efetuei nenhuma divisão porque devido aos efeitos de dois furacões que atingiram o estado em 2005, as colônias se estressaram e preferi não tocá-las. Em 2007 me dediquei inteiramente à criação e a reprodução de Melipona beecheii não tendo feito qualquer divisão do M. yucatanica. Cabe mencionar que nesse tempo eu perdi uma colônia desta espécie, estando atualmente com seis colônias.


Felizmente, na cidade de Valladolid e arredores ainda há muitas árvores da flora nativa e nos solares vizinhos, os seus proprietários ainda mantém o costume de plantar árvores frutíferas nativas da região ou introduzidas.
Isso, creio eu, tem influenciado na adaptação dessa espécie de abelhas sem ferrão, não devemos esquecer que elas vem da selva ou da "alta montanha", como dizemos por aqui.


Durante estes anos, se adaptou bem ao clima de Valladolid, pois na primavera e no verão visita as florações desta região de Yucatán, para coletar e transporta o néctar e pólen para suas colméias sem qualquer problema.


A qualidade do seu mel e sua atividade polinizadora tornam interessante trabalhar com elas pois podem representar algo que nos ofereça um bom retorno financeiro no futuro, apesar da dificuldade de obter os seus ninhos, restritos as matas do sul de Yucatán. Além disso, com sua reprodução estaremos ajudando essa abelha tão útil para a vida na Terra, pois não devemos esquecer que as abelhas sem ferrão estão seriamente ameaçadas em sua existência, pelo desmatamento excessivo e irracional que sofre nosso estado e país.


Atualmente, a sociedade começa a demandar produtos alimentícios naturais e o mel e o pólen dessas abelhas são produtos que podem nos oferecer um bom resultado.

Imagens de Melipona yucatanica. 
Meliponário “Noj Yuum Kaab” Valladolid, Yucatán.
Abelha guardiã, na entrada característica do ninho.
Rainha fisiogástrica  jovem

Rainha velha de M. yucatanica
Abelhas operárias, com sua carga de pólem.
Os discos de cria da M. yucatanica são cobertos por um invólucro bastante fino.
Ninhos com potes de mel em uma colméia racional.
Rainha virgem de M. yucatanica
Excelente adaptação em colméia racional
Abelhas operárias de M yucatanica sobre um disco de cria 
Divisão de M. yucatanica em pleno desenvolvimento.

Um comentário:

  1. Alá Amigo Winckler...,

    ótima postagem,realmente é muito interessante conhecer novas espécies da abelhas...

    Parabéns ao professor Adalberto, parabéns à você pelo resultado....

    Abraço.
    Paulo Romero.

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