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sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

COMBATENDO A CONDENSAÇÃO INTERNA, EM CAIXAS DE ABELHAS NATIVAS

Nesta matéria vou falar um pouco sobre o efeito da condensação que ocorre dentro das caixas de abelhas nativas quando submetidas a certas condições. Para começar o ideal é explicar um pouco sobre o fenômeno, e porque ocorre dentro das caixas das abelhas nativas.

A condensação é um processo pelo qual uma substância passa do estado gasoso ao estado líquido. Na natureza o processo dá origem às chuvas e ao orvalho. O orvalho, por exemplo, é o resultado da condensação de vapores d'água  presentes no ar, quando entram em contato com superfícies com temperatura mais baixa (abaixo do ponto de orvalho).



Aquelas gotículas que vemos pela manhã em objetos, nas gramas, folha, pétalas, mesmo quando não tenha ocorrido alguma chuva na madrugada, são na verdade deposição de orvalho, e não precipitação. Um exemplo muito bom para não só entender, mas também para ter uma boa ideia de suas variações, é um copo de água com gelo dentro. Se o copo estiver em um ambiente seco a formação de gotículas na superfície do copo será muito pequena. No entanto, se este mesmo copo estiver em um ambiente com um grau de umidade maior, ou mesmo se respiramos próximo ao copo, facilmente se notará a formação das gotículas !!


No inverno, época em que a umidade costuma aumentar, e a temperatura tende a baixar com mais intensidade, é mais comum notar a formação do orvalho na paisagem campestre.

Fenômeno semelhante ocorre dentro das caixas das abelhas nativas. Após a chegada do néctar dentro do enxame, algumas abelhas trabalham para retirar o excesso de umidade em formação dentro do pote de mel. Normalmente o interior de uma caixa de abelha tem um grau de umidade maior devido a este processo de preparo e conservação do mel.


Mas alguns cenários propiciam condições mais favoráveis para que ocorra este fenômeno dentro da enxame, o que em excesso pode vir a causar desequilíbrio no clima interno da caixa acarretando problemas.

Quando a condensação interna é muito grande, uma equipe de abelhas passa a recolher o excesso sobre as paredes, potes, lamelas e levam até a entrada, despejando para fora. 
Eu posso afirmar, pois já presenciei, que nas abelhas mandaçaias o volume máximo que cada abelha consegue jogar fora por viagem é de 3 gotas no máximo!!!
 
Imaginem o trabalho que dá para elas ficarem sugando as micro gotas uma a uma, por dentro do ninho, até completarem 3 gotas em seus abdomens! Já experimentaram secar um chão lotado de água com um único pano de chão? Têm ideia da quantidade de vai e volta ao tanque, para torcer?! Pois é ... elas devem ficar com o mesmo sentimento que você quando percebem que têm que fazer esse trabalho todo!!
E, por outro lado, quanto trabalho que deixou de ser feito por esta equipe de abelhas dedicadas!?



Outro problema é o tempo em que os elementos do ninho ficam expostos a este excessivo grau de umidade. Como sabemos a equação: UMIDADE + CALOR = FUNGOS.


Dentro do ninho com certeza existem fungos, mas quando o equilíbrio temperatura x umidade fica comprometido é uma porta aberta para uma super produção descontrolada de fungos, que podem influenciar na saúde do enxame como um todo!! Então não é uma situação que pode ocorrer ou perdurar por muito tempo, pois é arriscado!

Costumamos utilizar acetato em todas as tampas das caixas da AME-RIO nos parques, como também nas portas das caixas verticais. Usamos o acetato para evitar que tampas e portas sejam geopropolizadas pelas abelhas e fiquem lacradas. 
Este material não permite a respiração da caixa, o que acelera a formação de condensação na superfície interna dos acetatos no inverno. Especificamente no Parque Nacional da Tijuca, ambiente de floresta tropical densa, esta condensação ocorre praticamente todas as noites. Pois o ambiente é muito úmido e quente durante o dia e à noite esfria muito rapidamente. Todas as noites as caixas ficam em um vrum vrum forte gerado pelas abelhas em trabalho para manterem o calor interno, e a caixa esfria muito, consequentemente pela manhã muita condensação na superfície interna do acetato da tampa.
No último inverno a saúde das caixas dessas abelhas da floresta da tijuca foi mantida graças a uma rotina de secagem com pano de algodão da parte interna da tampa, no momento da colocação da alimentação de inverno.

Problema semelhante ocorre com as caixas pintadas ou envernizadas, pois a madeira tem um limite de capacidade de absorção de água, e estando revestida de tinta por fora, perdem a propriedade de respiração com o meio externo, que poderia ajudar na eliminação do excesso de umidade interna da caixa.

Não é incomum encontrar áreas internas de caixas, instaladas na Floresta da Tijuca, com enxames mais fracos, que estejam com uma proliferação mais acentuada de fungo em suas paredes internas. Isso não ocorre em enxames mais fortes, pois devem existir indivíduos suficientes para o trabalho extra de secar a caixa!! Já ouvi associados de Petrópolis e de Friburgo relatarem a mesma infestação de fungo em algumas de suas caixas!!

O excesso de umidade no interior da caixa combinado com a queda repentina de temperatura além de provocar a condensação interna sobre todos os componentes do ninho e da caixa, também contribui para a tal sensação térmica tão propagada pela Maju em suas previsões meteorológicas. Um grau de umidade muito grande no interior da caixa ajuda a dissipar cargas térmicas com mais rapidez, e um frio de 10ºC com alto grau de umidade é muito mais sentido e prejudicial, do que um frio 10ºC com baixa umidade. Assim para uma mesma temperatura, as células de um ninho na Floresta da Tijuca, Petrópolis e redondezas serão muito mais prejudicadas do que em uma mesma temperatura no cerrado do Brasil. A solicitação de trabalho para obter mais calor sobre o ninho será muito maior!

Não podemos nos esquecer que forídeos que adoram ambientes com alto grau de umidade e detestam lugares quentes e secos. Assim, uma caixa com este problema de descontrole de umidade interna, ao receber o calor do dia recupera sua temperatura rapidamente, porém como apresenta a umidade não retirada pelas extenuadas abelhas, forma paraíso para invasão dos forídeos!

Como podem notar, descontrole de umidade interna, condensação, alterações bruscas de temperatura são um prato cheio para diversos descontroles, especialmente se o enxame estiver fraco.  

Bem .... chega de problemas! Pesquisei e descobri que as abelhas apis melíferas europeias passam pelo mesmo problema, afinal lá também são submetidas a alterações de temperatura muito drásticas, e também produzem condensação interna. E os apicultores de lá já resolveram o problema.

Aqui no Brasil, muitos meliponicultores utilizam o porãozinho, e lá na Europa os apicultores desenvolveram o que eu vou batizar de Sótãozinho!! Olhem o resultado final em uma caixa de apis Melífera!



O Sotãozinho é uma alça mais baixa que fica no topo da caixa e sob a tampa. Vejam a montagem abaixo:
Inicia a construção com uma alça mais baixa, tal qual um porãozinho


A alça é provida com janelas laterais de circulação de ar.



Que por sua vez são protegidos por uma tela.



O fundo recebe um tecido de algodão, que no nosso caso pode ser combinada com uma tela tipo sombrite, para desencorajar abelhas roedoras, como as uruçus.   



Virando a montagem, temos a alça com um fundo, sobre o qual deve ser colocado um material ou substância capaz de absorver o excesso de umidade. 
No caso  das nossas abelhas nativas que adoram geopropolizar qualquer brecha, eu ainda colocaria uma borda fina de acetato somente entre a base do novo sotãozinho e a parede da melgueira, como um "paspatur", a fim de evitar que geopropolizem diretamente o tecido inferior do sótãozinho e a borda da melgueira. 



Na Europa é utilizado como material de absorção do excesso de umidade a serragem, que deve ser sem cheiro forte.
Podemos tentar substituir por vermiculita, não sei se faria efeito.



Bem, a nossa caixa cabocla de abelha nativa passaria a ter Porãozinho e Sótãozinho!!!
Olhem que máximo!! Mais luxuoso que o "Minha Caixa Minha Vida"

Bem, eu não sei se esta proposta seria uma solução adequada para nossas abelhas, eu vou convocar nosso habilidoso Presidente Carlos Ivan, para construir uns protótipos para serem testados no próximo inverno nas caixas do parque PNT, que sempre sofrem com este grave problema.

Medina 

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