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segunda-feira, 14 de abril de 2014

DIA DA TERRA - 22 de ABRIL



A Terra tem um dia especialmente dedicado a sua comemoração. A árvore, a ecologia, o meio ambiente, a floresta, a abelha também tem seus dias.
Dias comemorativos são bem intensionados, mas alguns homenageados deveriam ser lembrados e respeitados durante toda a vida, e não só nos seus dias comemorativos. 
Assim como as Mães e os Pais, que deveriam ser sempre honrados, mas muitas vezes não o são, será que a raça humana não vem destratando e agredindo diariamente a nossa Mãe Terra?


 Não temos o costume de tratar bem nossa Mãe Terra. Realmente muita coisa mudou ao longo da evolução do homem. Da revolução industrial até hoje, por exemplo, já tivemos uma boa melhora. Naquela época somente o crescimento da produção industrial tinha uma evidente importância nos conceitos científicos, educacionais e até morais da época, pois até os próprios seres humanos eram submetidos às vontades gananciosas das “forças produtivas”. A mão de obra era "escravizada" em função da produção. Imaginem então como o Planeta Terra era tratado !!


Hoje temos Leis trabalhistas que regram e limitam a ação do "setor produtivo” sobre os indivíduos.

E em relação à Mãe Terra..., a percepção de que vivemos dentro de uma caixa fechada e azul chamada Terra vem aumentando..., e consequentemente a população, de um modo geral, cobra que a ainda impiedosa “máquina produtiva” tente se adequar a este espaço limitado e comumente compartilhado chamado Planeta Terra.


Começamos a tomar consciência, como terráqueos, que a Mãe Terra precisa estar em uma condição de bem-estar para podermos sobreviver com qualidade. Mas estes conceitos estão ainda muito incipiente entre a humanidade.




Em relação a economia mundial, por exemplo, que gera e mantêm a subsistência de cada lar moderno, há uma busca pela alteração dos conceitos produtivos, migrando-se gradualmente de uma Economia Global para um conceito mais moderno de Economia Verde (Global).

“Economia Verde é uma expressão de significados e implicações ainda controversos, relacionada ao conceito mais abrangente de Desenvolvimento Sustentável, consagrado pelo Relatório Brundtland, de 1987, e assumido oficialmente pela comunidade internacional na Rio-92, gradualmente tomando o lugar do termo “ecodesenvolvimento” nos debates, discursos e formulação de políticas envolvendo ambiente e desenvolvimento.”


“A ideia central da Economia Verde é que o conjunto de processos produtivos da sociedade e as transações deles decorrentes contribuam cada vez mais para o Desenvolvimento Sustentável, tanto em seus aspectos Sociais quanto Ambientais.”


Traduzindo em miúdos: A Terra é um espaço limitado, com ar, água, minerais e demais recursos limitados, mas a população cresce em uma escala geometrica, porém ainda não se deram conta e querem gastar os recursos naturais como gastavam nossos avós, bisavós ... Mas não há mais recursos disponíveis para sustentar aquele modo de vida, principalmente porque também temos que compartilhar estes mesmos recursos com os outros seres que habitam o planeta, e dos quais também dependemos, pois estamos todos interligados pela Mãe Terra.
Assim o moderno conceito de Economia Global tem que passar a contar que o ser humano não vive sozinho no Planeta e que o planeta não tem recursos infinitos.


Para que a vida seja possível e aprazível para as próximas gerações humanas seria essencial que, além das tecnologias produtivas adequadas, fossem criados meios pelos quais fatores essenciais ligados à sustentabilidade socioambiental, hoje totalmente ignorados nas análises e decisões econômicas, passassem a ser considerados por políticos, e principalmente pelos grandes conglomerados industriais, como um fator crítico.



Vou abrir um parênteses nesta prosa, e apresentar uma historinha muito interessante que eu li há pouco tempo no Blog “Tudo sobre Plantas”.




Em 1927, um explorador chamado David Fairchild andando pela África, foi apresentado a algumas bagas vermelhas que não apresentavam sabor entusiasmante. Em seguida lhe ofereceram uma cerveja para saciar a sede e veio a surpresa: a cerveja ao chegar a língua ficou adocicada.

Era a magia da miraculina, a fruta proibida e milagrosa originária dos Camarões. Nome científico “Synsepalum dulcificum”. Mastigada sem engolir, ela tem a propriedade de adoçar o que em seguida a pessoa colocar na boca, quer seja azedo ou amargo.
O ingrediente ativo da fruta é uma glicoproteína chamada miraculina. A molécula de miraculina age como uma chave para o cadeado das papilas gustativas.
Empreendedores perceberam o potencial dessa alternativa saudável ao açúcar, até que na década de 1960 um jovem biomédico visionário chamado Bob Harvey conseguiu o milagre que poderia mudar o mundo da alimentação.
Na época com 35 anos, descobriu um modo de tornar a miraculina disponível em forma de pílulas. Nos cinco anos seguintes levantou verba de investidores e desenvolveu uma linha de produtos isentos de açúcar, como refrigerantes, coberturas para saladas e “drops” da fruta milagrosa. Seus picolés eram cobertos de miraculina, de modo que as primeiras lambidas preparavam a língua para o sorvete sem açucar de dentro. Em testes nas escolas, esses picolés se revelaram mais populares entre as crianças do que os adoçados com açúcar.
A fruta milagrosa estava pronta para fazer carreira. No entanto, as corporações mastodontes da indústria do açúcar, ciclamatos, aspartame, sacarinas e outras drogas artificiais estavam teimosamente determinadas a acabar com ela. Em 19 de setembro de 1974 a FDA (Food and Drug Administration, órgão governamental dos Estados Unidos que faz o controle dos alimentos) proibiu a miraculina, determinando que uma solicitação de aditivo alimentar teria de ser preenchida, exigindo anos e milhares de dólares em testes adicionais. Imediatamente, sob a pena da lei, Bob Harvey fechou a empresa e o que era doce se acabou.



Depois desta historinha, voltemos a nossa prosa sobre o Dia da Terra e o doce conceito de Economia Verde.

Para não acharem que estou muito fora do nosso tema principal que são as abelhas nativas, vale lembrar o quanto a presença dessas abelhas no entorno de uma lavoura altera a qualidade e o volume da polinização, e conseqüentemente o lucro do agricultor. 
Existem várias postagens aqui mesmo na página da AME-RIO sobre a importância delas no ecossistema, para a sustentabilidade e manutenção das florestas e sua fauna. As Abelhas Sem Ferrão já eram criadas sistematicamente pelos índios na América do Sul e pelos Maias na América Central como abelhas domésticas. Eram fonte da alimentação, cura e até religião. 


Mas então o que há de errado com a Economia Verde? 


Com a Economia Verde não há nada de errado, desde que o propósito não seja surdinamente manipulado, pintando-se de verde o que é negro. 
Atualmente há uma perigosa tendência de transformar o conceito de Economia Verde em um eufemismo que esconde um esquema ardiloso para justificar a aplicação de leis e regras do capitalismo, mas só a a parte dessas regras que beneficiam a algumas megalo-empresas. A outra parte das regras que beneficia o Social e o Ambiental levam a eternidade para serem implementadas.


Não há nada de errado com o capitalismo desde que não seja manipulado por mentes egoístas, sem nenhuma empatia e humanidade. A historinha da miraculina é uma dentre diversas outras, que poderiam ser dadas como exemplos do que pode ser chamado capitalismo vesgo.


Seja no capitalismo, socialismo, ou qualquer outra filosofia, quando alguns poucos querem tecer um esquema ardiloso, identificam problemas reais e graves (neste caso ambientais) e traçam objetivos nobres, para depois começar a urdir a teia do engano entre uma massa populacional, encarada como massa de manobra.


No caso da Economia Verde, a distorção do conceito parte da ideia inicial e sabida de que destruímos a natureza porque gastamos em excesso seus recursos. Depois o capitalismo vesgo estipula preços a benefícios oriundos de serviços típicos da natureza, tais como captação de CO2, polinização, produção de água, como se estes serviços pudessem ser vendidos isoladamente. Para concluir colocam estes serviços naturais em mercados criados para esse fim, chamados Bolsas Verdes. 
Assim, uma empresa mastodonte pode deixar de cumprir metas ambientais em um canto do planeta, e comprar na bolsa verde créditos de natureza gerados em outra parte do planeta. 
Muito cômodo, não acham ? Mas esta comodidade é para poucos, pois o acesso a esse mercado é bem difícil.   


E o pedaço ou serviço da natureza que ainda não tiver regras para ser controlado e vendido na Bolsa Verde? 
Aí temos o exemplo da miraculina originária dos Camarões, ou de diversos outros fitoterápicos, das abelhas nativas e seus produtos, e tantas outras riquezas disponibilizadas pela natureza, que aqui no Brasil sempre foram encaradas como domésticas ou caseiras, e eram livremente trocadas e comercializadas, e estão sendo ardiosamente proibidos por Leis sem cunho social. 
E se a Lei não for suficiente para proteger o futuro mercado destes serviços ainda não regulamentados, criam-se mecanismos de marketing para convencer a população que este ou aquele produto faz muito mal !!!
Porque a máquina do marketing não é usada para ensinar o correto uso do fito-fármaco? Ou porque os fito-fármacos não são maciçamente receitados por médicos do SUS ?
Ou no caso das abelhas sem ferrão, porque os livros didáticos não são corrijidos, para que as crianças saibam que abelha apis são exóticas, e quem poliniza floresta são as abelhas brasileiras sem ferrão? E que nossas abelhas não ferroam .... e que produzem um natumel funcional !


Os controladores da Economia, Global ou Verde, avançam cada vez mais na mercantilização da Natureza, atribuindo aos serviços naturais um valor econômico meramente mercantil. 
Atribuem um preço e colocam no mercado conforme a capacidade de serem dominados e explorados maciçamente. 
Esta é a sensação que o pequeno proprietário de "verde" tem. A maioria dos pequenos proprietários não conseguem gerar renda a partir de seu pequeno pedaço de verde ...
Não há informação fácil e disponível para o pequeno proprietário aprender a vender seus servços ambientais nas tais Bolsas Verdes !!


Querem dar preço à capacidade de um sistema natural reciclar carbono assim como querem privatizar a capacidade dos insetos de polinizarem as colheitas, chegando a estimar o preço da polinização por insetos na Amazónia em 190 biliões de dólares. Mas estes produtos só tem valor comercial quando manipulados por grandes corporações.




Na China o problema da polinização já chega ao nível de calamidade pública. Não há polinizadores naquele mar de poluição, que lembra a época da revolução industrial na Inglaterra. 
O Brasil tem dentro de seus limites territoriais a Amazônia Verde, a Marinha brasileira já delimita uma área denominada Amazônia Azul, e o país não só é rico em ouro amarelo, como também em Ouro Azul: a água potável. 



Muitas verbas são disponibilizadas para pesquisas, e muito já se sabe sobre as abelhas nativas. 
Sabe-se que são imprescindíveis para a manutenção das florestas, cerrado, caatinga, araucárias, etc Pesquisa-se a ação polinizadora, as propriedades medicinais dos produtos melipônicos, sabe-se tanto, mas carece de ação.
Tal qual uma abelha com uma asa só, a pesquisa sem a ação não traz equilíbrio para se avançar.

Nossas abelhas nativas são capazes de realizar uma vibração abdominal inigualável durante o forrageamento. Esta característica valiosa a coloca em primeiro lugar em capacidade de polinização. 
A Uruçu Cinzenta é mencionada pela EMBRAPA Amazônia Oriental como uma abelha domesticada, e uma excelente e promissora ferramenta de polinização para agricultores. 



O pesquisador Cristiano Menezes é claro na capacidade dessa ferramenta, vejam o vídeo abaixo :


 
 

No entanto não devemos esquecer da dificuldade que todo meliponicultor passa. 
A legislação é extremamente restritiva, não permite uma criação com fins comerciais, não permite o translado de abelhas nativas, nem o comércio de seus produtos.
Pelas regras atuais, a utilização da Uruçu cinzenta como polinizadora na agricultura é um objetivo muito remoto, a legislação não permite a migração de abelhas nativas dentro do território nacional. 
Mas devido ao crescente interesse, não será surpresa que esta migração venha a ser liberada, lógico que com uma legislação específica que criará tantas exigências técnicas e estudos de viabilidade, que só as megalo-empresas poderão bancar este ferramenta. 
E coitado daquele matuto que tiver um enxame fora da região que os legisladores achem que seja a origem típica de determinada abelha nativa.


  Falando em origem da abelha brasileira, deve-se salientar que assim como os índios, as abelhas nativas foram sendo expulsas e empurradas com a pressão da civilização moderna.
Hoje é impossível a ciência provar com A + B que esta ou aquela espécie de abelha nativa nunca existiu aqui ou ali.
Mas quiçá um dia venham a ser reconhecidas no Brasil e até legalmente exportadas !!! Temos que ter esperança ....


Os Meliponicultores sabem muito bem o valor das abelhas brasileiras.

Não se pode considerar a meliponicultura um simples hobby ou uma atividade econômica na esteira da importada apicultura.

As Abelhas Nativas vão além disso tudo, são uma engrenagem importante na estabilidade de diversos ecossistemas da Mãe Terra ao longo dos trópicos de Câncer e de Capricórnio, e consequentemente a meliponicultura pode ser considerada como uma atividade de valor global, ainda não totalmente aquilatada pela Economia Verde.


Portanto no Dia da TERRA, NÃO vamos celebrar a estupidez de alguns humanos...


A estupidez das mastodontes multinacionais.

NÃO vamos celebrar a estupidez do povo egoísta...

Tão pouco a celebrar nossa desunião !!

NÃO vamos comemorar como idiotas o DIA da TERRA !

A ganância e a difamação ! E toda a hipocrisia como se a meliponicultura não tivesse importância ... 

Nosso “pequeno” universo melipônico não é ilusão !!

O DIA da TERRA tem que ser celebrado não com esperanças e perspectivas de mudança para um futuro longínquo, mas com a certeza de que temos nas mãos uma das soluções mais viáveis para recuperar o equilíbrio de muitos ecossistemas: as Abelhas Sem Ferrão.

O DIA da TERRA tem que ser celebrado plantando-se sementes, não só de árvores, mas também de conhecimento e Fé de que hoje já estamos mudando o futuro, quando apresentamos às crianças nossas pepitas de ouro com asas !


Plante esta semente também e feliz DIA DA TERRA !!!
MEDINA

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